Por Guilherme Wiltgen
A Ideia do Submarino na Marinha do Brasil
A ideia de dotar a Armada Brasileira com uma nova arma para a Guerra Naval germinou com o desenvolvimento, ainda embrionário, do submarino no final do século XIX e início do século XX.
Eventos históricos, como as experiências com protótipos realizadas por Luiz Jacintho Gomes e Emílio Júlio Hess, foram alvos de reportagens sensacionais e de grande importância para a época, com repercussões no exterior.
Em 1891, o então Primeiro-Tenente Felinto Perry encetava, com entusiasmo e competência, uma campanha para aquisição de submarinos para o Brasil. Seus trabalhos, publicados nos periódicos da época, foram motivos de reflexão e de ampla discussão, despertando o interesse público e motivando a Alta Administração Naval.
Em uma sentença, já àquela época, o Tenente Perry destacava o valor do submarino para a defesa da soberania do Estado: “…que o Brasil veja, o quanto antes, iniciada a sua Marinha no manejo dessa arma poderosa incontestavelmente, fator importantíssimo na defesa das fronteiras marítimas.”
Em 1904, o Ministro dos Negócios da Marinha, Almirante Júlio César de Noronha, incluía três submersíveis no Programa de Construção Naval. A aprovação deste programa pelo Congresso Nacional deveu-se, em particular, ao prestígio parlamentar de Laurindo Pitta, que habilmente motivou a Câmara dos Deputados para tramitação do projeto, em defesa da reconstituição do Poder Naval brasileiro.
O epílogo da campanha de aquisição de submersíveis para a Marinha do Brasil e o início da vida dessa nova categoria de navios na MB vieram a se concretizar em 1911, quando o Ministro da Marinha, Vice-Almirante Joaquim Marques Baptista de Leão, criou a Sub-Comissão Naval na Europa, em La Spezia, Itália, para fiscalizar a construção de três submersíveis encomendados ao Governo italiano.
Foi nomeado para o cargo de Chefe dessa Sub-Comissão o Capitão-de-Corveta Felinto Perry.
A Flotilha e a Força de Submarinos – Da Criação aos anos 60 – A Flotilha de Submersíveis
A 17 de julho de 1914 foi criada a Flotilha de Submersíveis, administrativamente subordinada ao Comando da Defesa Móvel, com base na Ilha de Mocanguê Grande, na Baía de Guanabara (Rio de Janeiro).
Operativamente, a Flotilha era subordinada ao Chefe do Estado-Maior da Armada.
A Flotilha de Submersíveis teve como seu primeiro Comandante o Capitão-de-Fragata Felinto Perry, incorporando três submersíveis da classe “F”:
Submersível F-1 – Comandante: Capitão-Tenente Mário de Oliveira Sampaio
Submersível F-2 – Comandante: Capitão-Tenente Alberto de Lemos Brito
Submersível F-3 – Comandante: Capitão-Tenente Alvaro Nogueira da Gama
Em 1917, sob o comando do Capitão-de-Fragata Heráclito da Graça Aranha, foi incorporado à Flotilha o Tender Ceará, a fim de servir de base de apoio móvel para os submersíveis e como sede da então criada Escola de Submersíveis que, em 1915, formou, no Brasil, a primeira turma de Oficiais Submarinistas.
A Flotilha de Submarinos
Em 1928, a Flotilha de Submersíveis e a Escola de Submersíveis tiveram suas denominações alteradas, por decreto, para Flotilha de Submarinos e Escola de Submarinos. Em 1929, mais uma unidade era incorporada à Flotilha de Submarinos, o Submarino-de-Esquadra Humaytá.
Também construído na Itália, o Humaytá, sob o comando do Capitão-de-Corveta Alberto de Lemos Basto, cumpriu uma histórica travessia de 5.100 milhas marítimas, em 23 dias, de La Spezia ao Rio de Janeiro, sem escalas, feito inédito à época.
Em 1933, após a desativação dos classe “F”, a Flotilha foi extinta, permanecendo em atividade o Tender Ceará e o Submarino-de-Esquadra Humaytá.
Em 1937, com a incorporação dos submarinos da classe “T”, construídos em La Spezia, reativou-se no organograma da Marinha a Flotilha de Submarinos. Foram incorporados:
Submarino Tupy – Comandante: Capitão-de-Corveta Armando Pinto Lima
Submarinos Tymbira – Comandante: Capitão-de-Corveta Euclydes de Souza Braga
Submarino Tamoyo – Comandante: Capitão-de-Corveta Mário de Faro Orlando
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Flotilha de Submarinos, incorporada à Força Naval do Nordeste, baseada em Recife, participou ativamente do adestramento de escoltas a comboios, do adestramento de tática anti-submarino para unidades de superfície e aeronaves, que, juntamente com a 4ª Esquadra Norte-Americana, operaram contra as forças do eixo.
