Por Willian Dampier Jr
O Diário Oficial de 02 de dezembro de 2016, na página 33, publicou Aviso de Licitação do CPN para a “contratação de empresa especializada na execução de serviço de aprovação (análise e certificação) dos planos referentes ao projeto básico de 01 (um) navio patrulha de 500 toneladas de deslocamento, doravante denominado NPa-500BR, para a Marinha do Brasil (MB)”. O processo é semelhante ao conduzido para as futuras Corvetas da Classe Tamandaré.
O Projeto de desenvolvimento do NPa 500 BR foi contratado ao CPN pela Emgepron com a condição de ser utilizado o mais moderno estado da arte em engenharia militar. Desta forma, é imprescindível que o projeto básico seja desenvolvido com a abrangência e com nível de profundidade compatível com projetos navais militares e baseados em critérios bem estabelecidos e amplamente reconhecidos internacionalmente. Estas condicionantes parecem revelar que o objetivo não é apenas o de dotar a Marinha com modernos navios capacitados às missões impostas pelas atuais ameaças, mas também ter produto comprovado e com potencial para exportação.
Dos dados publicamente disponíveis pode-se resumir o conceito de emprego destes navios da seguinte forma:
– navio projetado para operações em áreas restritas;
– utilizado como centros de comando e controle;
– emprego em grupo-tarefa ou como unidade independente;
– capacidade de defesa antiaérea e ações de superfície (defesa do mar ou suporte a ações costeiras);
– patrulha naval nas águas jurisdicionais brasileiras;
– inspeção naval;
– busca e salvamento;
– combate às novas ameaças (terrorismo, pirataria, contrabando, poluição marinha, tráfico de drogas de armas e de pessoas).
Embora destinado prioritariamente às operações em águas restritas, os navios de patrulha devem atuar como se fossem uma espécie de “patrulhinha do mar”, ou seja, além das ações de presença, eles farão o primeiro embate (o atendimento de emergência), em espaço do mar onde hoje se concentram simultaneamente e com grande intensidade diversas atividades marítimas.
Parece claro que eles têm importante papel de contribuição às prioridades do poder naval Brasileiro:
– defesa das plataformas de petróleo;
– defesa das instalações navais e portuárias; dos arquipélagos e das ilhas oceânicas;
– pronta resposta às ameaças ao comércio marítimo nacional, vindas de forças convencionais, não convencionais e das criminosas.
Este novo e importantíssimo projeto nacional, além de ser muito útil para recomeçar, passo-a-passo, a restauração da nossa capacidade de projetos e construção naval militar pode ser uma oportunidade para dotar estes navios de sistema de combate adequado aos conceitos de emprego definidos acima. Este sistema de combate pode incluir, por exemplo:
Radar de busca 3D de moderna tecnologia AESA
Este equipamento poderia ser um dos membros de família de radares a serem produzidos no Brasil. Esta mesma família atenderia também aos OPV, corvetas, futuras fragatas e às atualizações das Fragatas Niterói, enquanto aguardando pelos novos navios de escolta. Os radares de navegação normalmente utilizados em “navios mercantes” são mais baratos, mas não totalmente adequados às atuais tarefas impostas aos NPa. Hoje há que acrescentar as ameaças dos drones que podem ser operados disfarçadamente a partir de qualquer embarcação.
Diretor de tiro optrônico
Os diretores de tiro optrônicos não devem ser confundidos com os optrônicos destinados às tarefas SAR (busca e vigilância). Além de também serem excepcionais nestas tarefas eles são capazes de dar mais qualidade e extrema precisão no tiro. O canhão Bofors de 40mm Mk é perfeito para o duplo emprego com grande eficiência, desde que conduzido pelo adequado sistema diretor. Os NPa, por serem responsáveis pelo primeiro embate, não podem errar o primeiro tiro.
