Por Pedro Kilson
O Senado chileno ratificou, em 25 de janeiro de 2023, um acordo com os Estados Unidos (EUA) direcionado à cooperação em pesquisa, desenvolvimento técnico-científico e avaliação de projetos em matéria de Defesa. O convênio é produto de negociações desde 2016, no contexto da XII Conferência de Ministros de Defesa das Américas, em Trinidade e Tobago.
Os diálogos se concretizam em um cenário internacional marcado por uma confluência de crises na América do Sul, abarcando fragilidades econômicas, ondas de emigração e o crescimento do crime organizado no Chile. Nesse cenário, questionam-se as variáveis geopolíticas que tal acordo deve considerar em sua implementação.
A comunicação institucional entre as Forças Armadas e os Ministérios da Defesa objetiva aprofundar os canais de política externa em âmbito militar. Propõe-se construir um marco referencial para a implantação de projetos de ciência e tecnologia vinculados à indústria de Defesa, elevando o patamar de cooperação.
Destacam-se intercâmbios de informação e de capital humano, como engenheiros e cientistas, cofinanciamento de projetos de cooperação bilateral de interesse mútuo, fomento à inovação por meio de pesquisas conjuntas, acesso a tecnologias de enfrentamento da crise climática, bem como uma construção coletiva da capacidade militar.
O estreitamento de laços entre as Marinhas dos EUA e chilena, materializado pela visita oficial de uma delegação do United States Marine Corps (USMC) ao Cuerpo de Infantería de Marina (CIM), entre os dias 06 e 09 de março de 2023, corrobora os esforços políticos para a cooperação inter-regional.
Entretanto, a iniciativa encontra desafios estruturais, como a porosidade das fronteiras entre Bolívia, Chile e Peru, no deserto do Atacama, confirmando a ausência de coordenação político-institucional entre os países da região. Nesse contexto, ressaltam-se situações de instabilidade que afetam o quadro de segurança regional, dada a complexidade da inter-relação entre crises econômicas, institucionais, migratórias, sociais e climáticas. A atuação de organizações criminosas, como a venezuelana Tren de Aragua, vinculada ao tráfico de refugiados em corredores internacionais de migração irregular, se impõe como uma variável desestabilizadora na América do Sul.
Destaca-se, assim, o caráter regional dos gargalos em segurança verificados na fronteira norte chilena, considerando esse espaço como um reflexo direto da instabilidade no continente.
Conclusivamente, o êxito do acordo bilateral dependerá de políticas coordenadas de enfrentamento de uma crise de caráter internacional, que sejam capazes de contemplar a necessidade de comunicação institucional e administrativa entre as autoridades e considerem canais multilaterais de negociação.