Fabricar aviões está entre as atividades industriais que mais demandam tecnologia. Apenas para colocar em funcionamento os aparelhos da cabine de controle da aeronave são necessários de 7 a 11 softwares, que devem operar em conjunto para que não haja falhas.
Além de exigir tecnologias complexas, a produção de aviões também precisa ser muito personalizada, para atender à demanda as empresas aéreas. Produzir com sucesso uma série de itens personalizados demanda um controle rígido do processo produtivo, desde a encomenda de componentes até a manutenção dos equipamentos já vendidos. E é para atender a essa demanda que companhias como a americana PTC desenvolvem softwares capazes de fazer a gestão de todo o ciclo de vida de produtos industriais. No mercado, esses sistemas são conhecidos pela sigla PLM.
Pouco conhecida dos consumidores, a PTC atua no Brasil há 16 anos, fornecendo softwares de PLM, de desenho industrial (CAD) e programas para gestão da cadeia de suprimentos (SCM), para 1,2 mil companhias – incluindo grupos como Volkswagen, Whirlpool, Randon, Tramontina, Cummins e Caterpillar, além de órgãos de governo, como o Exército do Brasil e a Marinha do Brasil.
Hoje, a companhia anuncia globalmente com a Embraer um acordo estabelecendo que a PTC vai fornecer, durante dez anos, um conjunto de softwares para a gestão do ciclo de vida de produtos industriais à fabricante brasileira de aeronaves. O valor do acordo é mantido em sigilo pelas companhias. Helio Samora, diretor-geral da PTC para a América Latina, disse ao Valor que apenas o contrato está na casa de “algumas dezenas de milhões de reais”.
A adoção dos novos softwares permitirá à Embraer avançar em seus planos de ampliar a receita com serviços. Atualmente, a área de serviços representa aproximadamente 10% da receita da Embraer e a meta da companhia é elevar esse percentual para 20% a 25% nos próximos anos, que é o percentual médio entre as fabricantes de aeronaves no mundo.
Há um ano, a Embraer iniciou o processo de escolha da empresa que seria a nova fornecedora desse tipo de software. Foram convidadas a participar da seleção cinco companhias de software: SAP – que já fornecida sistemas de gestão empresarial à Embraer, mas não quis participar do processo; Oracle, Siemens PLM, PTC e a Dassault. O processo de seleção incluiu o desenvolvimento de softwares para atender às demandas específicas da Embraer e uma bateria de provas de conceito para validação dos programas que durou cinco dias. A seleção foi concluída no dia 20 de dezembro do ano passado.
Para atender melhor à demanda da Embraer nos próximos dez anos, a PTC vai investir US$ 4 milhões no prazo de 12 a 15 meses para instalar um escritório em São José dos Campos (SP). Para a unidade serão contratadas 15 pessoas este ano, número que deve ser ampliado para 35 até 2014. No Brasil, a PTC possui sede em São Paulo, aproximadamente cem funcionários e parceria com 14 revendas de software.
De acordo com o executivo, dos 1,2 mil clientes que a PTC tem no país, entre 250 e 300 são companhias de grande porte. O restante são empresas consideradas pela americana como de médio porte, com receita anual entre R$ 300 milhões e R$ 600 milhões. A meta da companhia este ano disse Samora, é expandir as vendas no país principalmente entre companhias de pequeno e médio portes.
Também está nos planos da companhia americana elevar as vendas de softwares de desenho industrial (CAD) e programas de gestão da cadeia de suprimentos (SCM) com a introdução, no Brasil, de tecnologias que foram adquiridas pela companhia nos últimos dois anos com a aquisição da canadense NKS, comprada por US$ 303 milhões; e as americanas 4C Solutions (cujo valor da operação foi mantido em sigilo) e a Servigistics, comprada por US$ 220 milhões.
A PTC encerrou o ano fiscal de 2012, concluído em 30 de setembro, com lucro líquido global de US$ 182,863 milhões, montante 20,17% acima do verificado no ano fiscal anterior. A receita líquida no período aumentou 7,58% no período, para US$ 1,258 bilhão. A região Américas, na qual o Brasil está incluído, respondeu por 38% da receita total.
A PTC não divulga dados financeiros por país. Para o ano fiscal atual, a companhia projeta um crescimento de 12% a 15% em receita. No caso do Brasil, disse Samora, a receita com vendas irá dobrar apenas com o contrato fechado com a Embraer. “Também há outros contratos em negociação com empresas brasileiras, mas na faixa de alguns milhões de dólares”, afirmou.
FONTE: Valor Econômico – Cibelle Bouças