Por Luiz Padilha
O DAN esteve no auditório da Escola de Guerra Naval, no Rio de Janeiro, onde a Marinha do Brasil divulgou a Solicitação de Proposta (Request for Proposal – RFP), para a obtenção de navios de superfície do Projeto “Corveta Classe Tamandaré”. O evento contou com a presença do ministro da Defesa, Raul Jungmann, que em seu discurso, enfatizou que o investimento do projeto será da ordem de US$ 1,6 bilhão, visando o mercado de defesa nacional e internacional, com previsão de entrega da 1ª corveta em 4 anos após a assinatura do contrato com o vencedor da concorrência, e as outras 3 corvetas ao final de 8 anos.
“Esse projeto surgiu durante minha primeira reunião com o Estado-Maior da Armada, logo após eu assumir o Ministério. A Marinha nos deu um quadro muito realista da situação da nossa Armada. Estávamos vendo um processo de obsolescência e não tínhamos um programa de modernização”, relatou o ministro durante a cerimônia de chamamento público.
Com o auditório tomado pelo Almirantado, representantes de entidades e federações, empresários brasileiros e estrangeiros, o Ministro explicou que a grave crise fiscal era uma barreira a ser superada, e para isso foi preciso “pensar fora da caixa” e buscar alternativas.
“Foi isso que foi feito com muita engenhosidade, dedicação e trabalho, da parte da Marinha e da Secretaria de Produtos de Defesa do Ministério. Nós temos a EMGEPRON, uma empresa pública, que não é dependente do Tesouro, e portanto, fora dos limites do teto de limites de gasto. Metade do caminho, nós tínhamos trilhado. Encontramos uma válvula onde poderíamos alocar projetos”, disse o ministro.
O Ministro afirmou que capitalizar a EMGEPRON era o caminho: “E começou uma outra dura batalha de convencimento e contamos com a compreensão dos ministros Fazenda e do Planejamento, e particularmente, com o apoio firme do presidente Michel Temer. E assim uma solução foi encontrada. É algo que nos toca muito, a necessidade que tem o Brasil de contar com meios, sejam eles da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, compatíveis, e de manter sua capacidade de dissuasão. Muita gente acha que, porque há 147 anos não temos nenhum conflito interestatal, reduza-se a capacidade operacional e de dissuasão e as ameaças brotam”, alertou Jungmann.
O ministro aproveitou a ocasião e informou que a Marinha adquiriu o navio multifunção HMS Ocean, da Marinha inglesa, por £ 84 milhões, com recursos próprios. “E também estamos negociando a construção de navios patrulha”, disse ele.
Em seu discurso, o comandante da Marinha, AE Leal Ferreira, agradeceu o empenho do ministro Jungmann e falou da expectativa da Marinha para o futuro. “Neste momento que reunimos representantes de diversas empresas nacionais e internacionais, federações das indústrias, associações e sindicatos, estaleiros, gostaria de tecer alguns comentários sobre as corvetas Classe Tamandaré, que representa importante marco na retomada da construção de meios para o Núcleo do Poder Naval”, disse o almirante.
“A Marinha se sente muito orgulhosa com o sucesso e desenvolvimento de diversos projetos, em parceria com o setor privado, ressaltando o comprometimento e a confiabilidade da Marinha em relação aos compromissos por ela assumidos”, disse Leal Ferreira.
A apresentação dos principais pontos do Modelo Global de Negócios previsto na RFP, foi feita pelo diretor de Gestão de Programas da Marinha, Vice Almirante Petrônio Augusto Siqueira de Aguiar.
Em uma rápida apresentação, o VA Petrônio pontuou a nova gestão que a MB irá empreender, onde um dos pontos mais importantes é a Gestão do Ciclo de Vida (GCV) do navio, onde a empresa vencedora ou “Main Contractor”, irá fornecer um plano de GCV englobando todo um sistema de apoio logístico e técnico para a manutenção pós venda dos meios.
O modelo de negócio prevê a participação de empresas instaladas no Brasil, e espera-se que seja alcançado um percentual de 40% no índice de nacionalização, sendo aceito 30% para a 1ª unidade.”
O VA Petrônio mencionou também a obrigatória participação de empresas brasileiras, preferencialmente, empresas estratégicas de defesa – EED, que possuam expertise em sistemas de comando e controle. Todo esse processo deverá garantir envolvimento pleno da Marinha, afim de assegurar total domínio e conhecimento gerado pelo desenvolvimento e integração dos sensores e dos armamentos.
