Por Luiz Padilha
Para entendermos a importância do IEAPM, temos que voltar um pouco no tempo. O Almirante Paulo de Castro Moreira da Silva, então Diretor do Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), iniciou em 1971 o Projeto Cabo Frio, que tinha como objetivo, o reconhecimento das condições de fertilização das águas ao largo da costa do Brasil.
O Projeto Cabo Frio creceu e se tranformou no Instituto Nacional de Estudos do Mar (INEM), criado em 1984. O INEM aproveitou todo o conhecimento do projeto Cabo Frio e buscou como meta, ser auto-suficiente financeiramente pela produção de gelo para a indústria de pesca, desenvolver a fertilização das enseadas fronteiriças a Arraial do Cabo.
Ressurgência
A ressurgência ocorre quando as correntes marinhas mais profundas e de temperatura fria ascendem para a superfície do mar, provocando o aumento do fitoplâncton e outros nutrientes, trazendo o aumento significativo na quantidade de peixes e outros organismos marinhos, como crustáceos. A importância da pesquisa deste fenômeno oceanográfico se dá pela necessidade do conhecimento, para a produção de peixes, mariscos e camarões, e ser uma universidade do mar, onde estudantes das diferentes profissões adquirem conhecimentos oceanográficos.
Em 1985, em homenagem ao seu idealizador, o INEM passou a se chamar IEAPM – Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, estando atualmente diretamente subordinado ao Centro Tecnológico da Marinha no Rio de Janeiro (CTMRJ).
Atualmente o IEAPM é dirigido pela Dra. Eliane Gonzalez Rodriguez, que coordena importantes projetos. Atualmente o quadro que compõe o IEAPM é composto por militares e civis na busca pelo conhecimento no ambiente marinho.
A Superintendência de Pesquisas através do Departamento de Oceanografia e da Divisão de Oceanografia Física, desenvolveram os importantes projetos estratétigos SISPRES e STFA.
SISPRES – Sistema de Previsão do Ambiente Acústico
Na busca pela independência e assim minimizar custos, o IEAPM desenvolveu o SISPRES, um Sistema de Previsão do Ambiente Acústico, que é alimentado por sistemas de cálculos de alcance sonar com uma Base de Dados Ambientais Qualificados, com foco no apoio às operações navais, visando atingir a independência de sistemas estrangeiros.
O SISPRES é utilizado pelo Comando de Operações Navais durante os exercícios de guerra AS (antissubmarino), fornecendo valores de probabilidade de detecção a diferentes distâncias, para sonares ativos e passivos, e a presença de zonas de convergência.
O SISPRES também é utilizado pela Força Aérea Brasileira (FAB), onde o 1º Esquadrão do 7º Grupo de Aviação da FAB, o utiliza para fazer o planejamento das operações de guerra AS do P-3 AM Orion.
STFA – Sistema Tático de Fatores Ambientais
Sistema de Caracterização do Meio Oceânico a partir de climatologias oceanográficas e meteorológicas com informações para apoio a vida humana no mar.
Este sistema permite a Marinha do Brasil através da coleta de parâmetros ambientais, modelando a área de cobertura antisubmarina por setores, podendo proteger os meios de um Grupo Tarefa por exemplo.
Parâmetros ambientais
- Mapas climatológicos mensais;
- Batimetria
- Profundidade de Camada;
- Temperatura na Camada, Gradiente de Temperatura;
- Salinidade Superficial;
- Corrente de superfície (modelados);
- Temperatura da superfície do mar;
- Altura significativa de onda (modelados);
- Dados Meteorológicos: Temperatura do ar, Ventos, Pressão Atm., Precipitação, Cobertura de Nuvem, Umidade Relativa;
- Informações pontuais: Faciologia, perfil T-S-SV e Densidade, Rosa dos Ventos;
- Informações Adicionais: Almanaque e Toponímia
As pesquisas não param no IEAPM, e neste caso em especial, visam aumentar a resolução e melhorar as climatologias do STFA, a partir de modelagem numérica, evoluindo a versão tática com a melhora da interface com o usuário, aprimorar as previsões oceanográficas (HYCOM – CHM), integrando a nova versão do MODPRES ao SONAT MKII (IPqM) e realizando testes para atualização dos modelos de propagação acústica e no desenvolvimento de melhorias numéricas para o cálculo de perdas de energia acústica (Transmission Loss).
