Por Leonardo Dutra
Patrimônio avaliado em R$ 70 milhões. Comprada pelo governo federal nos anos 1980 e 1990, mais da metade da frota das aeronaves de treinamento Aero Boero encontra-se sem condições de voo encostada em pequenos aeródromos do país.
Milhares de brasileiros aprenderam a voar em uma das aeronaves mais emblemáticas da aviação de instrução do país, o Aero Boero. Nas últimas três décadas, incontáveis comandantes realizaram seu primeiro voo como piloto no assento dianteiro deste avião “asa alta” argentino. Hoje, porém, boa parte da frota de modelos Aero Boero, que pertence à União, agoniza abandonada em hangares de aeroclubes.
A operação do Aero Boero no país é resultado de um programa de modernização da frota de aviões para instrução desenvolvido pelo governo federal. Entre 1987 e 1994, o país adquiriu 366 aeronaves Aero Boero para equipar suas escolas de aviação. Todas foram cedidas para os aeroclubes, das quais apenas algumas continuam em condições de voo.
O lote de aeronaves compradas da fábrica argentina era composto de 306 unidades do modelo AB-115, utilizado para o treinamento de pilotos, e 60 unidades do modelo AB-180 que, dotado de um motor mais robusto, é utilizado para o reboque de planadores. Do número total de 366 aeronaves apenas 128 ainda estavam em condições de voo no primeiro semestre deste ano de 2016. Em outras palavras, aproximadamente 65% da frota de aviões de instrução da União Federal está fora de operação, segundo dados do Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB).
Apesar de não ser possível adquirir uma aeronave Aero Boero no Brasil, o avião possui um valor significativo no mercado argentino, onde um AB-180 usado vale em média 200 mil reais. Em um cálculo meramente ilustrativo, as 366 aeronaves brasileiras teriam hoje um valor de 70 milhões de reais no mercado argentino.
Embora seja grande a discussão sobre a necessidade de modernização da frota de aeronaves de instrução no país, a verdade é que muitos municípios brasileiros, especialmente aqueles distantes dos grandes centros, frequentemente contam apenas com os clássicos AB-115 para ensinar seus pilotos a voar. E, em se tratando de um patrimônio nacional, é razoável pensar sobre um melhor uso para esta frota de aeronaves, hoje parcialmente abandonada.
Um avião polêmico
A operação deste monomotor no Brasil sempre gerou polêmicas. Adquirido da empresa argentina Aero Boero, o avião desagradou os entusiastas da indústria aeronáutica nacional desde a chegada dos primeiros modelos ao Brasil. Mas, segundo o professor Jonas Liasch, aviador que acompanhou a aquisição destas aeronaves nos anos 1980 e 1990, a compra dos AB foi praticamente a única alternativa possível para o governo brasileiro naquele período. É que, no final dos anos 1980, não existiam opções viáveis para a aquisição, em grande quantidade, de aeronaves de instrução.
Essa falta de oferta se deu por conta de um conjunto de fatores que limitavam as opções de compra. A Cessna havia encerrado a fabricação de aeronaves leves, a Piper saía de um processo de falência e a Embraer estava focada na fabricação de aviões comerciais e militares. Assim, o governo federal decide adquirir quase 400 aeronaves da empresa argentina, substituindo o Paulistinha (CAP-4 e P-56C) pelo AB-115 na instrução das escolas de voo e oferecer o AB-180 para rebocar planadores nos aeroclubes.
O AB-115 Trainer é equipado com um motor Lycoming O-235-C2A de 115 hp, possui uma fuselagem treliça reticular, revestida em tela, e um conjunto de asa metálico construído em liga de alumínio. A principal deficiência do avião é o seu trem de pouso muito à frente do centro de gravidade da aeronave, com bitola estreita, e desprovido de amortecedores. Esse conjunto de fatores torna a operação da aeronave no solo um pouco instável. Entretanto, a instabilidade no solo é uma característica comum dos aviões convencionais e, embora seja grande o debate sobre a segurança na operação do AB, não existem elementos que apontem a inadequação da versão 115 para a instrução aeronáutica.
É uma aeronave exigente nas operações de decolagem e pouso, mas mostra-se estável e dócil em voo, conjuntura que, entre outros fatores, tem despertado a admiração dos aviadores que tiveram a oportunidade de pilotar um Aero Boero.
As diversas missões
Respeitado por muitos e contestado por outros, o Aero Boero é tema recorrente em debates de porta de hangar no Brasil. Contudo, a série de aviões AB é bastante respeitada na Argentina, figurando como uma das grandes realizações da indústria aeronáutica civil daquele país. No nosso vizinho, é grande a procura pelas aeronaves Aero Boero, que voam em atividades de instrução e lazer, bem como, são utilizadas em missões de pulverização de plantações na aviação agrícola.
No Brasil, os AB-115 e os AB-180 operam somente em voos visuais e as manobras acrobáticas são proibidas. Na Argentina, porém, um AB-180 opera IFR (Regras de Voo por Instrumentos) e está habilitado para realizar manobras acrobáticas. A Polícia de Córdoba (Argentina) possui um AB-180 em sua frota enquanto no Brasil duas aeronaves receberam matrículas da Força Aérea Brasileira e foram alocadas na Academia da Força Aérea.