Sistemas de Alerta (“warnings”)
Hoje, mísseis do tipo “man pad” podem estar embarcados em qualquer tipo de embarcação, por menores que sejam. O mesmo com os RPG largamente utilizados em todo o mundo por grupos insurgentes e terroristas. Somente um destes artefatos pode destruir um NPa (US$ 50 Milhões?) ou até mesmo uma plataforma de petróleo (US 1,5 bilhões?). Há exemplos recentes tais como:
– NPa Egípcio atacado no Mar Mediterrâneo, bem perto da costa de Israel e da Faixa de Gaza;
– Navio leve tipo HSV 2 da Marinha dos Emirados Árabes Unidos atacado perto da cidade de Mokha por míssil de terra;
– Ataque aos destroier USS Mason por dois mísseis em águas internacionais perto do litoral do Iêmen;
– Ataque suicida ao DDG 67 USS Cole (US$ 800 milhões?) enquanto estava reabastecendo em Áden, no Iêmen. Cerca de 17 marinheiros foram mortos e outros 39 ficaram feridos.
Os exemplos acima mostram como são importantes as capacidades de detecção e de alerta: “laser warning” e “radar warning”.
Sistemas RESM (“Radar Electronic Support Measure”) e CESM (“Communications Electronic Support Measure”)
O ambiente costeiro é extremamente denso em emissões eletromagnéticas. A detecção e o acompanhamento das possíveis comunicações, entre as muitas embarcações, são vitais nas ações de prevenção e de defesa. Os NPa estão permanentemente operando neste ambiente eletronicamente altamente “poluído”. O RESM já é tecnologia dominada pelo IPqM e pode ser preparado também para os NPa.
Sistema de Comando e Controle
Para integrar estes itens basta fazer as devidas adaptações no Siconta já de domínio da Marinha. Ainda que não venham a ser efetivamente instalados, é importante que o projeto do novo NPa já inclua este itens. O marketing do NPa poderia considerar (e apresentar) uma solução completa a ser simplificada conforme desejado por cada cliente. O importante é que os potenciais clientes saibam que o navio comporta a configuração completa com toda a segurança.1120
Parabéns pela ótima matéria. Padilha, li em outro site que os cascos incompletos no EISA passaram a compor a massa falida do estaleiro e não poderiam ser retirados para completar em outro estaleiro. Isso procede?
Grato
O depto. jurídico da MB está trabalhando nisso. Ainda não temos um norte sobre o que será feito.
Obrigado, Padilha. Seu ponto de vista deixou mais didático o tema e passo a me inclinar a favor do projeto.
Abraço.
Deveria pelo menos concluir os dois navios patrulha que estão com os cascos prontos,e partir para esse novo projeto,esse é meu pensamento.
Lendo essas matérias ficam sem entender algumas coisas. Temos NaPa de 500 ton de uma classe da qual foram entregues apenas duas unidades e que as outras ou estão com sua construção parada ou nem foram iniciadas, por falta de estaleiro capacitado técnica e financeiramente para tal. Então pergunto, como e onde iremos construir novos navios dessa categoria (500 ton)? E as Tamandarés, onde poderiam ser construídas? O AMRJ possui condições técnicas/esteuturais para isso? E algum estaleiro privado?
Pelo que diz o texto, o que se busca não é um navio patrulha e sim, um navio pequeno com capacidades ASW e Antiaérea……para patrulha costeira um NaPa da categoria dos Macaé não é suficiente? Se for adicionar tudo que se pretende deixa de ser um NaPa e passa a ser um pequeno navio de combate. Sei lá, deixo para os mais entendidos em navios, mas uma quantidade razoável e balanceada de navios de 200, 500 e 1800 ton, configurados para patrulha naval é o que se precisa. E corvetas e fragatas, pelo seu porte e facilidade de operarem em mar aberto seriam, essas sim, dotadas de tudo que for possível em matéria de armas AAé, ASW e ASuW.
Apesar de o INACE ter construído os dois, a qualidade deixou muito a desejar, tanto que os novos seriam uma versão melhorada. O Inace tem alguma experiência em construir navios para a Marinha, NPa 200 e “navios brancos” da “hidrografia”. As Tamandaré, conforme dito pela Marinha em alguns dos seminários mais recentes, deverão ser construídas no AMRJ que deverá ser o núcleo do Cluster de Construção Naval Militar do Brasil para navios de superfície. Veja entrevista com o coordenador do PRM aqui no DAN em ENTREVISTAS.