Após as coletivas realizadas, os envelopes foram distribuídos as empresas interessadas. O processo de seleção analisará as propostas, e segundo o VA Petrônio, o navio à ser construído poderá ser de propriedade intelectual da Marinha do Brasil ou da empresa selecionada, desde que a proposta seja igual ou superior à que a Marinha possui.
Ah… sim muito interessante a colocação do VA Petrônio… o escolhido pode não ser o projeto da Tamandaré, e sim outro superior, se a proposta for dentro do valor previsto pela MB…
Abraços
Parabéns ao DAN pela cobertura…
Mas não entendi as palavras do ministro…”Que o projeto surgiu na primeira reunião…” -o projeto da Tamandaré não é mais antigo?
e “… processo de obsolescência e não tínhamos um programa de modernização…” – Programa tínhamos… e ainda temos, o PROSUPER…
Caímos no velho problema de projetos não serem de estado e sim de governo (partido), e trocando o governo, quem assume não da segmento… O projeto e o programa existiam, apenas não haviam sido iniciados (como por exemplo o FX2 e Prosub)… mas existiam…
Discursar com afirmações destas, é o mesmo que chamar os Almirantes de idiotas e sem serventia…
No mais, parabéns ao ministro por conseguir dar início aos processos (Tamandaré e Ocean)…
Novamente, parabéns ao DAN.
Abraços
Caro Andre, respeito sua opinião, mas discordo em parte dela no que diz respeito a necessidade ou condição ou não de o Brasil ter um navio do porte do HMS Ocean. Primeiro que acho que nosso país deve sim ter uma esquadra capitaneada por um navio deste porte e tem sim condições para isso. somos a 8º potencia econômica do globo, o 5º maior país em extensão territorial e com uma costa gigantesca com riquezas a explorar de grande importacia para o futuro da nação, não devemos nos apequenar e acreditar que somos um país pobre e sem a necessidade de ter defesa capaz de dissuadir eventuais ameças diante de um cenário global cada vez mais instável e multipolar.
Acho que fui claro ao dizer que vi nessa compra do Ocean uma jogada astuta dos almirantado da MB, que junto com a já em pleno processo de aquisição das corvetas Tamandaré, colocaram uma Nao Capitania no tabuleiro que justifica mais ainda a urgência de se ter meios que protejam esta embarcação e complemente a esquadra como um todo.
Os trilhões de reais que se escorreram pelo ralo da corrupção parece que não contam na caderneta de quem acha que o Brasil não tem dinheiro para isso ou aquilo.
Só acho que diante das limitações impostas, temos que jogar com as cartas que temos e essas são as nossas cartas, ou melhor, as cartas da MB!
Grato pelo debate, atm…
No que se refere ao poder aquisitivo do Brasil, Joélison, realmente estamos bem já que temos praticamente o monopólio do nióbio, reservas do pré-sal e os trilhões de impostos que o governo arrecada. As forças armadas teriam mais oportunidades se o governo destinasse pelo menos 10% do pib em investimentos nas forças armadas (levando em consideração toda essa riqueza). E se outro ponto importante é termos política de Estado para a defesa nacional e não de governo. valeu!
O DAN tem salvado a pátria do noticiário bélico nacional, desejo sorte e parabenizo a gestão do almirante Leal Ferreira.
Padilha, vc saberia dizer se estas conversações sobre construção de navios patrulha se refere ao Napa 500BR??
Há uma quantidade específica inicial já mencionada por parte da MB???
Desde já agradeço e parabéns pela matéria e que venha o ex-Ocean e futuro xxx.
Tenho quase certeza de serem os 500t sim… Incluindo, em priori, o Navio Patrulha Maracanã. Um projeto bonito e adequado, diga-se de passagem
Sim, será este projeto que será seguido.
Ainda estão decidindo.
Bem, pelo visto o Ocean já é da MB.
Parabéns pela aquisição.
Agora, em relação ao nome??? Pelo amor de Deus, sejam criativos!! MG, SP, RJ já foram, o Brasil é bem mais do que estes três estados. Por que não homenagear o pequeno estado do Espírito Santo ou Santa Catarina???
penso a mesma coisa, o Brasil tem mais de 20 estados, mas para a marinha são só esses.
Matéria muito boa e informativa.
Acho que dentro da limitações orçamentárias impostas pelos corruptos do poder as FFAA’s, a MB, bem como as demais forças têm feito um bom planejamento e emprego de seus projetos!
