Por Luiz Padilha
Esta é a última parte de nossa entrevista com o Almirante de Esquadra Luiz Henrique Caroli, Diretor Geral do Material da Marinha, e nela abordaremos o tópico, Aviação Naval. Os editores do DAN, desde já agradecem ao AE Caroli, e a toda sua equipe, pela possibilidade de realizarmos esta entrevista, a qual certamente tirou muitas dúvidas de nossos leitores. Desejamos sucesso total à esta Diretoria e colocamos o DAN à sua disposição para continuar divulgando a nossa Marinha do Brasil.
Aviação Naval
DAN – A Aviação Naval passa por um momento de renovação dos seus meios, onde temos os Esquadrões HS-1 e HU-2 operando com modernas aeronaves e o HA-1 em breve recebendo as aeronaves AH-11B Super Lynx modernizadas na Inglaterra. Em contra partida, o HI-1 e o HU-1 continuam necessitando de novas aeronaves para substituírem seus antigos IH-6B Bell Jet Ranger III e os Esquilos UH-12 e UH-13, mono e bi-turbina respectivamente, que contam com idades muito avançadas, necessitando de constantes e caras manutenções, que proporcionam a baixa disponibilidade para cumprirem suas missões. Qual o status atual do processo de substituição destas aeronaves?
AE Caroli – O Projeto de Obtenção de Helicópteros de Instrução (IH), que visa substituir a frota de aeronaves IH-6B “Bell Jet Ranger III” do Esquadrão HI-1 por novas aeronaves, além de um novo simulador de voo, teve seu Estudo de Exequibilidade e requisitos operacionais ou, segundo a denominação da Marinha, Requisitos de Alto Nível de Sistemas (RANS) revisados em 2017, com base nas propostas técnicas e comerciais recebidas no final de 2016, estando na expectativa de espaço orçamentário para sua efetiva implementação no curto prazo.
No tocante ao Projeto de Obtenção de Helicópteros de Emprego Geral de Pequeno Porte (UHP), que tem como finalidade a substituição de toda a frota de aeronaves UH-12/13 da MB (Esquadrões HU-1, HU-3, HU-4 e HU-5) por novas aeronaves bimotor, também foram recebidas propostas em 2016 e seu Estudo de Exequibilidade está em revisão, para subsidiar possíveis alterações nos requisitos preliminares do projeto, de forma a torná-lo exequível no médio prazo, em função dos custos envolvidos.
DAN – Recentemente o DAN visitou a fábrica de dois pretensos concorrentes, a Airbus na Alemanha (H135 e H145) e a Leonardo Helicopters nos EUA (AW119). No nosso entendimento, com qualquer das duas os Esquadrões darão um salto enorme de qualidade, tanto na instrução de voo quanto no cumprimento das missões de emprego geral leve. Existem outros concorrentes para reaparelhar os Esquadrões HI-1 e HU-1?
AE Caroli – No Projeto IH foram analisadas as seguintes aeronaves: AW009 e AW119Kx “Koala” (Leonardo Helicopters); Bell 505 “Jet Ranger X” e Bell 407 GXP (Bell Helicopters); e H125 “Esquilo” (Helibras).
No Projeto UHP estão em estudo as seguintes aeronaves: AW109 “Trekker” (Leonardo Helicopters); Bell 429 (Bell Helicopters); além dos H135 e H145 (Airbus Helicopters – Helibras).
DAN – Do programa original de modernização das aeronaves de asa-fixa AF-1, o Esquadrão VF-1 recebeu 2 aeronaves modernizadas, a N-1001 e a N-1011, que infelizmente acabaram se envolvendo em um acidente, com perda total de uma delas e danos na outra. Na Embraer GPX, temos o primeiro biplace modernizado (N-1022) voando e a entrega de duas aeronaves programadas para este ano, sendo a AF-1C N-1023 (biplace) e a AF-1B N-1008 (monoplace). Esta informação procede? O que o senhor poderia nos falar sobre o futuro do programa de modernização dos caças da Marinha? Serão mantidas as mesmas quantidades (12 no total)? A MB pensa em enviar mais uma célula para substituir a N-1011, perdida no acidente de 2016?