O texto não fala em capacidade ASW (antissubmarino) mas sim em “ações de superfície” e antiaérea. O novo NPa, ao que tudo indica, é da mesma categoria dos Macaé. Por exemplo: os Macaé têm canhão de 40mm (de duplo emprego) e está prevista a instalação de alça optrônica da Elbit produzida pela Ares. Os especialista acham que essa configuração não vai permitir utilizar todo o potencial do canhão. Acham também que não é suficiente para fazer frente às novas ameaças. Entendi que o articulista está propondo a mesma coisa (canhão e alça) só que com equipamentos que garantam a direção de tiro do mesmo canhão de 40 mm mas com grande precisão e curtíssimo tempo de reação. Isso seria o mínimo que se poderia esperar em um novo ambiente onde as ameaças não são mais as mesmas e onde um simples e aparentemente modesto barco de pesca pode estar transportando um míssil a ser disparado, por exemplo, contra uma plataforma ou contra o NPa ou contra um mercante. Os navios de patrulha também têm que dissuadir. Além disso está previsto que eles podem colaborar com Forças Navais.
E se colocar o que se pretende o NPa não vai deixar de ser um NPa. Ele vai deixar de um NPa que “serve” para pouca coisa e vai passar a ser NPa realmente capaz de dissuadir e também de realmente atuar contra as atuais ameaças.
Só que as atuais configurações para Patrulha Naval não podem mais ser as mesmas de 20 ou 30 anos. A “coisa” mudou. O “litoral” é a região do mar que vai da costa até o início das “águas azuis”. É onde hoje tudo se passa. É a região altamente poluída de “atores” inclusive do tráfego marítimo. Daí porque os atuais NPa também terem que estar preparados para “escutar” tudo o que se fala. Eles também são guardiões das fronteiras marítimas que não podem ser demarcadas (como as fronteiras secas em terra) mas que podem ser demonstradas pela presença dos NaPa e/ou OPV, se pensarmos em ações delimitadas por áreas de defesa: Napa 200; mais adiante NPa 500; mais adiante OPV; depois Corvetas e outros maiores.
Corvetas e Fragatas são preparadas, como dito acima, para “escolta” de importantes navios cujas áreas de atuação estão mais próximas ou dentro das “águas azuis’.
Espero ter ajudado. Existem outros fatores novos como você poder equipar um navio com um radar 3D hoje pelo preço de um 2D e por ai vai.
Não sou nenhum especialista então faço estas perguntas: Um Navio de patrulha não é muito leve para as missões AAW e ASuW? Não corre-se o risco de depois gradativamente aumentar este peso 500, 1000, 1500 t (conforme a instalação de equipamentos e sistemas para executar todas as tarefas previstas)?
Faltou nos sistemas de armas e EW acima, a inclusão de um sistema AA,e de baixa altura baseado em mísseis MAPAD,s adaptados em um sistema VLS que caiba nesse navio.
Esse tipo de míssil está ( ou estava) em desenvolvimento na Mectron em parceria com o Ctex, tendo inclusive feito o aprontamento do sistema auto diretor desse míssil.
Quanto ao sistema VLS, podemos desenvolver um baseado no SLDM nacional, após os testes de validação, aprovação e inclusão no navio NPA-500BR, o mesmo pode ser Evoluído para versões que seriam usadas nas Tamandares e Destroyer,s de 6000t.
O radar diretor de tiro pode ser baseado no Saber-M200.
Mas ai ficam as dúvidas: A Mectron ainda está em operação e dando continuidade aos seus projetos ?
Há interesse dos militares em apostar no que é nacional, inclusive adquirindo grandes quantidades de equipamentos?
Ou ainda continuaremos cometendo os mesmos erros do passado, e adquirirmos equipamentos e tecnologias do exterior ?
Acho que a resposta mais óbvia as questões é a ultima!
A MB gastou uma boa grana com o Projeto combatente da França, e ficou apenas com 2 navios e agora não existe certeza de outros navios, ai vamos ficar com 3 navios classe Amazonas, e 2 macaé, sem qualquer padronização, pois vamos de outros modelos de 500 toneladas e de 2000 toneladas
Por que projetar um tipo de navio que esta em produção, não seria melhor investir nos navios de patrulha oceânicos em vez de projetar um navio de patrulha costeiro de 500 toneladas?
Será que esse projeto sai?
E qual sera o destino dos navios patrulha que estão no estaleiro Eisa?