O IEAPM através da Parceria Público Privada (PPP) com empresas de P&D, busca cooperação com programas de Pós-Graduação (mestrado e doutorado em Instrumentação), como por exemplo: CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), COPPE UFRJ, MessenOcean e LIOc (Laboratório de Instrumentação Oceanográfica)
Parceria entre a MB e a FAB (SISPRES AERONAVAL)
Através de reuniões sobre projetos de CT&I de Interesse da Defesa, a parceria visa a melhoria na detecção de alvo submarino a partir das sonobóias lançadas pela aeronave P-3 Orion do 1º Esquadrão do 7º Grupo de Aviação (Esquadrão Orugan).
Comunicações Submarinas (CSUB)
Desenvolver um sistema piloto para transmissão de dados digitais por métodos acústicos, para fins de comunicações submarinas. O projeto se encontra em andamento com o protótipo da antena de transmissão da estação fixa concluído, com o protótipo do modem definido por software concluído. O sistema usa uma estação de transmissão baseada na infraestrutura do LABMMAR e transdutores retirados da ex-fragata Niterói.
No futuro, com este sistema devidamente desenvolvido, as comunicações entre os meios de superfície e os submarinos será muito mais eficaz. O pesquisador/professor Marcus Simões (CMG-RM1-T), para mostrar a eficiência do sistema, pediu que eu digitasse um texto no que seria um console de um meio de superfície. A mensagem criptografada após enviada, precisou de alguns segundos e chegou 100% no que seria o console de um submarino. O sistema está instalado nas cercanias de Arraial do Cabo e sua eficiência atualmente é de aproximadamente 5 Km, com a profundidade sendo mantida em segredo pelo CMG-RM1-T Simões.
Este projeto é dual (militar e civil), podendo ser empregado por exemplo, pela Petrobras, possibilitando de seus mergulhadores se comunicarem embaixo d’água através de dispositivos sem fio, é possível em plataformas de águas rasas, por exemplo.
Biotecnologia Marinha
A Biotecnologia Marinha no IEAPM tem como meta “aplicar ciência, tecnologia e inovação no controle da bioincrustação e da bioinvasão em cascos de navios e plataformas, na prospeção de produtos naturais da biodiversidade marinha com potencial estratégico e biotecnológico e na resolução de problemas de contaminação ambiental.
A biotecnologia marinha gera produtos tecnológicos a partir da diversidade de organismos marinhos e de suas adaptações estratégicas às condições extremas do oceano e apresenta-se, por sua vez, como fonte promissora de bioprodutos e processos, podendo solucionar questões na área da saúde, segurança alimentar, bioincrustação, biopolímeros, dentre outros.
Contaminação Ambiental
O IEAPM teve participação importante no episódio de contaminação do litoral brasileiro. O vazamento de óleo no Brasil ocorreu com o derramamento de petróleo cru, atingindo mais de 2 mil quilômetros do litoral das regiões Nordeste e Sudeste do Brasil. As investigações preliminares levaram à suspeita que tenha se originado de um petroleiro de bandeira grega, porém, sem poder culpá-lo com 100% de certeza.
O laboratório do IEAPM trabalhou usando todos os seus equipamentos, e foi capaz de afirmar o tipo de óleo e sua origem, porém, não cabe ao IEAPM dizer de que navio ele foi derramado. O que se sabe é que petróleo crú é de origem venezuelana e foi derramado a uma distância de 700 quilômetros da costa brasileira, trafegando submerso por 40 dias, mas isso não é suficiente para afirmar que tenha sido derramado por navios ou empresas daquele país.
Com a experiência deste desastre ecológico, o IEAPM criou um Kit de coleta, enviado para todas as Capitanias e para os navios da Marinha do Brasil. Caso sejam detectados novos episódios, ficará mais fácil coletar e enviar para o IEAPM identificar o tipo de óleo e sua procedência.
Projetos Multidiciplinares do Departamento de Biotecnologia
Com a implantação de um sítio de pesquisa de longa duração, em um ecossistema de importância ecológica, pode-se diferenciar os efeitos dos distúrbios antropogênicos dos distúrbios naturais nas comunidades planctônicas, pelágicas e bentônicas relacionando-os as mudanças climáticas. Com isso pode-se monitorar a região de ressurgência de Cabo Frio e produzir conhecimento científico de processos numa região estratégica para a Marinha.
Com os estudos dos processos ocaenográficos, é possível estabelecer modelos conceituais visando a compreensão dos processos oceanográficos de interação entre o oceano e a plataforma continental e talude da costa Brasileira, de forma integrada, em diferentes escalas espaciais e temporais. A Marinha passa a ter o conhecimento dos processos físicos, químicos, geológicos e biológicos da região de Abrolhos a Cabo Frio
na região costeiras, plataforma continental e do talude.