AE Caroli – O novo cronograma de entregas, que está sendo negociado com a EMBRAER, prevê a modernização de sete aeronaves, incluindo neste número as duas já recebidas, N-1001 e N-1011, esta última lamentavelmente perdida no acidente de 2016. A MB operará, portanto, seis aeronaves modernizadas, três monoplace e três biplace. Quanto à previsão de recebimento das próximas aeronaves, de fato a N-1022, primeira biplace modernizada, será recebida até o final deste ano; as duas monoplace restantes N-1008 e N-1013, em 2018 e as biplace N-1021 e N-1023, em 2019 e 2020, respectivamente.
É importante registrar que o programa de modernização das aeronaves de interceptação e ataque da Marinha continua em andamento, sem qualquer descontinuidade. A redução do objeto do contrato buscou adequar o número final dessas aeronaves ao novo cenário vivenciado pela Força, após a desmobilização do NAe São Paulo, sendo sua quantidade suficiente para manter as competências essenciais adquiridas desde a retomada da aviação naval de asa fixa.
DAN – Qual a atual situação do AF-1B N-1001, ele vai ser reparado? No caso de ser possível, onde será realizado e qual o prazo para retorno ao VF-1?
AE Caroli – A aeronave será reparada pela EMBRAER. O contrato entre o Setor Operativo e a Empresa encontra-se em fase final de negociação, com a previsão de que os reparos sejam realizados nas dependências do EsqdVF-1, em São Pedro da Aldeia. A EMBRAER apresentou prazo para a conclusão dos serviços de, aproximadamente, seis meses após a assinatura do contrato.
DAN – A aquisição de helicópteros bimotores para serem empregados na OPERANTAR está em andamento ou foi paralisada? Quais as opções que a MB está analisando?
AE Caroli – A demanda de helicópteros para apoio às OPERANTAR exige uma solução em prazo mais curto do que poderia ser atendido pelo Projeto UHP. Por este motivo, a MB estuda a obtenção de um número limitado de aeronaves, não necessariamente dos mesmos modelos considerados para aquele Projeto, que permitisse a substituição, em curto prazo, dos UH-13 que participam anualmente das OPERANTAR. Para tal, a Marinha está analisando a possibilidade de aquisição de aeronaves usadas (por oportunidade) e/ou novas. Quanto a aeronaves usadas, foram recebidas propostas de helicópteros AW109E “Power”, anteriormente operados pela Guarda Costeira Norte-Americana (proposta da Leonardo Helicopters), como também de helicópteros EC135 P2 e EC145 C2, empregados atualmente no ramo do Offshore (proposta da Helibras). Para aeronaves novas estão sendo consideradas as mesmas do Projeto UHP, porém com uma configuração de equipamentos diferenciada.
Adicionalmente, está em estudo a relação custo x benefício de modelos alternativos de negócio, como possível arrendamento operacional, tipo “leasing”, de forma temporária, enquanto não há recursos para a execução do Projeto UHP.
DAN – Com a desmobilização do NAe São Paulo, como ficou o programa COD? No caso da sua continuidade, qual é o cronograma atualizado de entrega das aeronaves e quando seria o primeiro voo?
AE Caroli – A MB mantém, entre outros Projetos Estratégicos, o Programa de Obtenção de Navios Aeródromos (PRONAE), que prevê a construção/aquisição de um Navio Aeródromo (NAe) e sua respectiva ala aérea, atualmente a terceira prioridade da Força, atrás dos Programas de Obtenção de Submarinos e das Corvetas Classe Tamandaré. À semelhança do que foi comentado a respeito da modernização dos AF-1, a preservação do programa de obtenção dos KC-2 (COD) permanece relevante, mesmo sem a disponibilidade do NAe São Paulo, de modo a preservar as competências essenciais associadas à operação de aviação de asa fixa embarcada, as quais, se perdidas, iriam requerer um esforço muito mais oneroso e demorado para retomar essa capacidade quando da aquisição do futuro NAe.
