Por Marco Antônio Martins Do Rio
As Forças Armadas iniciam neste domingo (24) no Rio a maior operação militar já feita na cidade voltada para um grande evento. Serão cerca de 22 mil militares do Exército, Marinha e Aeronáutica nas ruas para tentar garantir a segurança na Olimpíada.
Somados militares e policiais, o Rio terá 51,6 mil homens na segurança dos Jogos, o que configura o segundo maior efetivo das últimas Olimpíadas, atrás apenas de Pequim-2008, com cerca de 110 mil homens. Os últimos Jogos, de Londres-2012, foram disputados com 42 mil homens nas ruas entre militares e policiais (veja quadro).
O contingente que será mobilizado na Rio-2016 supera também o utilizado em outros grandes eventos na cidade, como a Copa do Mundo de 2014, a visita do papa Francisco em 2013 (durante a Jornada Mundial da Juventude) e encontros com grande número de chefes de Estado, como a Eco 92 e a Rio+20, ambas sobre temas ambientais.
Contando só as Forças Armadas, antes, só a Rio+20, realizada em 2012, havia reunido um número próximo de militares: cerca de 15 mil.
Não há comparação, no entanto, entre os dois acontecimentos. A Rio+20 foi concentrada em um local (o Riocentro), e o número de visitantes para o evento era baixo.
Dessa vez, o risco de terrorismo envolve a Olimpíada, que espera receber cerca de 500 mil visitantes, além de atletas de 42 modalidades.
Junte-se a isso o atentado de Nice, na França, no dia 14 de julho, que matou 84 pessoas, episódio que levou o governo brasileiro a aumentar a atuação das Forças Armadas no evento esportivo.
Uma das mudanças é que, inicialmente, haveria soldados apenas nos acessos ao aeroporto internacional do Galeão, na Ilha do Governador, zona norte da cidade. Agora, haverá também militares no interior do aeroporto. Ao todo cerca de 600 integrantes das Forças Armadas estarão nas áreas de embarque e desembarque de passageiros.
PROTAGONISMO
ImagemOficialmente, se mantém o discurso de que as decisões serão partilhadas. Mas, no momento, as opiniões do ministro da Defesa, Raul Jungmann, e do general Sérgio Etchgoyen, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que comanda a Inteligência dos Jogos Olímpicos, ganharam protagonismo.
“Isso é inevitável diante do momento. Comparo a um pêndulo: em um extremo há os Jogos e, no outro, a defesa e a segurança. Neste momento, está deslocado para nosso lado”, afirmou o ministro da Defesa, Raul Jungmann, em entrevista na sexta (22), à Folha, no Comando do Exército, no centro do Rio.
A participação militar aumentou nos últimos dez dias diante da situação envolvendo as outras forças que participam da segurança da Rio-2016. O protesto de policiais da Força Nacional de Segurança contra as condições dos alojamentos e a ameaça de manifestações de policiais federais durante a Olimpíada foram dois pontos que desagradaram ao governo federal.
Também tem sido discutida a situação da Polícia Militar do Rio. Apesar da ajuda federal, que colocou os salários em dia, se nota pouco ânimo dos PMs para atuar no evento. Por dia haverá 10 mil policiais militares nas ruas.
No planejamento para a Olimpíada haverá 3.000 militares nas forças de contingência, que só irão para as ruas em caso de emergência. Eles estarão em bases próximas a cada uma das quatro áreas olímpicas —Maracanã, Copacabana, Deodoro e Barra da Tijuca—, o que facilita o deslocamento da tropa.
Uma das preocupações do governo é reprimir possíveis abusos das tropas. Todas as ações dos militares serão filmadas durante os Jogos.
JOGOS ATRAEM MIL AGENTES DE 70 PAÍSES À CIDADE
Cerca de mil agentes de inteligência, entre brasileiros e estrangeiros, estarão no Rio em busca de informações para evitar ações terroristas na Olimpíada.
A preocupação é com os chamados “lobos solitários” (pessoas que agem sozinhas nos ataques).
O Rio tem características que facilitam o surgimento desse tipo de terrorista, como o grande número de jovens sem trabalho e a facilidade para se obter de pistolas a fuzis em áreas sob domínio do tráfico.
“Em 2015, uma tonelada de explosivos foi roubada no país. O acesso a armas é muito grande”, diz o coronel Fernando Montenegro, ex-membro do Grupo Antiterror do Exército.
Do total de agentes da inteligência já no Rio, 400 são da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Agentes de 70 países virão à cidade. Em média, cada país traz quatro oficiais de inteligência, mas outros, como os EUA, formaram verdadeiros escritórios no Rio. Israelenses, franceses, russos e americanos estarão no Centro de Inteligência dos Jogos e terão informantes nas ruas.
Na PM, houve um curso dado pelos EUA para treinar os policiais sobre a necessidade de aumentar a percepção para casos que chamem a atenção na rua.
O FBI (polícia federal americana) teve importante participação para na prisão de 11 suspeitos pela Operação Hashtag ao enviar ao Brasil os nomes que os integrantes do grupo usavam na internet.
FONTE: Folha de SP