Arsenal, com capacidade de matar metade de Santiago, permaneceu escondido por 27 anos, até ser incinerado em 2008
A ex-diretora do ISP (Instituto de Saúde Pública) do Chile Ingrid Heitman revelou nesta quinta-feira (22/08) que o ditador Augusto Pinochet possuía um depósito de armas químicas escondidas no subterrâneo, ao lado do Estádio Nacional de Santiago. O arsenal permaneceu oculto por 27 anos e foi descoberto e incinerado em 2008, sem conhecimento da Justiça.
“Eram duas caixas cheias de ampolas com toxina botulínica, suficientes para matar metade de Santiago”, disse a ex-funcionária, que logo corrigiu sua declaração: “Poderia matar muitos, mas não sei quantos”. Ela disse ainda que a polícia chilena foi muitas vezes ao ISP, mas nunca encontrou as armas químicas. “Nunca revistaram o subterrâneo”, afirmou.
A toxina botulínica é uma neurotoxina que causa paralisia muscular progressiva e, como arma de destruição em massa, é proibida pelas Convenções de Genebra e pela Convenção sobre Armas Químicas.
Ingrid se disse “espantada” quando seus subalternos encontraram as armas. No início da ditadura, ela foi presa e torturada duas vezes pela polícia de repressão. “Fiquei assustada”, declarou.
A notícia causou comoção em todo o Chile, especialmente entre os ex-presidentes Michelle Bachelet e Eduardo Frei, os quais exigiram ao Exército que forneça a informação necessária para que possa ser avaliada pela Justiça.
Frei, cujo pai também foi presidente e morreu em 1982 supostamente envenenado por armas químicas, se manifestou indignado com o fato. “Por que os comandantes-em-chefe [do Exército] não falam a verdade? Por que continuam escondendo informação? Vão me dizer que o Exército – como tantas vezes nos disseram – não sabem de nada?”, disse à rádio Cooperativa.
O ex-presidente ainda acusou os militares, dizendo que “sabem perfeitamente onde estavam os laboratórios, quem os operava, conheciam a Clínica London [da polícia secreta] e todos os antecedentes”.
Bachelet, por sua vez, manifestou surpresa pelo fato de as armas terem permanecido escondidas até 2008, quando governava. “Primeira notícia, efetivamente, que escuto sobre isso. Não conheço a história a fundo para poder opinar”, disse. “Se essa informação for real, verdadeira e confirmada, eu imagino que vai ser muito importante para os juízes”.
“Passaram-se 40 anos e ainda nos falta como país um ‘cara a cara’ mais aberto sobre o que aconteceu em nosso país. Todavia, há atores e setores que, na minha opinião, não têm demonstrado nenhum remorso e nem fizeram uma avaliação sobre o que aconteceu, frente a tanta dor e crimes”, lamentou Bachelet.
FONTE: Operamundi
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: Defesa Aérea & Naval
“Por que os comandantes-em-chefe [do Exército] não falam a verdade? Por que continuam escondendo informação?”
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Esta é a questão atual e mostra a fratura criada na sociedade, pelo regimes militares do passado, um efeito oposto a pretendida “união nacional”…
União duradoura nunca pode ser conseguida pela simples opressão, força bruta e perseguição desenfreada aos que se opuserem ou mesmo só discordarem de um poder que impõe pela força, que muito se assemelha a uma ocupação da nação por tropas, que nestes casos, não são estrangeiras…