Um dos gigantes do complexo empresarial brasileiro e com expressão internacional, o grupo Odebrecht também já se consolidou no segmento de defesa, marcante por ter como ingredientes a alta capacitação e o domínio de tecnologias avançadas e de ponta e, isso, temperado pelo fato de atuar em um mercado acirradíssimo, estratégico e que requer extrema habilidade e competência para sobreviver. Para saber como está o momento da Odebrecht Defesa e Tecnologia, o braço do grupo no setor, Tecnologia & Defesa conversou com seu presidente, André Amaro.
Tecnologia & Defesa – O senhor poderia fazer um breve balanço sobre o ano de 2014 para a Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT)?
André Amaro – O ano de 2014 foi desafiador para toda a Base Industrial de Defesa brasileira e para a ODT seguiu na mesma linha. Demos continuidade a importantes projetos como o avanço na construção dos primeiros submarinos de propulsão convencional do ProSub, conduzido pela Itaguaí Construções Navais (ICN), no Rio de Janeiro. Entre os projetos desenvolvidos pela Mectron, podemos mencionar o MAA-1, que teve sucesso alcançado nos lançamentos da campanha feita em Canoas (RS); o MSS 1.2, com novo contrato assinado com o Exército para a continuidade da avaliação do lote-piloto; o Radar SCP-01, que foi bem sucedido em testes da integração no AMX modernizado; o Link BR2, cuja ferramenta Simulador SimTCS atendeu à necessidade da Força Aérea; e a assinatura do primeiro contrato do IPMS com a Marinha do Brasil. Então, acreditamos que foi um ano difícil, mas com avanços positivos.
T&D – Recentemente, surgiram rumores sobre uma possível aquisição pela ODT de uma participação na Avibras. O senhor poderia comentar algo a respeito?
André Amaro – Aquisições não estão entre as prioridades da ODT. Qualquer aquisição só será avaliada na medida em que agregue valor aos nossos projetos em execução e, consequentemente, aos nossos clientes. Com relação a Avibras, não existe negociação no momento.
T&D – Qual é a sua visão sobre o processo de consolidação da indústria de defesa no Brasil?
André Amaro – A indústria de defesa no Brasil tem seguido um caminho na busca de ganhar competitividade, seja no próprio mercado nacional ou para competir internacionalmente. Acreditamos que é um processo natural ter empresas mais fortes no setor, que demanda projetos complexos, e com mais fôlego financeiro, uma vez que as encomendas da indústria requerem capacidade financeira para os desenvolvimentos com tecnologia de ponta e equipes altamente qualificadas. Por isso, a reorganização do setor é importante para atender as necessidades das Forças Armadas em termos de qualidade e prazo.
T&D – Para os próximos anos, existe grande expectativa para investimentos no setor espacial, no Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), e no Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE). Está nos planos do grupo participar mais ativamente dessas iniciativas?
André Amaro – A ODT busca oportunidade em todas áreas de defesa e, certamente, a espacial é uma delas. Agora em dezembro foi lançado com sucesso na China o satélite CBERS-4, que possui componentes fabricados pela Mectron, nossa subsidiária, como o DDR – Gravador Digital de Dados. Entendemos que a área espacial possui grandes oportunidades e desafios e estamos nos capacitando cada vez mais para atender essas necessidades e desenvolver soluções que coloquem o Brasil como protagonista global nesse setor.
T&D – Qual é o atual estágio e as perspectivas dos projetos dos mísseis MAA-1B e A-Darter?
André Amaro – Com relação ao MAA-1B, o projeto caminha para a fase final de desenvolvimento, que envolve uma série de ensaios em voo. Como será um produto de ótima relação custo/benefício, tem grande potencial de exportação para países da América do Sul, África, Oriente Médio e Ásia.
