Por Luiz Padilha
Em um artigo publicado pelo Jornal do Brasil em 17 de janeiro de 1985 com o título “Donato acha que vence a concorrência”, o Ministério da Marinha (na época havia o Ministério), estava prestes a anunciar o vencedor para a construção de 2 Corvetas classe Inhaúma.
Vamos transcrever o artigo, onde o leitor poderá observar que não se deve “cantar vitória” antes do tempo. O vencedor no final foi o estaleiro Verolme.
Esse artigo é muito interessante porque 34 anos se passaram, e muito do que se buscava naquela época, ainda não obtivemos. Os programas ora em curso como o Prosub, certamente nos aproximará bastante dos objetivos almejados daquela época, e acredito que com o programa de construção das Corvetas Tamandaré, a indústria naval brasileira conseguirá através de sua qualificação, se candidatar a novos programas da Marinha do Brasil, tais como a construção de novos Navios de Patrulha Oceânica de 2.000 toneladas e Fragatas para substituir as atuais classe Niterói e Greenhalgh, já bastante defasadas tecnologicamente. A adição de 4 novas Corvetas classe Tamandaré, irá dar o sopro de modernidade que tanto a Marinha precisa, mas ainda é muito pouco para que a mesma volte a ter o número adequado de escoltas, para cuidar de nossa Amazônia Azul.
Segue abaixo a transcrição, e observem bem os valores à época, do custo para a construção de 2 Corvetas.
O Ministério da Marinha deve anunciar amanhã o resultado da concorrência para a construção de duas corvetas, no montante de Cr$ 200 bilhões, e o vencedor é o estaleiro Caneco, afirmou ontem, o diretor financeiro da empresa, Roberto Donato.
O grupo Donato recepciona autoridades e empresários com um almoço, amanhã, em sua empresa de navipeças, a Fermasa, que comemora 10 anos. E lança ao mar o petroleiro “Caravelas”, segunda feira as 14 horas, construído pelo estaleiro Caneco para a Petrobrás. O barco, de 18 mil toneladas de porte bruto, terá por madrinha a Sra Sylvia Regina Viana Severo, esposa do Ministro dos Transportes, Cloraldino Severo.
Lucro Operacional
As condições oferecidas pelo Caneco são excelentes, em relação aos demais estaleiros concorrentes, porque não consideram apenas o preço, mas também a capacidade da empresa para realizar a obra, acrescentou Roberto Donato. O presidente do grupo e da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, é Arthur João Donato.
Além do estaleiro Caneco e da Fermasa Máquinas e Equipamentos S/A, integram o grupo Disa Destilaria Itaúnas S/A (que produz álcool no Espirito Santo), Apal Agropecuária Aliança S/A, Cimbarra S/A Indústria e Comércio, Ecic Controles Elétricos, Engenavi Engenharia Naval Industrial S/A e Donatur Turismo S/A.
O estaleiro Caneco está fechando o balanço de 1984 com um lucro operacional de Cr$ 40 bilhões (antes do Imposto de Renda e da correção monetária), embora o faturamento tenha diminuído 40%, em relação a 1983, disse Roberto Donato. Ele tem vários motivos para comemorar, além da esperada vitória na concorrência para fazer duas corvetas para a Marinha de Guerra. Ganhou da Montreal, que está entrando no transporte marítimo offshore, encomenda para fazer um barco tipo DSV e espera conquistar outro nos próximos dias, tão logo a Petrobrás conclua a licitação para escolher mais uma empresa armadora de apoio às suas plataformas marítimas.
Além disso o estaleiro Caneco foi indicados pelos armadores para fazer oito navios e uma jumborização (aumento de capacidade de carga), entre os 22 pedidos que já receberam prioridade de financiamento do conselho diretor do Fundo da Marinha Mercante. Tais barcos serão construídos para a Petrobrás (dois), Transrol (dois e uma jumborização), Global (dois) e Di Gregório (dois).
O estaleiro do grupo Donato desenvolve, ainda, projeto que permitirá aproveitar os barcos do tipo roll-on-roll-off (porta veículos), como embarcações militares, com pequenas adaptações. Para Roberto Donato a tecnologia de navios armados permitirá a empresa, aumentar também, sua presença nas exportações brasileiras.
Encomendas da Marinha
Os documentos de planejamento e doutrinários do Ministério da Marinha, preconizam um programa de construção naval no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), e em estaleiros privados nacionais, abrangendo diferentes tipos de navios de guerra de acordo com as prioridades estabelecidas no seu Plano de Reaparelhamento.
Da parte destinada aos estaleiros privados, destacam-se duas corvetas já denominadas Júlio de Noronha e Frontim, bem como navios de patrulha oceânica (serão feitos 12 unidades). No Brasil vão ser construídos de três a quatro submarinos, com tecnologia da IKL, que fará um, o primeiro da série, em suas instalações na Alemanha.
Está previsto também, que se realizará em “estaleiro civil” a transformação do ex-navio mercante Itatinga, do Lloyd Brasileiro, em navio de apoio logístico, com o nome de Gastão Motta.
Documento de análise do Plano de Reaparelhamento da Marinha assinala que seu prosseguimento “implicará não só na continuidade do esforço cada vez maior nas atividades de construção militar naval como também na possibilidade de nacionalização progressiva de materiais e equipamentos, o que certamente contribuirá para a constituição de um poder naval moderno e independente, além de representar um poderoso incentivo à indústria naval.”
FONTE: Jornal do Brasil via UFSCar