Em 1955 e 1957, novas unidades foram incorporadas à Flotilha de Submarinos, respectivamente, a Corveta Imperial Marinheiro (V 15) e os Submarinos da classe “Fleet-Type” o Humaitá (S 14) e o Riachuelo (S 15).
A corveta, de procedência holandesa, cujo primeiro Comandante foi o Capitão-de-Corveta Maurilio Augusto da Silva, serviu à Flotilha, até o ano de 1969, como navio de socorro e salvamento. Os submarinos, de origem americana e remanescentes da Segunda Guerra Mundial, eram navios de grande raio de ação e dotados de equipamentos e sistemas muito mais avançados do que aqueles até então conhecidos pelos nossos submarinistas; foram seus primeiros Comandantes:
Submarino Humaitá – Capitão-de-Fragata Lorival Monteiro da Cruz
Submarino Riachuelo – Capitão-deFragata Fernando Gonçalves Reis Vianna
Força de Submarinos
Em 1963, a Flotillha de Submarinos recebeu a atual denominação, Força de Submarinos. Aquele ano foi marcado por dois fatos significativos: a criação da Escola de Submarinos como Organização Militar autônoma dentro da estrutura orgânica do Ministério da Marinha, tendo como primeiro Comandante o Capitão-de- Fragata Alfredo Ewaldo Rutter Mattos, e a aquisição, junto ao governo norte-americano, de mais dois submarinos da classe “Fleet-Type”:
Submarino Rio Grande do Sul – Comandante : Capitão-de-Fragata: Nelson Riet Corrêa
Submarino Bahia – Comandante: Capitão-de-Fragata: Abílio Simões Machado
Uma Década Marcante – Os Anos 70
A década dos anos 70 foi particularmente marcante para a história da Força de Submarinos. Foram adquiridos, juntos ao governo norte-americano, sete submarinos da classe “GUPPY” (Greater Underwater Propulsion Power) e um Navio de Salvamento de Submarinos; posteriormente, na Inglaterra, foram construídos três submarinos da classe “OBERON”.
As unidades incorporadas à Força de Submarinos e seus respectivos Comandantes foram:
Classe GUPPY
S. Guanabara (S 10) – Capitão-de-Fragata Nelson Antonio Fernandes
S. Rio Grande do Sul (S 11) – Capitão-de-Fragata João Geraldo Matta de Araújo
S. Bahia (S 12) – Capitão-de-Fragata Antonio Cordeiro Gerk
S. Rio de Janeiro (S 13) – Capitão-de-Fragata Aloysio Bastos Vianna da Silva
S. Ceará (S 14) – Capitão-de-Fragata Jelcias Baptista da Silva Castro
S. Goiás (S 15) – Capitão-de-Fragata Edoardo Russo
S. Amazonas (S 16) – Capitão-de-Fragata Fernando Luiz Pinto da Luz Furtado de Mendonça
Classe OBERON
S. Humaitá (S 20) – Capitão-de-Fragata Guenter Henrique Ungerer
S. Tonelero (S 21) – Capitão-de-Fragata Murillo Carrazedo Marques da Costa
S. Riachuelo (S 22) – Capitão-de-Fragata José Luiz Feio Obino
NSS Gastão Moutinho (K 10)- Capitão-de-Corveta Emanoel Medrado Vaz Santos
A grande novidade da época foi o sistema do esnorquel, que equipava os submarinos da classe “GUPPY”.
Este sistema permite recarregar as baterias e os grupos de ar comprimido, bem como renovar o ar ambiente, com o submarino em imersão, na cota periscópica. O submarino Rio Grande do Sul, primeiro da classe “GUPPY” a ser recebido, foi também, o primeiro submarino brasileiro a operar o esnorquel.
Os submarinos da classe “OBERON”, de geração mais moderna que os “GUPPY”, trouxeram importantes melhoramentos no campo da detecção acústica e eletromagnética, introduzindo uma gama de equipamentos eletrônicos altamente sofisticados, além de um Sistema de Direção de Tiro computadorizado, marcando o advento da informática nos nossos submarinos.
Esta década marcou, também, a introdução de novos procedimentos doutrinários do emprego operativo dos submarinos, contribuindo , sobremaneira, para a atualização profissional do pessoal submarinista da Marinha do Brasil.
A Modernização – Os Anos 80
A década de 80 foi novamente importante para a Força de Submarinos. Ela marcou o início da fase em que o Brasil deu partida na busca de sua auto-suficiência para projetar e construir a sofisticada arma de guerra naval que é o submarino, na capacitação de nossa Marinha para o salvamento de submarinos sinistrados e no preparo de nossos mergulhadores para atenderem às necessidades do País em serviços marítimos a grandes profundidades.