O A-Darter aguarda a finalização dos ensaios em voo, que estão sendo realizados na África do Sul. Pelo lado brasileiro do programa, a Mectron concluiu sua participação no desenvolvimento/transferência de tecnologia e está negociando com a Força Aérea Brasileira (FAB) a industrialização do míssil no País, que hoje está em pé de igualdade com os sul-africanos em termos de domínio tecnológico do produto. O A-Darter será produzido no Brasil para o mercado interno, podendo também ser exportado para outros países.
T&D – Existe a possibilidade, a exemplo do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (ProSub), que a ODT venha participar do reaparelhamento da Marinha do Brasil através dos Programas de Obtenção de Meios de Superfície (ProSuper) e do Programa de Obtenção de Navios-aeródromos (ProNAe)?
André Amaro – A ODT está pronta para atender as necessidades das Forças Armadas brasileiras, especialmente a Marinha, nesses programas. Demonstramos nossa capacidade de mobilização e gestão de projetos de grande complexidade como o ProSub.
T&D – A ODT já consegue vislumbrar a segunda etapa do ProSub e a sua participação na realização da mesma?
André Amaro – A ODT, através da ICN, participa da construção dos quatro submarinos de propulsão convencional e um de propulsão nuclear que fazem parte do ProSub. Nesses processos, estamos cada vez mais adquirindo e retendo conhecimento e tecnologia, o que traz benefícios ao País, contribui no sentido da soberania nacional e, certamente, nos deixa aptos a assumir novos projetos e desafios no contexto desse programa.
T&D – Quais são as metas da ODT em curto, médio e longos prazos nas áreas de desenvolvimento tecnológico e inovação?
André Amaro – Queremos cada vez mais contribuir com as Forças Armadas e o governo brasileiro no sentido de entender as suas necessidades e desenvolver produtos e soluções que ajudem na proteção do País e no reforço da soberania nacional. Também entendemos que dessa forma conseguimos reter o conhecimento e a tecnologia no Brasil, contribuindo para o desenvolvimento e para que cada vez mais o Brasil tenha uma postura de destaque e de protagonismo no cenário mundial. Entendemos que ao fazer isso, a ODT também se tornará cada vez mais capacitada a desenvolver projetos complexos e que exijam alta qualificação, mantendo nosso foco em projetos no desenvolvimento e fabricação de produtos de alta tecnologia e sistemas complexos para usos militar e civil, como armamentos inteligentes, radares, sistemas aviônicos, sistemas de comunicação, e controle e comando.
T&D – A ODT já é um nome estabelecido no setor, participando em programas das três Forças. Uma vez consolidado internamento, o grupo considera iniciativas no exterior?
André Amaro – A ODT já possui alguns negócios em desenvolvimento com outros países, não só em relação a parcerias, como no caso do A-DARTER (com África do Sul), mas de exportação de produtos. Nossa prioridade é o Brasil e o atendimento às necessidades das Forças Armadas daqui, mas é um processo natural o comércio com outros países, reforçando que toda e qualquer exportação de materiais estratégicos de defesa, como os produzidos pela ODT, requer avaliação e autorização por parte das Forças Armadas, Ministério da Defesa e Ministério das Relações Exteriores. O mercado internacional é atraente e permite um importante ganho de escala.
O setor de defesa trabalha com conhecimento e tecnologia de ponta. E para conquistar mercado internacionalmente é fundamental ter esses dois aspectos bem desenvolvidos. Estamos nesse caminho, trazendo e compartilhando conhecimento, desenvolvendo tecnologias avançadas e agregando valor aos nossos produtos e soluções. É um trabalho de médio e longo prazos, mas acreditamos que estamos no caminho certo. Somando isso à transferência de tecnologia que estamos recebendo em alguns projetos, como no ProSub, é um processo natural que estejamos cada vez mais preparados para disputar esse mercado internacional de igual para igual no futuro.
T&D – O senhor considera que a atual legislação e os incentivos para o segmento industrial de defesa são suficientes para que este venha alcançar um nível de competitividade adequada com empresas de outras regiões do mundo?