O programa do COD prevê o recebimento de quatro aeronaves, com o primeiro voo ocorrendo em 2019 e a entrega de todas as quatro, no Brasil, em 2021. Cabe ressaltar que, devido à sua versatilidade, os KC-2 terão capacidade de ser empregados em missões de apoio logístico, reabastecimento em voo de outras aeronaves, operações de esclarecimento e de Socorro (SAR), entre outras.
DAN – Durante a modernização das aeronaves Super Lynx para o padrão “BRAVO”, foram mantidos os preseter do míssil Sea Skua. Tendo em vista que se espera operá-las por pelo menos mais 15 anos, porque a MB já não inclui no programa em curso e atualiza o sistema de armas para o míssil Sea Venom/ANL, que é o sucessor natural do Sea Skua, já integrado ao modelo Super Lynx e testado nos Lynx Mk8, antes destes darem baixa da Royal Navy? A Marinha pensa em outro míssil para o Super Lynx?
AE Caroli – A Marinha está conduzindo estudos, com a participação de representantes dos Setores do Material e Operativo, para definir que míssil ar-superfície (MAS) equipará as aeronaves AH-11B e tem previsão de conclusão até o primeiro semestre de 2018. A intenção é de que tal definição ocorra ainda durante a execução do programa de modernização, de modo a se efetuar, a custos mais reduzidos, a integração do novo sistema de armas nos últimos SuperLynx a serem modernizados e conduzir o retrofit nos primeiros. Não há, ainda, definição de que sistema de mísseis substituirá os SeaSkua.
DAN – Com relação à aeronave AH-15B Super Cougar (H225M Naval), como está o estágio atual do programa? Qual a previsão de entrega da primeira aeronave? Serão conduzidos testes de lançamento do Exocet antes da sua aceitação pela MB? Quem irá conduzir este lançamento?
AE Caroli – A aeronave Super Cougar AH-15B encontra-se na fase de ensaios para certificação e integração do sistema de lançamento do míssil (Exocet AM-39) e de todas as funcionalidades do console do NTDMS (Naval Tatical Data Management System). A entrega do primeiro AH-15B está prevista para abril de 2018. O plano de certificação foi submetido pelo Consórcio Airbus/Helibras ao Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), da Aeronáutica, e encontra-se sob análise daquele Instituto. Fruto desta análise, será confirmada a necessidade (e o número) de lançamentos reais para a campanha de certificação. Independentemente dos lançamentos durante a certificação, está prevista a condução de uma Avaliação Operacional (AvOp) da aeronave, após seu recebimento pela MB, que certamente incluirá o lançamento do míssil.
DAN – Em 2014, o DAN visitou a sede da Airbus Helicópteros, em Marignane, para conhecer o programa de modernização das aeronaves Puma da Real Força Aérea britânica e do Super Puma da Força Aérea e Aviação do Exercito francesas. Foi feita uma consulta junto a Helibras para modernização das aeronaves UH-14 Super Puma nos mesmos moldes. Como ficou esse estudo? Em tempos de cortes de investimentos não seria interessante dar uma sobre vida e aproveitar essas aeronaves nos Esquadrões Distritais, como no HU-5 para uso SAR? Não poderia ser feito uma ação em conjunto com a Aviação do Exército (que possui 8 aeronaves Cougar) e negociar a modernização, aumentando a quantidade e reduzindo os custos unitários?