O projeto das corvetas devem sem conduzidos da melhor forma, desde que nós possamos no futuro ter a capacidade de manutenimento e ou produção de novos equipamentos desde desse projeto.
quanto a compra do HMS Ocean, acho que foi uma ótima aquisição, já que é um navio moderno e ainda operativo por muitos anos com preço irrisório diante da construção de um novo navio capitânia para a nossa esquadra.
O pessoal que reclama da não existência dos navios para a escolta do Ocean, podem muito bem responder os que reclamam da não existência de um navio capitânia para ser escoltado, para mim um depende do outro, mas a existência de escolta em suma depende da existência de navios de grande porte que liderem a esquadra e nada impede de a partir de agora se tenha o argumento e a garantia de que esse navio precisa de escoltas. Como argumentar a construção de navios escolta se ainda não há o que escoltar?
Sacaram a jogada dos comandantes da MB?
Vamos por parte Joélison.
Nem toda marinha precisa ou pode ter navios capitânia desse porte do Ocean. São navios caros (principalmente se forem novos) e nem todos países tem recursos para operá-los e mantê-los, ainda que possuam uma enorme costa marítima e principalmente oceânica. A marinha paraguaia por exemplo nem acesso aos oceano possui, o que dirá ter nau-capitânia! Há uma “marina” mas não há navios.
Os grandes navios dependem de escoltas, mas escoltas não dependem de grandes navios Joélison – não sei de onde você tirou isso! Realmente um depende do outro, mas o outro não depende do um. Se nota que você fala mais por entusiasmo do que por razão. Não é porque eles são chamados de navios escolta que eles servem apenas para esse propósito, isso porque a função de apoio é uma das atividades de corvetas, fragatas, destruidores e cruzadores. Portanto, quando falamos de navios de escoltas, não estamos nos referindo apenas á corvetas e fragatas mas também de destruidores e cruzadores com auto poder ofensivo, e não meramente protetivo. É só vim a sua mente o convés do cruzador Kirov para ter uma ideia do que estou falando! Os cruzadores foram empregados para portar pesados mísseis teleguiados antiaéreos por causa dos aviões camicases da Segunda Guerra. Digamos que você está mal assessorado nesse tema. Veja o exemplo de operações russas e norte americanas com o uso ofensivo de ataque em solo no Oriente Médio com mísseis. Onde tem escolta nessas operações? Só para relembrar, o Trump destruiu um depósito de armas químicas da Síria em resposta aquela crise de armas tóxicas usando um de seus destruidores. O apoio de fogo ao fuzileiros também é uma operação muito importante para essa classe.
A escolta é uma tarefa essencial mas não única. São “navios de elite”, onde cruzadores destruíram couraçados sem mesmo ter a função de proteger outros navios. Um exemplo até próximo foi o caso do couraçado Graf Spee que foi combatido por cruzadores no primeiro combate da Segunda Guerra Mundial. E justamente na nossa redondeza. Inclusive, falando dessa guerra, os alemães usavam não apenas submarinos para atacar navios mercantes mas também cruzadores e couraçados.
Esses navios, Joélison, precisam se “alimentar” durante operações navais, bem como as respectivas tripulações precisam se abastecer também. Como eles operam helicópteros e aviões, no caso dos porta-aviões, essas aeronaves também precisam beber. Precisam repor armamentos. E como eles serão supridos com essas necessidades sem um esquadrão de apoio longe da base? Nem sempre o apoio de terra é possível, ou até mesmo viável, dependendo do exercício, estratégia ou missão.
Enfim. No meu caso Joélison não se trata de uma simples “reclamação” e sim uma crítica criteriosa. Entendo que você como muitos estão entusiasmados com a vinda desse grande navio para nossa esquadra. Eu também gosto de grandes navios como o Ocean e também o quero em nossa frota. Mas o que se está criticando não é necessariamente o navio em si mas as condições que envolvem outras unidades mais importantes que precisam ser adquiridas.
Levando em consideração que o estaleiro de Itaguaí terá mais de uma oficina de construção (prédio principal e outros de manutenção) onde a construção dos submarinos não será afetada e que o Arsenal do Rio fará a manutenção dos Tupis e Tikuna disponibilizando o estaleiro de manutenção para construção: esta estrutura poderia ser melhor aproveita para a empreitada das corvetas, apesar de que não sei se a Nuclep e a UFEM poderiam corresponder a mesma demanda. Uma infraestrutura nova, adequada para o porte das corvetas que é o mesmo dos submarinos diesel – principalmente se levarmos em consideração o nuclear -, uma produção simultânea de submarinos e corvetas do mesmo fabricante dividindo o mesmo espaço são algumas condições que deveriam ser consideradas no meu ponto de vista. Não estou dizendo necessariamente que outro estaleiro não teria condições de usar esse espaço.
