Documentos sigilosos obtidos pelo ex-agente da CIA Edward Snowden contradizem versão da Casa Branca de que serviço de informações não atuava na área econômica; material ensinava a espionar redes de computador
Novos documentos divulgados ontem pelo “Fantástico” revelam que a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) usou seu aparato para levantar informações sobre a Petrobras. Os arquivos, entregues pelo ex-agente da CIA Edward Snowden ao jornalista Glenn Greenwald, contradizem a versão da Casa Branca, divulgada na semana passada, de que ela “não se engaja em espionagem econômica em qualquer área”. A maior empresa brasileira é citada como alvo em slides, com data do ano passado, que fazem parte de um tutorial para ensinar agentes a espionar redes privadas de computador. Não é possível saber pelos documentos em que tipo de informação a NSA estava interessada ou se ela efetivamente conseguiu acesso a dados da Petrobras. Na semana passada, a presidente Dilma já havia cobrado de Barack Obama explicações sobre a espionagem a seus telefonemas e e-mails, e ele prometeu esclarecer o caso.
Petrobras na mira
Maior empresa do país foi alvo de espionagem da Agência Nacional de Segurança dos EUA
A Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA) usou seu aparato de espionagem para levantar informações sobre a Petrobras. A denúncia foi feita ontem no “Fantástico” pelos repórteres Sonia Bridi e Glenn Greenwald, a partir de documentos vazados pelo ex-agente da CIA Edward Snowden, atualmente exilado em Moscou. Os documentos todos sigilosos jogam por terra o argumento do governo americano de que a NSA se dedica exclusivamente a combater o terrorismo. Na semana passada, a agência declarou ao jornal americano “The Washington Post” que “não se engaja em espionagem econômica em qualquer área” O que se vê, a partir dos documentos inéditos que contêm ao menos quatro vezes o nome da Petrobras é que a alegação era falsa.
Um dos dados divulgados por Glenn Greenwald é um tutorial de Power Point do progama Royal Net, datado de maio do ano passado. Serviu para ensinar agentes da própria NSA a espionar redes privadas de computador normalmente usadas por governos, empresas e instituições financeiras, justamente para tentar se proteger de invasões externas. O nome da Petrobras — maior empresa do país, que tem um faturamento anual de R$ 280 bilhões — aparece em um dos primeiros slides, sob o título “Muitos de nossos alvos usam redes privadas”
Os documentos não mostram exatamente que tipo de informações a NSA buscava, mas é possível supor que tivessem a ver com tectonologia e campos de petróleo do pré-sal. O leilão do campo de Libra, agendado para o próximo mês, na Bacia de Santos, será o maior já realizado no país. Roberto Villa, ex-diretor da Petrobras, declarou ao “Fantástico” que “se alguém dispõe dessa informação, ele vai numa posição muito melhor no leilão. Ele sabe onde carregar mais e onde nem carregar. É um segredinho bóm”
Invasão a dados bancários
A empresa brasileira, no entanto, não foi a única a ter seus dados espionados. Curiosamente, o Google que, assim como a Microsoft, colaborou com a agência americana também aparece na lista como um dos alvos. Outros foram o Ministério das Relações Exteriores da França e o sistema Swift a cooperativa que reúne mais de dez mil bancos de 212 países e regula as transações financeiras por telecomunicações. Qualquer remessa de recursos entre bancos que ultrapassa fronteiras passa pelo Swift até então visto como um sistema inviolável.
Além do Royal Net, a NSA contava com outros dois programas para interceptar informações de empresas privadas: Flying Pig e Hush Puppy. Na verdade, estes programas complementares foram desenvolvidos pela GCHQ (Government Communications Headquarters), a agência britânica de informação. (A Inglaterra faz parte, junto com Austrália, Canadá e Nova Zelândia da rede “Five Eyes” de países aliados aos Estados Unidos na espionagem).
Uma apresentação em Power Point da GCHQ encontrada entre os documentos da NSA mostra que o Flying Pig e o Hush Puppy monitoram as redes privadas por onde trafegam informações supostamente seguras. Essas redes, conhecidas pela sigla TLS/SSL, são espécies de túneis protegidos na internet, usados para trocar dados entre um ponto remoto (como um caixa eletrônico) e a sede de um banco. A apresentação explica que as informações são interceptadas através de uma ação conhecida como “Man in the Middle” (homem no meio). Os dados que trafegam pela rede são desviados para a central da NSA, em Utah, antes de chegar ao destinatário, em qualquer canto do mundo. Outro slide do documento cita os resultados obtidos: “O que nós encontramos? “Redes de governos estrangeiros, companhias aéreas, companhias de energia, organizações financeiras”
Na semana passada, o “Fantástico” havia noticiado que a NSA espionou a presidente Dilma Rous-seff. Na última quinta-feira, durante encontro do G20 em São Petesburgo, na Rússia, Dilma cobrou explicações do mandatário americano, Barrack Obama, alegando estar cansada de receber informações pela imprensa. Obama prometeu uma resposta objetiva até a próxima quarta-feira. Procurado pelo GLOBO para falar sobre os documentos que sugerem a espionagem à Petrobras, o jornalista Glenn Greenwald declarou:
“Não é surpresa, já que a grande maioria da espionagem que o NSA faz não tem nada a ver com terrorismo. Terrorismo é só a desculpa que os Estados Unidos usam usa para fazer tudo que eles querem fazer. Eles usam essa sistema para fazer espionagem contra inocentes, governos aliados, e muitas empresas grandes.”
Em junho, Greenwald havia publicado, no GLOBO, que a agência americana espionara emails e telefonemas de brasileiros, além de ter instalado uma base de coleta de dados dentro de edifícios consulares americanos, em Brasília. Na semana passada, a CPI que investiga a espionagem americana pediu proteção especial ao jornalista e seu companheiro, que moram no Rio. A visita de Dilma a Washington, agendada para o próximo mês, tem gerado dúvidas.
Procurada pelo “Fanástico” para comentar as denúncias, a NSA respondeu, por meio de sua assessoria, que não usa “nossa capacidade de espionagem internacional para roubar segredos comerciais de companhias estrangeiras para dar vantagens competitivas a empresas americanas” Já o ministério da Relações Exteriores da Inglaterra e a embaixada britânica em Brasília alegaram não comentar assuntos relacionados a inteligência.
FONTE: O Globo
A alguns anos atrás fiz uma observação, em um desses blogs de defesa, sobre as estranhas cooperações e acordos de atuação conjunta entre países de língua inglesa. Fui defenestrado. Agora a coisa toda tem até nome: “Five Eyes”.
O sol é o melhor desinfetante.