André Amaro – A Estratégia Nacional de Defesa (END) direciona os investimentos, as prioridades e os projetos de longo prazo para termos um setor de defesa capaz de garantir a soberania do Brasil. É muito importante que haja um plano de incentivo para a indústria nacional para que os projetos e as tecnologias possam ser desenvolvidos no País, com mão de obra brasileira, alto índice de nacionalização dos produtos e soluções e com qualidade internacional. Simultaneamente, cabe à indústria nacional ampliar sua capacidade de exportação, reduzindo a longo prazo a dependência sobre os recursos públicos.
Para conseguirmos a sonhada autonomia tecnologia é necessário que o governo mantenha um programa de investimentos com visão de longo prazo, garantindo os recursos necessários para a realização dos projetos.
T&D – De que forma os constantes contingenciamentos dos orçamentos da área de defesa impactam no planejamento da ODT?
André Amaro – Certamente, a ampliação dos investimentos é fundamental para uma indústria mais forte. Mas a continuidade dos investimentos é tão importante quanto a ampliação desses. É preciso que haja previsibilidade e visão de longo prazo. Investimentos de forma criteriosa, estratégica e contínua se mostram essenciais para que o setor se desenvolva e contribua para colocar e reforçar o Brasil como uma liderança regional com protagonismo global, além de ajudar na garantia da soberania nacional. É importante, sobretudo, ter sempre como objetivo o crescente grau de nacionalização na produção desses meios. A execução sincronizada e consistente da END por parte do governo vai gerar um ciclo virtuoso na Base Industrial de Defesa com alto impacto no valor agregado de toda a indústria nacional.
T&D – Qual tem sido a política da ODT para o aperfeiçoamento e a fixação do seu quadro de colaboradores?
André Amaro – A ODT possui em seus quadros profissionais altamente qualificados e especializados. Buscamos investir em treinamentos, em troca de conhecimento com a academia e também no contato direto com as Forças Armadas para absorver conhecimento e entender mais profundamente as necessidades e, assim, poder desenvolver soluções mais adequadas. O quadro de integrantes, atualmente, está compatível com as necessidades e exigências dos projetos.
T&D – Agradecendo a oportunidade desta entrevista, gostaríamos que o senhor deixasse uma mensagem ao nosso público leitor.
André Amaro – Gostaria de reforçar a importância da continuidade e previsibilidade dos investimentos pelo governo. Isso trará cada vez mais força e desenvolvimento para a indústria nacional de defesa e, consequentemente, para o Brasil, especialmente num ano ainda desafiador como deve ser 2015. Nos desafios encontramos oportunidades e entendemos que este ano seguirá nessa linha, que, se bem aproveitada pelo governo e pelas empresas do setor, pode representar desenvolvimento e crescimento para a base industrial de defesa no País.
Também será um ano em que a ODT continuará investindo no desenvolvimento das pessoas, buscando a geração de empregos de alta renda em função do maior valor agregado de suas atividades e do conteúdo tecnológico de seus projetos. A empresa também continuará desenvolvendo projetos e soluções que sejam importantes e estratégicas para o Brasil, contribuindo, assim, para a retenção de conhecimento e tecnologia, para o crescimento do Brasil e para que nos tornemos cada vez mais uma nação bem protegida e que exerce plenamente a sua soberania, consolidando a liderança regional e com capacidade para atuar de forma protagonista no cenário global.
E, reforçamos que a ODT tem muito orgulho em fazer parte desse momento, em poder contribuir para a história do desenvolvimento, crescimento e da proteção do País. Fazemos parte da construção do Brasil mais soberano, com maior conhecimento tecnológico, consolidando esse legado para as gerações futuras.
FONTE: T&D
Ótima entrevista, parabéns aos amigos do DAN pelo furo!!!
Pronto, fiquei fã . . . . importante na entrevista as tantas vezes citada, Soberania Nacional. Detalhe mencionado, a necessidade de continuidade e previsibilidade . . . . é o que eu gostaria de ouvir.
Espero que a concorrência internacional não “turbine” gente daqui, para que interrompam mais um de nossos grandes empreendimentos . . . . não é pedir muito . . . .