Por Ramona Ordoñez
Operação ocorrerá na próxima recarga de combustível da usina nuclear em 2015
RIO – A usina nuclear de Angra 1 receberá pela primeira vez urânio enriquecido no Brasil. A operação ocorrerá em sua próxima recarga de combustível em 2015, 40 anos depois de o país ter sonhado deter a tecnologia de enriquecimento do urânio, dominada por poucos países.
Operando desde 2009, a usina de enriquecimento do urânio – com tecnologia desenvolvida pela Marinha nos anos 1990 -, instalada na Fábrica de Combustível Nuclear das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende, no Sul do estado, irá fornecer urânio enriquecido para Angra 1.
Segundo a INB, até junho de 2015 todo o urânio enriquecido produzido na Fábrica de Combustível será usado na fabricação dos elementos combustíveis da 22ª recarga de Angra 1. Essa produção representará cerca de 80% do urânio a ser usado na recarga. Até agora o enriquecimento de urânio era 100% contratado no exterior. Essa etapa do ciclo do combustível nuclear corresponde a cerca de 30% do custo de fabricação, e é a etapa mais sensível e estratégica para o país que a detém.
A unidade de enriquecimento foi projetada com capacidade para atender a totalidade da demanda de Angra 1. A construção dos módulos da usina é feita pela Marinha do Brasil e segundo a INB, atualmente, já se encontram em andamento novos estudos para a expansão da capacidade de enriquecimento, visando a atender toda a demanda das usinas de Angra 2 e 3, esta ainda em construção.
Assistam abaixo alguns vídeos de como é feita a troca do combustível nuclear em Angra 1:
FONTE: O Globo
Investir em tecnologia, significa investir em educação, geração de emprego e liberdade do pais, do controle internacional sobre as tecnologias de ponta e emprego dual. Agora é investir no reator e no submarino nuclear nacional.
Aproveitando o ensejo, gostaria de sugerir ao DAN um especial sobre energia e as várias formas de sua obtenção, destacando, de maneira isenta, os prós e os contras de cada técnica geracional. O assunto é estratégico ao País, pois sem energia NADA se faz.
A notícia é sem dúvida importante, mas e quanto ao armazenamento dos rejeitos radioativos? Essa questão é urgente (sendo, até onde sei, o principal fator a atrasar Angra III, pois o IBAMA não concederá o licenciamento antes que o CNEN defina a questão dos depósitos). O Brasil já conta com duas usinas nucleres e deve concluir sua terceira em 2016, além de estar desenvolvendo o Reator Multipropósito em Iperó (do qual derivarão os reatores que moverão os SN-BRs e eventualmente novas usinas nacionais). Tem-se, portanto, no médio prazo, uma previsão de grande aumento na produção de lixo nuclear, sem a preparação correspondente.
O Brasil vem até hoje estocando o lixo radioativo de forma provisória. O RBA e o RMA (Rejeito de Baixa e de Média Atividade, respectivamente, consistindo o primeiro no material descartável usado na manutenção, e o segundo nas resinas de purificação de fluidos do processo) recebem o armazenamento inicial no Centro de Gerenciamento de Resíduos (para Angra 1), ou são devidamente acondicionados no interior da própria usina (Angra 2). Há planos para a construção, até 2020, do RBMN (Repositório de Rejeitos de Baixo e Médio Nível), destinado ao armazenamento definitivo de tais rejeitos, mas, pelo que consta, nem mesmo o local foi definido.
Com relação ao RAA (Rejeito de Alta Atividade, que são os resíduos dos próprios elementos combustíveis), o armazenamento inicial é feito em piscinas localizadas no interior das próprias usinas. A capacidade dessas piscinas já está próxima do esgotamento (2019 para Angra I e 2018 para Angra II), e está prevista a construção de piscinas complementares até o ano de 2018 (e, salvo engano, até o momento ainda nem foi aberto o processo licitatório). Tendo-se em mente que a meia-vida do urânio é de milhares de anos, compreende-se a razão de não se falar na construção de depósitos para o armazenamento DEFINITIVO do RAA: somente cabe falar em armazenamento intermediário. Como ocorre com a questão dos RBAs e RMAs, também a decisão acerca do futuro Depósito Intermediário de Longa Duração se arrasta há tempos, não parecendo possível que fique pronto até 2026, como planejado.
Como sabido, o Brasil ainda enfrenta gargalos importantes na industrialização do ciclo nuclear. Exemplo são a conversão do yelow cake em UF6 (realizada no Canadá –há planos para a criação de uma Usina de Conversão de Urânio na INB/FCN em Resende, com o primeiro módulo operando só em 2020) e o enriquecimento do U235 (até agora feito na Holanda, passará, como noticiado, a ser suprido em parte pela Usina de Enriquecimento de Urânio da INB/FCN). No entanto, o problema do armazenamento dos rejeitos é absolutamente crucial e deve ser encarado sem mais demora.