Outro fator interessante que também deveríamos debater é se o Naval Group [NG] fosse escolhido mais uma vez pela Marinha, ainda mais por essa ideia que falei antes. Como muitos adeptos do submarino alemão argumentavam que o certo seria continuar com o estaleiro germânico no caso dos Tupi, nesse caso dos franceses não seria diferente, ainda que sejam categorias distintas de navios. Ter, simultaneamente, o mesmo estaleiro produzindo o submarino e a corveta e com a interação já entrosada entre brasileiros e franceses por quase uma década seria uma vantagem a mais para essa nova classe. Isso sem falar do forte lobby que eles (NG) terão por causa desses submarinos e estaleiro, ambos de sua “autoria”.
Quanto ao Ocean, seja bem vindo! Se ele disse que comprou, divulgou custo e que o prazo de entrega ficou para o fim do ano que vem é porque a outra rodada de vistoria de oficiais ao navio foi descartada ou apenas para cumprir tabela, definindo sua aquisição. Quem sabe ele vindo algum anfíbio vai indo, não só pela idade avançada do navio que for como pela economia de recurso com navios redundantes.
Caro Padilha, li em outro forum, que a MB está estudando comprar o projeto pronto de estaleiros internacionais, parece ter havido uma onda de propostas oferecidas e com preços muito mais em conta, com projetos melhores, sabe informar se é verdade? Pois se for tera um custo beneficio bom para MB, com o contra de não serem fabricados aqui né.
Abraços
Otimo avanço paras tamandares. E agora é oficial, a MB conprou o Ocean! Achou uma boa compra padilha?
Agora sim. Minha preocupação anterior sobre a verba atrapalhar o programa CCT foi esclarecido.
Segundo infos extra oficiais as máquinas do navio estão boas, então que venha o XXXX. Já podem começar a pensar nome dele na MB.
Quanto a mim, ainda não estou totalmente convencido por ter outros fatores mais estratégicos que o Ocean. A situação das máquinas, da verba e da escolta dele que será reforçada dentro de quatro anos com uma dessas unidades em operação ainda não desmerecem a atenção que deveria ser dado para a substituição do Marajó. Ainda acho que ele seja uma boa oportunidade mas não uma prioridade por causa do Bahia que tem a mesma idade do Ocean e serve como apoio logístico improvisado. Não se trata de difamar o navio mas de ter mais consciência operacional e gestora. É como você deixar de pagar o aluguel de sua casa e gastar esse recurso em lazer: importante mas secundário.
“Mas Esquadras não se improvisam!” E se a Marinha levasse esse ditado seriamente em seus planos o Ocean nem seria oferecido. Aquele navio holandês seria mais útil que esse inglês, onde trocar operacionalidade por oportunidade é uma demonstração de pouco profissionalismo de nossa Marinha. O que estou querendo dizer Padilha é que essa empolgação de um grande navio em nossa frota pelo orgulho que ele proporciona não deveria ser mais importante do que uma Esquadra bem servida do mínimo necessário. É só você pensar no Bahia abastecendo o Ocean (em uma eventual indisponibilidade do Gastão Motta): dois fundamentais e lentos alvos expostos ao mesmo tempo. Que maravilha! Uma nau capitânia e outro navio importante á mercê de alvos aéreo e sobretudo submarino. Já que navios de apoio logístico estão longe de ser prioridade para a Marinha não cabe a mim ficar batendo nessa tecla.
Um nome que eu adotaria Padilha seria Rondônia. Nome alusivo aos próprios navios ingleses Mauretania, Lusitânia, Campania, Lucânia, Carônia etc. Apesar de que eu acho que nomes de estados brasileiros não são os mais adequados para navios, ainda mais se for com o pretexto de homenageá-los. Não são “da hora”.
Bom, vamos torcer para que tudo corra bem, parece que pelo novo sistema de contratação, a MB aprendeu alguma coisa com erros do passado.
Matéria rica em informações! Foi a melhor que eu li sobre o evento.
Parabéns ao DAN.
Obrigado.