AE Caroli – Em dezembro de 2014 foi realizada uma apresentação pela HELIBRAS dos serviços genéricos a serem executados, apresentando orçamento aproximado para a modernização dos UH-14, que abrangeria a atualização dos aviônicos, substituição dos painéis pelo padrão glasscockpit e realização de inspeções gerais. A MB, por intermédio da Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), também estabeleceu contatos horizontais com as demais Forças Singulares, a fim de verificar a viabilidade da execução de um esforço conjunto de modernização. Entretanto, em virtude do orçamento apresentado à época e devido às restrições orçamentárias, não foi atribuída prioridade a essa modernização.
Quanto ao atendimento das necessidades dos Distritos Navais, está em andamento estudo, coordenado pelo Setor Operativo, para a distribuição de aeronaves UH-15 para outros Comandos de Distrito. Nesse sentido, vêm sendo conduzidas tratativas com a FAB, a fim de verificar a aceitabilidade do emprego compartilhado de bases aéreas daquela Força, em especial em Belém e Florianópolis.
Luiz Padilha, o ministerio da Defesa desistiu do projeto de unifica o processo de instrução de piloto de aeronave movel das 3 forças e padronização dos meios…Sou leio no assunto, mais acho que teria um custo/ beneficio maior com a unificação da instrução das forças armadas.
Até o momento, cada força continua com seu programa independente. Entendo que unificar seria bastante interessante com relação a custos. Mas no caso da Marinha, o piloto teria que fazer a parte do pouso a bordo em separado, o que para a Marinha talvez não seja interessante. (custo e tempo)
A aquisição de uma anv de asa rotativa para substituição dos Esquilos do HU1 e dos esquadrões distritais deve ser, hoje, a prioridades das prioridades da aviação naval, pois hoje hoje a marinha tem os esquilos mais antigos voando nas FAs e estão no bico do corvo. O caso do HI eu vejo de outra forma. A marinha deveria incentivar a fusão dos esquadrões de formação básica e avançada das três FAs, evitando assim esta onerosa e redundante estrutura, canalizando e priorizando estes recursos para a modernização dos HUs.O HU 1 poderia ter uma “esquadrilha’ de conversão operacional, que receberia os alunos vindos do centro de formação e efetuando conversão para voo embarcado.
Exelente entrevista, mas esqueceu de fazer uma pergunta! Se a Marinha possui pretensões ou estudos à realizar na aquisição de helicópteros de ataque para apoio de fogo aéreo aproximado, como por exemplo modelos semelhantes ao “Bell AH-1 SuperCobra” ou “AH-1Z Viper”? Acredito que helicópteros desse tipo de classe seria muito necessários ao Corpo de Fuzileiros e consequentemente a Esquadra.
OI Felipe. Essa pergunta não fiz pelo fato da MB neste momento estar focada nas aquisições para os helicópteros de instrução e a substituição dos esquilos, ou seja, Cobra ou Viper não será tão cedo devido as restrições orçamentárias que por si só, já impedem a MB de adquirir as aeronaves necessárias. Estudos, vontade a MB certamente tem, mas as prioridades são outras e procurei abordar as que sabemos.
Boa reportagem DAN. General?
Parabens pela entrevista e obrigado ao General pelo se tempo
Exeelente entrevista. Prabens ao DAN pelo proficionalsmode sempre.
Obrigado por nos brindar com este trabalho.
Bom ,deu a entender que ainda(com a melhora da situação $$$) podem vir a ser modernizados os Super Pumas.
No tocante a aviação naval achei essa entrevista bastante esclarecedora, parabéns Padilha, você não esqueceu de perguntar nada. Eu só fiquei com uma duvida e não sei se você saberia responder, quantos helicópteros a MB pretende comprar para substituir os UH13 que estão em operação no PROANTAR?
Quanto ao tópico final, opinião de quem não entende nada mas penso fazer sentido: pensando do ponto de vista de cobertura da áera SAR, não seria mais vantajoso para a MB se estabelecer em bases da FAB que não tenham esquadrões aptos a esta tarefa?