Com a proximidade da LAAD – Defence & Security, que terá início no próximo dia 14, o Defesa Aérea & Naval – DAN entrevistou a Sra. Valerie Redron, CEO da Sagem/Optovac, uma empresa do grupo SAFRAN. Confira abaixo a entrevista.
DAN – Com a consolidação da Optovac na fabricação do FCS de 725 e do binóculo JIM LR, qual o próximo passo que a Sagen/Optovac irá dar no Brasil?
Valerie Redron – Eu vou voltar um pouco antes disso. A Sagen chegou aqui em junho de 2012, com objetivo de desenvolver no Brasil sua tecnologia. A compra da Optovac foi uma oportunidade para desenvolver uma competência local. A empresa ficou um tempo em Osasco, e em março de 2013 inaugurou sua sede atual em São José dos Campos-SP, um local mais apropriado para o desenvolvimento da capacidade industrial para a produção do Sistema de Controle de Voo – FCS (Flight Control System) do E725.
Agora nós recebemos a certificação de qualidade ISO 9001, e temos capacidade de produzir o AFCS (Automatic Flight Control System), para o helicóptero H725, que é o piloto automático composto de componentes eletrônicos e inercial, e um chip-set de dez à quinze elementos altamente complexos, e a capacidade de sua manutenção.
Estamos nos preparando para o projeto seguinte com o helicóptero Pantera da aviação do Exército, onde esperamos assinar o contrato para 30 sistemas AFCS, depois se o Exército desejar, podemos fazer o mesmo para o Cougar.
Em paralelo, estamos trabalhando para obter a certificação RBAC145, que deverá sair em meados de julho, para então poder realizar a manutenção de todos os equipamentos Sagem/Optovac e spares das aeronaves E225/725, Cougar, Pantera/Douphin e Fenec, das forças armadas e da aviação civil. Atualmente o Brasil possui em torno de 800 helicópteros com AFCS Sagem/Optovac.
DAN – A Sra pode nos dizer em que nível se encontra a proposta dos periscópios Optrônicos para equipar nossos subs Scorpene?
Valerie Redron – A parte de Optrônicos é um pouco mais complicada, por que a tecnologia de infravermelho no Brasil é controlada pelo Exército. Para importar a tecnologia, é necessária a autorização do Exército. Fizemos todo o investimento para produzir o optrônico portátil e agora temos que receber autorização do EB, para produzir. Fizemos um plano de nacionalização que foi aprovado, fizemos a primeira produção de um protótipo e agora vamos enviar este protótipo para experimentação no Centro de Avaliações do Exército (CAEX), e não sei quanto tempo levará para ser aprovado e recebermos a autorização para a produção no Brasil.
Após o recebimento da autorização, será possível desenvolver outros sistemas optrônicos. Para a Marinha do Brasil, a Sagen trabalha em dois segmentos: Sistema de Navegação Inercial e Mastros Optrônicos. Para os Scorpenes, a Sagem tem contrato com a DCNS para os 3 tipos de periscópios: de Ataque, de Vigilância e de Radar.
O objetivo é que a Optovac realize toda a manutenção dos mastros aqui no Brasil, não havendo mais a necessidade de que sejam enviados para manutenção no exterior. Em paralelo, a Optovac tem o objetivo de produzir os mastros do submarino nuclear que a Sagem está oferecendo à DCNS para a Marinha do Brasil no projeto do retrofit dos mastros da classe Tupi, ainda em estudos. Os mastros seriam os mesmos oferecidos pela Optovac para o submarino nuclear. Caso a MB opte por este retrofit, haverá um ganho em termos logísticos, pois os 9 submarinos teriam o mesmo modelo de periscópio com manutenção da Optovac, no Brasil.
DAN – Caso o NAE SP venha a ser modernizado, quais equipamentos a Sagen pretende oferecer para a MB?
Valerie Redron – Fizemos uma oferta para modernizar o espelho de pouso do NAe São Paulo, oferecemos também o sistema DALLAS (Deck Approach and Landing Laser System), que auxilia tanto o operador no convoo, como também o piloto do avião, tornando as operações muito mais seguras. O DALLAS foi desenvolvido para o novo porta aviões da França. Também foi oferecido o nosso sistema de navegação inercial Sigma 40.
No Brasil temos um contrato com a FINEP, através do programa INOVA AERODEFESA. É um projeto para desenvolver uma versão subsea da central inercial com tecnologia de giroscópio HRG (hemispheric resonant gyro), aqui no Brasil, junto à Universidade de São Paulo e com o IPQM da Marinha do Brasil.
DAN – Qual o impacto para a Sagem da redução, quase paralisação das entregas dos H725 para as FFAA’s?
Valerie Redron – Para mim foi muito difícil por que deveríamos produzir 8 kits de AFCS este ano e deveremos ter apenas alguma produção com o Pantera, mas vamos focar em manutenção.
DAN – O mercado de off shore que seria a opção natural, está demitindo vários pilotos devido a crise atual da Petrobrás. A Sagen irá reduzir seus investimentos o Brasil face a esta realidade?
Valerie Redron – Reduzir agora não, porque os investimentos estão feitos, mas reduzir sim. Investimentos neste ano será mais ou menos nulo, pois não temos contratos para desenvolver.
DAN – A Sra poderia nos dizer qual a estratégia da Sagen para o Brasil em 2015/2016?
Valerie Redron – Em 2015 será muito difícil e não devemos ganhar dinheiro. Apesar do prejuízo, temos que passar esse ano da melhor maneira possível, desenvolvendo novos negócios, implementando a área de manutenção, por exemplo. O problema é que não sabemos quanto tempo o país levará para sair da crise. A Sagen continuará acreditando no Brasil e esperamos que após 2016, a crise passe. Vale a pena esperar 2 anos, porque o Brasil é um país com muitas oportunidades.
O Defesa Aérea & Naval agradece a Sra Valerie Redron a gentileza em nos receber para essa entrevista.
É positivo, promissor, significativo e importante vermos o discurso de uma mulher de aparência tão frágil, mas de destacado talento, coragem, competência e capacidade profissional, falar com tanta simplicidade, segurança e confiança da sua crença no desenvolvimento do nosso país, sendo ela uma estrangeira, enquanto por aqui, entre os nossos, a história é outra.