Quanto ao gargalo para transformar o yelow cake em hexafluoreto de urânio ( UF6 ) , foi inaugurado em 17/02/2012 , uma usina com capacidade para fabricação de 40 ton/ano de UF6. Esta usina fica em Iperó – SP. Logo o Brasil estará auto-suficiente também, nesta etapa do processo de enriquecimento de urânio. Mais detalhes no link abaixo :
http://www.cnpem.br/blog/2012/02/24/ministro-e-comandante-da-marinha-inauguram-instalacoes-em-aramar/
Os gargalos referidos são de ordem industrial (questão de escala), e não de ordem científica. A usina referida, situada em Iperó, é a USEXA (Unidade Produtora de Hexafluoreto de Urânio), que só estará totalmente operacional em 2015. Ela é, contudo, uma instalação-piloto, e não atenderá à demanda nacional quando estiver concluída. Já a futura Usina de Conversão da INB produzirá 1500t anuais de UF6.
Há planos de criação de uma Usina de Conversão de Urânio na INB – Resende (R$ 460 milhões, primeiro módulo em 2020, produzindo 1500T/ano de UF6).
Correção: a conclusão de Angra 3 está na realidade prevista para 2018. Aproveito, porém, a oportunidade para sugerir ao DAN uma matéria que aborde justamente o assunto da destinação do lixo nuclear, que é pouco discutido mas fundamental para o domínio pleno do ciclo do combustível nuclear pelo país.
Faço côro aos colegas: Excelente notícia!!!!! Precisamos ativar a usina III urgentemente e fazer mais umas 10 no Centro-Sul, a energia nuclear é a que menos polui, as pessoas não sabem, ficam repetindo matérias jornalísticas feitas por energúmenos, uma usina nuclear destroi uma porção de terra mínima para ser construída, ao contrário de uma hidrelétrica que destroi florestas milenares em proporções bíblicas, altera o clima planetário, mata milhões de animais, a usina hidrelétrica é uma catrástrofe ambiental superlativa, é a maior degradação ambiental que o homem dito civilizado pode fazer ao meio-ambiente, já as usinas nucleares poluem quase nada, geram milhares de MW, ocupam um pequeno terreno, se pagam rápidamente e dão lucro ao país, além de possibilitar o domínio do ciclo nuclear, que tanto precisamos, não para fazer submarinos, mas para alterar a nossa matriz energética. Antes que me chamem atenção, SIM, existe o lixo nuclear perigosíssimo e altamente mortal, mas estão conseguindo estocar esse lixo no fundo de cavernas, praticamente por centenas de anos sem nenhum dano ao meio ambiente externo, mas como as grandes cidades produzem centenas de toneladas diárias que vão para aterros e ninguém reclama, o lixo radioativo pelo menos gerou milhares de MW ao país.
Prezado Crispim, bom dia.
Rapaz, novamente demonizando as centrais hidroelétricas? Que pena…
A matéria sobre mais um passo a ser dado na matriz geracional nuclear é alvissareira, ótima e maravilhosa, e essa matriz, de importância irrefutável, tem tudo para integrar-se à “cesta de ovos” (noutras palavras, no mix, na diversificação) das formas que devemos contemplar de obtenção da energia elétrica (ao lado da hidroelétrica, lembro a de biomassa, maremotriz, eólica, solar, térmica por uso de combustíveis “verdes” – etanol, quem sabe de 2ª geração, e biodiesel etc. – ou pelo uso de gás natural etc). Quem conhece um pouco do assunto sabe: a energia não virá de uma única fonte (aliás, o pensamento da “monocultura”, da “monoprovidência” deve ser extirpado do nosso país, pois o futuro demandará múltiplas técnicas, em quase tudo, para atender à demanda de uma sociedade crescente e cada vez mais sofisticada).
Para não tomar o tempo de todos, e o meu também, mas não deixar isso sem resposta, indico artigo veiculado no DAN, faz cerca de 6 meses, e principalmente a sequência longa de posts em que isso foi debatido quase que à exaustão: http://www.defesaaereanaval.com.br/?p=42931
De qualquer maneira, a atual crise hídrica apenas reforça a necessidade das hidroelétricas (com reservatórios e não a fio d’água), de novos reservatórios de abastecimentos, do replantio de áreas degradadas (principalmente das matas ciliares que ladeiam os rios), do tratamento de esgoto para obtenção de água de reúso, do emprego de coletores de umidade do ar (às margens de rios e no litoral) para obtenção de água, e, principalmente, DE MUITO ESTUDO (ISENTO E SEM OS EXAGEROS PSEUDO-AMBIENTALISTAS ATRAVANCADORES DO PROGRESSO DE NOSSO PAÍS) para a constatação da melhor, mais eficiente e mais responsável ambientalmente solução a ser empregada em cada área e a cada região do nosso continental território (não há e nunca haverá uma resposta universal para diferentes necessidades e diferentes locais).
