O ciberespaço permite tanto ataques capazes de parar um país como o encontro de casais; é só saber escolher.
Se você pensa que guerra cibernética é coisa de filme de ficção científica ou de jogos eletrônicos, pense de novo. Ela é real e pode afetar sua vida.
Além do ar, da terra e do mar, o ambiente virtual –o ciberespaço– também se tornou cenário de operações militares. De acordo com o Instituto para Pesquisa em Desarmamento da ONU, 41 países incluem ações cibernéticas –ofensivas ou defensivas– no planejamento de suas operações militares. Desses, 27 têm unidades de forças armadas dedicadas exclusivamente ao emprego de tecnologia cibernética em exercícios de guerra.
Nessa modalidade, os ataques podem acontecer por roubo de segredos militares ou industriais ou pela perturbação de serviços essenciais, como energia elétrica ou telecomunicações. No passado, seria necessário um bombardeio para desabilitar um aeroporto; hoje, basta um vírus ou um programa malicioso inserido no sistema de tráfego aéreo. Produz o mesmo efeito.
Em 1993, havia só 50 websites registrados. Em 2013, são cerca de 650 milhões. A universalização da internet em operações governamentais, empresarias e pessoais cria dependência e evidencia vulnerabilidades, que podem ser exploradas por inimigos –governamentais ou não.
Em 2007, a Estônia sofreu ciberataques que desabilitaram vários sites públicos e privados. Ministérios, bancos e redes de TV foram afetados. O país saiu do ar. As autoridades acusaram a Rússia, mas nada foi provado contra Moscou.
Em 2012, 30 mil computadores da companhia de petróleo da Arábia Saudita foram infectados simultaneamente. Não se sabe a identidade dos autores, porque a natureza difusa da internet dificulta a identificação da origem dos ciberataques. É uma luta de espadas no escuro.
O desenvolvimento dos programas militares cibernéticos acontece em sigilo. Sabe-se de algo quando alguém, como Edward Snowden, denuncia, ou quando autoridades de algum país divulgam — como fez a China, que, em maio, anunciou exercícios cibernéticos para teste de novos tipos de “forças de combate”. Os EUA, por sua vez, já declararam que ciberataques podem ser respondidos com armas convencionais.
Não se sabe até que ponto os sistemas de gerenciamento de serviços essenciais se encontram comprometidos pela infiltração de armas cibernéticas. Os setores que mais recebem ataques predatórios são o aeroespacial e o de defesa, seguidos por energia e combustíveis, farmacêuticos e financeiros.
Os computadores e as redes aumentam a produtividade econômica e são fundamentais para a administração de governos em todo o mundo. Essa dependência da internet cria vulnerabilidades. No entanto, com ou sem risco, ninguém quer voltar para um mundo sem tecnologia digital. Os governos vão ter de se preparar.
No ciberespaço tem muita coisa boa. Você sabia que quase 20% dos casais que contraíram matrimônio nos EUA no ano passado se encontraram pela internet? Pois é, no mundo virtual tem guerra, mas tem amor também. É só saber escolher.
ALEXANDRE VIDAL PORTO é escritor e diplomata. Este artigo reflete apenas as opiniões do autor
FONTE: Folha de São Paulo