Por Arthur CostaDe Melbourne, Flórida
Parte da mão-de-obra de programa especial norte americano foi absorvida. Eles atuam no primeiro centro de engenharia da empresa fora do Brasil.
O retorno da nave espacial Atlantis, em julho de 2011, marcou o fim de uma era. Depois de 30 anos acabava o programa espacial norte-americano. O impacto imediato da medida foi a demissão de mais de 7 mil profissionais da agência espacial dos EUA, a Nasa. Mas se o clima foi de despedida em Cabo Canaveral, na Flórida, sede da agência, o momento foi de oportunidade pra quem buscava mão de obra qualificada na região.
A Embraer, que havia fundado uma unidade no mesmo estado poucos meses antes do fim do programa espacial recrutou parte destes demitidos, principalmente engenheiros. Eles correspondem atualmente a 10% do total de profissionais que formam a equipe de 150 funcionários do primeiro centro de engenharia da empresa fora do Brasil e atuam em um prédio inaugurado em 2013 no complexo de Melbourne.
Brian Hammer passou 13 de seus 40 anos de vida na Nasa. Participou do projeto das últimas missões da nave Atlantis. Era responsável pelo setor que desenvolvia a tecnologia que permite a qualidade de vida dos astronautas dentro da cabine espacial, como o controle da temperatura e pressão atmosférica.
Com o fim do programa espacial, ficou em dúvida sobre o seu futuro. Tinha medo que as pesquisas e a tecnologia criada se perdessem. “Via muitos colegas perdendo o emprego e ficava pensando onde poderíamos continuar desenvolvendo toda essa tecnologia. E acho que a Embraer pensou o mesmo”, disse Brian, há quatro anos na fabricante de aviões.
Ele conta que o trabalho é parecido com o que fazia na Nasa, até porque a essência da cabine tanto de um avião quanto de uma nave espacial é a mesma – dar segurança a quem está dentro.
Kevin Charles é outro profissional ex-Nasa que integra o centro de engenharia da empresa brasileira. Ficou na agência espacial por oito anos. Pra ele, a diferença do trabalho atual para o antigo é maior no ambiente da empresa, que mistura a filosofia norte-americana com a brasileira. “Aqui é como uma família. Trabalhamos muito mais relaxados”, disse o engenheiro que trabalha no mesmo setor de Hammer.
Quem comanda o centro de engenharia é o brasileiro Paulo Pires, na empresa há 16 anos. Há um ano foi transferido da sede de São José dos Campos para Melbourne. “O pessoal da Nasa tem uma preocupação com a segurança muito grande, assim como nós. Eles levam isso muito a sério e acho que por isso se encaixaram tão bem no nosso modo de trabalhar”, disse Pires.
Parte do trabalho em Melbourne é feito em conferências com o grupo que fica no Brasil. Em São José, a equipe da Embraer conta com 4 mil engenheiros.
Trabalho
O centro de engenharia em Melbourne é voltado para aviação executiva e trabalha em duas frentes principais, sendo uma de desenvolvimento de interiores (parte de dentro dos jatos), produzindo inovações tecnológicas que são vistas pelos clientes; e outra focada nos sistemas elétricos e aviônicos, algo mais voltado pra melhoria no desempenho das aeronaves.
O prédio conta com laboratórios e oficinas. Muita coisa é mantida em sigilo, mas uma das novidades desenvolvidas por lá que o G1 teve acesso é o “upper tech panel”, que é um painel que indica as informações do voo para o passageiro, que pode selecionar qual dado deseja visualizar no sistema touch screen. Ele é tratado como um ‘xodó’ pela equipe que comanda a aviação executiva. A previsão é que ele esteja no mercado no primeiro trimestre de 2017.
“Queremos que ele seja uma marca da Embraer. Algo que o cliente, ao entrar na aeronave, vai saber que aquele é um avião da Embraer”, disse Marco Túlio Pellegrini, presidente da aviação executiva da empresa.
Inovação
Outra inovação do centro é uma sala que simula realidade mista – virtual e real. Feita em parceria com uma empresa de sistema de imagem, é usada a menos de um ano para desenvolver alternativas para o interior dos jatos.
Com um chão que parece um conjunto de ‘QR Codes’, é possível, com um capacete, estar dentro de uma aeronave e testar mudanças em tempo real.
Com a expansão na unidade em Melbourne, a meta da empresa é contratar de forma gradual mais 200 engenheiros nos próximos dois anos.
O repórter do G1, Arthur Costa, viajou para a Flórida à convite da Embraer para acompanhar a inauguração da linha de montagem dos jatos Legacy 450 e 500 nos EUA. Até quinta-feira (9) serão publicadas reportagens sobre as atividades da Embraer no país e curiosidades da empresa no mercado norte-americano.