A história e a presença deste monomotor marcam a aviação da América do Sul, sendo o Brasil o maior expoente das realizações do Aero Boero em uma atividade vital para o setor aeronáutico: o treinamento de pilotos.
Presente e futuro
Dados oficiais da Anac apontam que apenas 128 aeronaves, dos 366 aviões Aero Boero comprados pelo governo federal, permanecem em atividade em 2016. Aproximadamente 53% dos AB-180 estão em operação, enquanto 31% dos AB-115 ainda voam. Diversas escolas não querem ou não podem manter estas aeronaves na instrução de voo enquanto muitos aeroclubes pressionam a Anac para receber estes aparelhos para ensinar a voar.
O resultado desse impasse é um grande número de aviões abandonados e em processo de deterioração em algumas escolas, enquanto outros aeroclubes não possuem aeronaves suficientes para realizar a instrução de pilotos. Os aviões Aero Boero são um patrimônio do povo brasileiro. Ainda que seja complexo o problema que resulta no abandono destas aeronaves, parece razoável considerar que tais aviões seriam mais úteis no ar, na instrução de aviadores, do que parados em hangares. Em última análise, na opinião de muitos, em uma situação que deteriora o patrimônio material e imaterial da aviação de treinamento brasileira.É um assunto complexo, cercado por questões políticas e jurídicas que dificultam a resolução do problema. A principal dificuldade é a existência de entraves para a doação dos aviões, hoje cedidos para os aeroclubes. O decreto 99.658/90 estabelece barreiras para a doação das aeronaves, mesmo as que estão sem uso em alguns aeroclubes, para instituições que tenham interesse em restaurar e operar estes aviões. Aviadores, aeroclubes e a própria Anac até pressionam o governo para que se altere o referido decreto, mas o problema já se arrasta por anos, sem um prazo para resolução deste desperdício de recursos públicos.
FONTE: Aeromagazine
A única verdade verdadeira , tudo que é comprado com dinheiro público neste país vira sucata .
Avião ruim, pesado, com baixa potência, ruim de voar, controle no solo deficitário. Lembrando que muitos caíram e que na época da compra o presidente era o Sarnei ( e só para registrar, conforme matéria da revista FLAP na década de 90), amigo do dono da fábrica de AEROBOEROS, fábrica que na época era falimentar. Coisas do Brasil !!!! Triste e ineficaz.
Salve Gilberto, gaúcho que já me condenou a andar na prancha,kkk, deixa pra lá meu amigo…Concordo com você, mas a FAB teria condições$$ de recupera-las na atual situação? A ANAC, que em tese é a “concessionária” das aeronaves é que deveria reuní-las em um único parque aéreo, avaliar as condições de cada aeronave, canibalizar as mais lenhadas em prol das melhores e então redistribuí-las aos aeroclubes que se comprometam com sua boa utilização e manutenção.
Algumas aeronaves estão abandonadas porque a atividade de Aeroclubes decaiu, outras estão abandonadas porque em alguns Aeroclubes a aeronave argentina é malquista.
Em alguns aeroclubes onde a aeronave é querida se quer mais aeronaves.
O Patrimônio é da UNIÃO, se seus fiéis depositários não cuidam ou querem mais operar a aeronave a frota “parada ou abandonada” deveria ser recolhida pela FAB, recuperada e redistribuída para aeroclubes que precisam dela, algumas podem ser absorvidas pela própria FAB.
O EXCESSO da frota recuperada deve ser desmontada, enviada para a Argentina via TREM da ALL, e lá se monta as aeronaves e a FAB faz um feirão de aeronaves usadas pros HERMANOS que adoram as aeronaves, as adotarão e cuidarão bem delas…
Se QUISEREM resolver a solução é ESSA AÍ…
Ou então deixa TUDO à moda brasileira, larga tudo como está até as aeronaves ficarem irrecuperáveis…
Estranho, sinceramente, que defendam a privatizações de alguns serviços e outros não. O governo fez sua parte e me parece que a sociedade civil organizada recebedora desta aeronave não cumpriu com suas obrigações de manutenção dos mesmos. Desconheço a forma de cessão das aeronaves, mas deveriam haver contrapartidas ao jesmo tempo de fiscalização do Estado. O problema é a falta de projeto de nação com a ausência de pertencimento de um povo, ou seja, terra de todos pra direitos e nas obrigações terramde ninguém.
Completando o comentário anterior, a eficiência da ANAC é muito inferior ao que era o DAC, ao menos na atenção aos aeroclubes, aonde se formavam novos pilotos a um custo inferior aos das escolas privadas de aviação, pois os custos eram compartilhados com pilotos privados que voavam por prazer e “alugavam” aquelas aeronaves, contribuindo para o caixa dos mesmos, além da taxa de mensalidade. Para mim, a extinção do DAC é uma das causas que levaram ao fechamento de aeroclubes, ao sucateamento de boa parte das aeronaves de seus acervos (além das cedidas pelo DAC, muitos adquiriram outras com recursos próprios) e ao declínio da aviação esportiva no Brasil. Muitos PP abandonaram seu hobby por isso.
É consequência do encerramento de atividade de vários aeroclubes, no país inteiro. Na década de 80 eu tive instrução em CAP-4 e PA-18, depois tive oportunidade de voar uma única vez o AB, a impressão que ficou daquele voo é que o mesmo, apesar de muito estável, dava a impressão de voar “cabrado” mesmo com ajustes no estabilizador.