Excelente notícia Luiz! Destaque para o robô de pesquisa submarina, algo inédito no Brasil. Bom, pelo menos é a primeira vez que vejo esse tipo de equipamento operado por brasileiros.
Quando será que a mídia aprenderá que energia nuclear não é acionado por combustão, inclusive os fóruns de defesa? Esse “elemento combustível” parece que chegou para ficar. Assim como a mídia se habituou a falar “por conta” ao invés de “por causa”, temos agora a cultura dos combustíveis nucleares e elementos combustíveis. Aliás, não percebi nenhum cano de descarga vindo do reator, se alguém viu nos mostre por favor. E como se produz fogo em uma piscina de água (ser piscina não significa que tenha água, certo)? É assim que o povo vai sendo manipulado, se acostumando a falar errado, sem controvérsia.
Fora isso parabéns á marinha por colher esse fruto de tanto trabalho em pesquisa. Lembrando que ficou para esse ano a conclusão do reator da marinha. Agora já é possível ter uma ideia de como será a troca de combustível nuclear, quero dizer, do elemento combustível, o droga!, do reabastecimento de urânio e a troca de resíduo radiativo do submarino nuclear e porque será construída uma piscina entre os dois diques do estaleiro destinado pra manutenção da base de submarinos.
ERRATA!
“… manutenção da base de submarinos.” Na verdade manutenção dos submarinos e não da base. No contexto quis dizer base de manutenção.
Excelente notícia. O caminho para a autossuficiência ainda está por ser trilhado, será duro e porá à prova a tenacidade, a capacidade técnica e a persistência do Brasil neste campo (e também em outros) , mas as perspectivas são encorajadoras.
È muito boa essa noticia, o Brasil rumo a auto-suficiência energética, petróleo do PRÉ-SAL , biocombustiveis, energia Hidrica, energia Solar e energia Nuclear (Angra-1 e o PROSUB). Finalmente podemos aspirar a um lugar no conselho permanente das Nações
Unidas.
CS da ONU? Esquece isso, jamais acontecerá, e não é porque conseguimos sub-enriquecer urânio que isso nos dá capacidade de postular estarmos entre os que comandam o mundo. Pra isso acontecer requer mais, muito mais. Bom, na verdade, nada do que fizermos fará isso, já que o ingresso com cadeira cativa no CS se dá com anuência de todos os titulares, que significaria dividir poderes. Alguém acha isso possível? No lugar deles não creio que o faríamos, de modo que isso não passa de delírios de alguém não afeito à realidade.
E digo mais: O Brasil com essa chancelaria pífia e medíocre, que só faz o Brasil passar vergonha na ONU, que se abstêm em cada votação importante, que fica do lado dos terroristas em vez de ficar contra, NUNCA o Brasil terá uma cadeira no CS, é irresponsável e estúpido demais para isso, ninguém nos dá a menor bola, as atitudes do Brasil em política externa são uma ABERRAÇÃO, uma vergonha incomensurável. Esqueçam o CS da ONU.
Muito bom para o Brasil e para a Marinha , que deixa de dar divisas para o exterior .
Isso deve doer nos entreguistas apátridas que pregam a submissão eterna do Brasil aos interesses das grandes potências.
Essa notícia significa que o país pode ser em breve auto suficiente no enriquecimento do combustível nuclear, o que será um impulso para que o país continue as obras de construção de Angra 3, obra essa que sofre um duro golpe agora que o partido verde alemão pretende cancelar o contrato de cooperação com om Brasil já que o mesmo se opõe a matriz energética nuclear.
Mas no final, há males que vem para o bem e mesmo que o parlamento alemão cancele o acordo de cooperação o Brasil precisará encontrar outra nação com tamanha experiencia no ramo para dar continuidade ao projeto de Angra 3 assim como a manutenção nas planta 1 e 2.
Prezado Topol
Os ” Verdes ” são minoria no Parlamento Alemão. Mas, caso consigam cancelar o contrato de cooperação com o Brasil, na verdade a renovação do contrato . A Alemanha será a maior prejudicada. Hoje a Alemanha importa energia elétrica da França, justamente porque desativou suas usinas nucleares. Na França 80% de toda a energia elétrica, é oriunda de geração nuclear. Lembrando que, Angra 1 tem um reator nuclear americano, de 640 MW fabricado pela Westinghouse e , Angra 2 tem um reator nuclear de 1300 MW , fabricado pela Siemens – KWU da Alemanha. Como se vê , podemos contratar, assistência técnica americana , ou mesmo francesa ,se, precisarmos.