Com a colaboração de Instituições como: UFF, IPQM, IPEN/CNEN (SP), CRCN-NE/CNEN (PE),UERJ, UNI-RIO, UFRJ, UNIFESP, UFFRJ, UFPE, UNB, CEPENE, FIRJAN- SENAI, TideWise, Vitoria Educacional, obteve-se o avanço científico no desenvolvimento de métodos inovadores de avaliação do impacto por óleo.
Project Mission Atlantic
O projeto foi criado visando o desenvolvimento sustentável do Oceano Atlântico, através do mapeamento e avaliação da situação presente e futura dos Ecossistemas Marinhos do Atlântico sob a influência das Mudanças Climáticas e de Exploração. Este projeto beneficia o Brasil, pois gera o monitoramento e geração de conhecimento científico da Amazônia Azul, criando assim regras para uso sustentável dos recursos naturais da Amazônia Azul.
Monitoramento Ambiental do Estaleiro e Base Naval em Itaguaí
O IEAPM teve atuação importante quando da escolha do local para a construção do Estaleiro e da Base Naval em Itaguaí, dentro do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) da Marinha. Foram executados diversos estudos ambientais na área, com análise da concentração de isótopos radioativos em peixes, sedimentos e na água. Por ser uma região com riqueza de espécies, estudou-se a densidade populacional verificando por exemplo, a concentração de metais pesados nos peixes e crustáceos.
Ao se detectar a presença de metais pesados acima dos limites toleráveis, se fez necessária a dragagem na Baía de Sepetiba, com mais de 8,5 milhões de m³ de sedimentos sendo retirados para que o PROSUB prosseguisse. A Indústria Metalúrgica Ingá, já desativada, despejava este tipo de material há anos nesta região de Itaguaí. O material não contaminado que foi retirado, foi levado para o mar aberto e descartado, com o aval do IBAMA, enquanto o material contaminado foi armazenado em GEOTUBES, e armazenados em terra firme, na Área Sul.
Mesmo durante a dragagem, o IEAPM realizou o monitoramento das correntes marítimas em dois pontos da Baía de Sepetiba, analisando as correntes em 5 profundidades entre 0 e 10 metros, classificando a direção das correntes.
Para a Marinha, que terá seu primeiro submarino nuclear construído e baseado na região da Baía de Sepetiba, as atividades dos técnicos do IEAPM visando a manutenção do Meio Ambiente da área do Estaleiro e da Base Naval, é de suma importância para a segurança local.
Bioincrustação na Marinha do Brasil
Bioincrustação ou incrustação biológica é o acúmulo de micro-organismos, plantas, algas e/ou animais nos cascos de navios e submarinos da Marinha do Brasil.
O acumulo de “cracas” influencia negativamente no desempenho dos navios e submarinos, reduzindo sua velecidade e aumentando o consumo de combustível.
O IEAPM através de pesquisas de avaliação e validação de diferentes tipos de tintas anti-incrustantes, objetiva reduzir o consumo de combustível e aumentar a velocidade operacional dos meios da MB.
Paralelamente, realiza estudos para a prevenção, controle e erradicação de espécies invasoras causadas por bioincrustação em cascos de navios, plataformas, estruturas submersas e trazidas por Água de Lastro, por exemplo.
Todo esse trabalho do IEAPM é de utilização dual (civil e militar), onde empresas como a Petrobras e Armadores podem se beneficiar, retardando o crescimento de incrustações nas plataformas e nos navios mercantes.
Coral Sol
O coral-sol é uma espécie de coral que pertence ao gênero Tubastraea, que pode ser encontrado nas águas de Timor-Leste . Espalha-se por profundidades que vão de 50 centímetros a 15 metros.
O Coral Sol invadiu a costa brasileira, atacando espécies nativas de corais, como o coral-cérebro (Mussimilia hispida), uma espécie que só existe no Brasil.
O IEAPM realiza o monitoramento do Coral Sol na Baía de Guanabara, avaliando a estrutura molecular das espécies do Coral Sol, disseminando o conhecimento e capacitação da equipe para estabelecer o estado invasor/residente do coral sol na costa brasileira.
O IEAPM em parceria com entidades internacionais, como a Organização Marítima Internacional (IMO), o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), procuram estabeler programas de prevenção, controle e ou remoção do Coral Sol.