MARINHA DO BRASIL
CENTRO DE INSTRUÇÃO ALMIRANTE GRAÇA ARANHA
01/910
Rio de Janeiro, RJ, 12 de janeiro de 2021.
ORDEM DO DIA Nº 1/2021
Assunto: Jubileu de Ouro – Aniversário de 50 anos do CIAGA
“O CIAGA é o início, a base, a forja, a história e o espírito da própria Marinha Mercante brasileira.” Com essas palavras, o Contra-Almirante Luiz Fernandes, Comandante deste Centro entre 1988 e 1989, definia o Centro de Instrução “Almirante Graça Aranha”, Organização Militar da Marinha do Brasil, que tem o propósito de formar, especializar, aperfeiçoar e atualizar o pessoal das categorias profissionais da Marinha Mercante brasileira.
Criado em 12 de janeiro de 1971, o CIAGA surgiu da necessidade de revigorar o Ensino Profissional Marítimo, tornando-se, desde então, um marco para a formação do marítimo brasileiro.
Desde sua origem, o Ensino Profissional Marítimo teve, no Brasil, o envolvimento de nossa Marinha, tanto no processo de organização, quanto na formação e na qualificação de pessoal da Marinha Mercante, em seus mais variados níveis.
Dois eventos importantes, ambos ocorridos em 1852, marcariam a história da Marinha Mercante e uniriam o Rio de Janeiro a Belém do Pará, não por acaso a localização das atuais Escolas de Formação de Oficiais da Marinha Mercante, respectivamente, o CIAGA e o CIABA.
O primeiro evento representou um dos maiores empreendimentos econômicos do Império: a instalação da Companhia de Navegação do Amazonas, que operaria com navios a vapor construídos na Ponta da Areia, Niterói/RJ. Tal fato corresponde ao estabelecimento empresarial da Marinha Mercante brasileira, com capitais nativos.
A iniciativa empresarial, em área selvagem, com grande risco financeiro, que poucos acompanhariam por temor, foi do grande brasileiro Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, muito justamente elevado a Patrono da Marinha Mercante.
Cabe ressaltar que o Estaleiro da Ponta de Areia, na época, hoje Estaleiro Mauá, teve grande projeção, em função de sua participação durante a conflito da Tríplice Aliança, tendo Continuação da OD nº 1/2021, do CIAGA.
sido fator decisivo no esforço logístico de guerra. Esse esforço combinado entre a Marinha Mercante e a Marinha do Brasil consolidava, então, a estrutura do Poder Marítimo brasileiro.
O segundo evento ocorreria no Rio de Janeiro, com a vinda dos primeiros brasileiros com um curso formal de Engenharia Naval na Europa. O Arsenal do Rio sofreria uma notável ampliação e modernização, com a implantação de novas oficinas e atingiria um adiantamento técnico comparável aos mais avançados centros da Europa. Exemplificando os excelentes resultados alcançados, em 1890, foi construído o Cruzador Tamandaré, de 4.537t., navio cujo porte só seria ultrapassado 72 anos depois.
As transformações e as evoluções técnicas dos meios marítimos pressionavam o sistema de ensino e afetavam a vida marinheira em sua linguagem e seu conhecimento. A organização curricular buscava se adaptar ao emprego da nova tecnologia da época, representada pela propulsão a vapor nos navios mercantes brasileiros.
A partir de então, várias iniciativas foram realizadas, a fim de suprir o País com pessoal especializado nas lides da Marinha Mercante, tais como, em 1892, a criação da Escola de Maquinistas e do Curso de Náutica em Belém do Pará, embriões da Escola de Marinha Mercante do Pará; e em 1939, da Escola de Marinha Mercante do Lloyd Brasileiro. Nesse período, um fato histórico marcaria indelevelmente o Ensino Profissional Marítimo, a eclosão da segunda Guerra Mundial, pois se tornava imprescindível e inadiável o reforço da segurança nacional.
É nesse cenário, sob a urgência de grandes transformações organizacionais, que o Almirante Heráclito Graça Aranha assume a direção do Lloyd Brasileiro e da Escola de Marinha Mercante, imprimindo, com seu conhecimento e experiência, elevados níveis de motivação e profissionalismo, permitindo que o pessoal da Marinha Mercante passasse a constituir a Reserva Naval e a ser preparado, em termos profissionais e técnicos, tal como o pessoal de Marinha.