Na área de mergulho e salvamento, foi construído o Centro Hiperbárico, para formar e adestrar pessoal nas técnicas de mergulho de saturação, desenvolver a pesquisa em medicina hiperbárica e realizar experimentos e testes hiperbáricos em materiais e engenhos submarinos. Também, foi incorporado à Força de Submarinos o Navio de Socorro de Submarinos Felinto Perry que, tendo como primeiro Comandante o Capitão-de-Fragata Chrysógeno Rocha de Oliveira, veio capacitar nossos mergulhadores para exercícios mais complexos e com maior segurança.
Nessa década, o contrato assinado com o estaleiro alemão HDW iniciou a capacitação técnica brasileira para a construção do primeiro submarino no Brasil. Fruto desse contrato, que estabelecia a construção de um submarino IKL na Alemanha e um segundo no Brasil, engenheiros e técnicos de diversos setores realizaram estágios no HDW, acompanhando a construção do Submarino Tupi (S 30), que veio a ser incorporado, sob comando do Capitão-de-Fragata Paulo Sérgio Silveira Costa, em 6 de maio de 1989.
O Submarino Tupi, um moderno submarino diesel-elétrico, de reduzida assinatura acústica (baixo nível de ruído), com capacidade de atingir altas velocidades em imersão e de operar a grande profundidade, além de dotado de sofisticados sensores, é marca indelével da modernização da Força de Submarinos.
Uma Realização Nacional – Os Anos 90
A década de 90 marcou uma realização nacional: a construção e incorporação do primeiro submarino totalmente construído no Brasil, pelo AMRJ, o Submarino Tamoio (S 31).
O Submarino Tamoio, tendo como primeiro Comandante o Capitão-de-Fragata Flávio de Morais Leme, foi incorporado em 12 de dezembro de 1994.
Foi nessa década que se consolidou a capacitação brasileira na construção de submarinos.
Seguindo-se ao Tamoio (S 31), em 22 de outubro de 1997, o segundo submarino construído no País, o Timbira (S 32), foi incorporado sob o comando do Capitão-de-Fragata José Carlos Juaçaba Teixeira.
O terceiro submarino da mesma classe, o Tapajó (S 33), também totalmente construído pelo AMRJ, foi entregue à Esquadra brasileira em 21 de dezembro de 1999, tendo como primeiro Comandante o Capitão-de-Fragata Júlio César da Costa Fonseca.
O Futuro e a Realização de um Sonho – O Século XXI
Consolidados os conhecimentos e a capacidade para a construção de submarinos, a Marinha decidiu incrementar o seu Programa de Reaparelhamento com a construção de um quinto submarino.
A Força de Submarinos, neste início do século XXI, vê nascer o Submarino Tikuna (S 34). O Tikuna não é um submarino da classe Tupi, apesar da grande semelhança na aparência externa, são consideráveis as diferenças entre eles, constituindo uma nova classe.
Incorporando novidades tecnológicas em diversos sistemas, notadamente na geração de energia, no sistema de direção de tiro e nos sensores, o Tikuna deverá selar a independência tecnológica na área de projeto e de construção de submarinos.
Saltos mais altos estão planejados para este século XXI
O início da construção dos submarinos convencionais (S-BR) no Brasil, baseados na classe Scorpène de tecnologia francesa, faz parte do Acordo Estratégico Brasil-França que originou o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) da Marinha do Brasil.
Os quatro submarinos convencionais (S-BR) incluídos no PROSUB, representam o primeiro passo para a construção do submarino com propulsão nuclear brasileiro (SN-BR), marco maior deste programa.
Considerado um dos mais complexos meios navais já idealizados pelo homem, o submarino com propulsão nuclear tem vantagens táticas e estratégicas significativas. Com enorme autonomia, pode desenvolver velocidades elevadas por longos períodos de navegação, aumentando sua mobilidade e permitindo a patrulha de áreas mais amplas no oceano, sendo ainda considerado também extremamente seguro e de difícil detecção.
Os quatro submarinos convencionais (SBR), Classe Riachuelo, serão batizados com os seguintes nomes e receberão os indicativos visuais abaixo:
Submarino Riachuelo (S 40)
Submarino Humaitá (S 41)
Submarino Tonelero (S 42)
Submarino Angostura (S 43)
Já o primeiro submarino nuclear (SNBR) da Marinha do Brasil, será batizado como Submarino Nuclear Álvaro Alberto (SN 10), será o segundo navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem ao Almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva, que se destacou desde o início de sua carreira militar no campo da Ciência & Tecnologia.
Com relação aos submarinos convencionais, teremos a repetição dos nomes dos três submarinos da classe Oberon, que era formada pelo Humaitá (S 20), Tonelero (S 21) e Riachuelo (S 22), e o quarto será o segundo navio a ostentar este nome na MB, sendo o primeiro a Cv Angostura (V 20), pertencente a classe Imperial Marinheiro.
O atual Comandante da Força de Submarinos é o Contra-Almirante Thadeu Marcos Orosco Lobo.
Há Marinhas que não podem ter submarinos por não terem acesso ao oceano, e há outros como o Brasil que precisa ter submarino nuclear mais do que apenas a diesel.