Assim foi até 1956, quando, em função do crescente número de alunos e da necessidade de ampliação das instalações, a Escola do Lloyd foi extinta, dando lugar a Escola de Marinha Mercante do Rio de Janeiro, pertencente ao então Ministério da Marinha. Subordinada à Diretoria de Portos e Costas, a Escola de Marinha Mercante foi edificada e instalada na Avenida Brasil, junto ao mar, local das atuais instalações do CIAGA, com capacidade inicial para formar 80 oficiais por ano.
Essa Escola promoveu, simultaneamente, um grande salto nas condições de atendimento e uma reformulação do Ensino Profissional Marítimo, com ampliação da grade curricular e com a inserção de aulas em laboratórios.
Porém, fruto do surto de desenvolvimento planificado que surgiu no País na década de 1960, com metas voltadas para o aproveitamento das riquezas marinhas, mais uma vez, houve a necessidade de incrementar a capacidade de formação de Marítimos. Assim, a Escola de Marinha Mercante do Rio de Janeiro cedeu lugar ao CIAGA, por meio do Decreto n° 68.042, de 12 de janeiro de 1971.
Nascia uma organização, que em seus 50 anos de existência, foi criando espaços, consolidando a sua estrutura, aperfeiçoando as suas estratégias e mostrando-se cada vez mais presente na sociedade brasileira, sempre fiel ao seu compromisso de formar e atualizar o pessoal da Marinha Mercante, a fim de contribuir para o desenvolvimento do País.
Dando provas desse compromisso, cito as palavras contidas na Ordem do Dia do artífice maior do CIAGA, o insigne Vice-Almirante Hilton Berutti Augusto Moreira, Diretor de Portos e Costas na época de nossa inauguração, em 10 de dezembro de 1971:
“Todo esse planejamento, toda essa estrutura administrativa, toda essa mobilização de
avançados recursos tecnológicos e de modernos processos pedagógicos, têm por única
finalidade: dignificar o Homem, facilitando sua rápida ascensão aos mais elevados
níveis profissionais. É o Homem, a preocupação máxima de todo sistema democrático.
Só pela sua valorização em todos os setores de trabalho, pode o Brasil atingir seu pleno
desenvolvimento”.
Desde então, o CIAGA, como uma “Nova Sagres do Atlântico”, tem consolidado sua vocação como centro de referência para a formação de jovens com pendor profissional ligado ao mar, do Brasil e dos países amigos, com base nos princípios de hierarquia e disciplina, e permeado por elevados valores morais e éticos.
Atualmente, O CIAGA se destaca por sua expressiva infraestrutura na área tecnológica e possui um diferencial relevante em seus serviços: sua capacidade de articulação institucional e interlocução permanente com os setores produtivo e acadêmico. A capacitação profissional, a excelência operacional e a valorização do capital humano deste Centro de Instrução têm sido verdadeiras bases para o incremento da Economia Azul.
Atestando a qualidade de nossos processos de ensino, o CIAGA, desde 2007, possui a certificação de conformidade ISO 9001, conferida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas. Além disso, nossos cursos são constantemente avaliados por auditorias da Organização Marítima Internacional e da Agência Europeia de Segurança Marítima.
Por dever de justiça, cabe destacar que, nessa travessia, temos contado com a valorosa colaboração e com o incentivo das empresas de navegação e demais entidades da comunidade marítima, as quais, além de apoio direto em algumas atividades, realimentam este Centro com preciosas informações sobre o desempenho dos formandos a bordo.
Assim, no dia em que comemoramos nosso Jubileu de Ouro, é mister reconhecer a dedicação e o profissionalismo de nossa tripulação, a qual, com abnegação e discrição, busca manter as atividades de ensino alinhadas com a constante evolução tecnológica da atividade marítima, tais como o e-navigation e a inteligência artificial.
Finalmente, cabe corroborar que apenas continuamos uma derrota traçada e percorrida por nossos antecessores: ex-Comandantes, militares, servidores civis, professores e instrutores, os quais lançaram uma base sólida e referências claras, que têm balizado nossa singradura, na firme convicção de que “O FUTURO DO BRASIL ESTÁ NO MAR”.
A todo pano!
Viva a Marinha Mercante!
ANDRÉ MORAES FERREIRA
Contra-Almirante
Comandante