Diretor de contraterrorismo da Abin revela que Brasil vai trabalhar com inteligência de 110 países
Enquanto na Europa continua a caçada de envolvidos nos ataques terroristas de Paris, o nível de alerta subiu também do outro lado do Atlântico – no Brasil. A poucos meses dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, o Comitê Olímpico Internacional (COI), o comitê organizador e o governo federal discutem nesta semana possíveis mudanças no plano de segurança do maior evento esportivo do planeta. Previsto para custar cerca de 930 milhões de reais, o gasto com os serviços de segurança deve aumentar.
Embora fontes do governo brasileiro descartem a presença de células terroristas no país, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) vê em ações individuais, dos chamados lobos solitários, a principal ameaça aos Jogos. E, por isso, serviços de inteligência de 110 países devem enviar agentes à cidade para trabalhar em parceria com o serviço secreto brasileiro.
Em entrevista exclusiva à DW Brasil, o diretor de contraterrorismo da Abin, Luiz Alberto Sallaberry, garante que o país vem trabalhando discretamente com o apoio de serviços de inteligência estrangeiros para monitorar eventuais ameaças. Mas, admite: “Não existe risco zero quando o tema é segurança e, muito menos, quando o assunto é terrorismo.”
DW Brasil: O que muda nos preparativos para os Jogos Olímpicos dado o cenário de crescente ameaça de terrorismo no Ocidente após os atentados em Paris?
Luiz Alberto Sallaberry: Não resta dúvida que estamos vivendo uma escalada de atentados terroristas no ano de 2015 e não apenas em países ocidentais. Houve os recentes ataques em Beirute, em Ancara e o caso do avião russo derrubado no Egito, sem nos esquecermos dos países africanos profundamente afetados por grupos extremistas, como Quênia, Tunísia, Líbia… O terrorismo é, hoje, a principal ameaça internacional, contra a qual nenhum país está imune. No caso do Brasil, a partir do momento em que passamos a sediar grandes eventos internacionais, esportivos, cúpulas de chefes de Estado e de organismos internacionais, e passamos a receber cidadãos dos mais diferentes países, nos tornamos palco de possíveis atentados contra interesses estrangeiros em nosso território. As Olimpíadas são o maior evento do planeta; receberemos atletas e representantes de mais de 200 países. Não existe risco zero quando o tema é segurança e, muito menos, quando o assunto é terrorismo, mas a Abin adquiriu muita experiência nos últimos anos, e seu departamento de contraterrorismo vem trabalhando noite e dia em prol da segurança dos Jogos Olímpicos. E isso desde os Jogos Panamericanos de 2007, quando montamos o primeiro Centro Integrado de Inteligência do país. Claro que, hoje, esse trabalho é conjunto com as unidades antiterror do Ministério da Justiça e da Defesa. A diferença, porém, é que a inteligência é o “negócio”, por excelência, da Abin, e a essência da inteligência é a prevenção. Trabalhamos para que um ataque não ocorra, porque, uma vez ocorrido, o trabalho passa a ser majoritariamente policial, de segurança e de Defesa.
Qual o nível de cooperação do Brasil com agências de contraterrorismo e inteligência de outros países? Vai haver reforço ou mudanças?
A Abin mantém cooperação com mais de 80 serviços de inteligência do mundo inteiro e, particularmente quando o tema é contraterrorismo, todos os países têm grande interesse em cooperar, justamente porque essa é uma ameaça genuinamente global. Para os Jogos Rio 2016, já temos confirmados mais de 110 países que querem integrar o Centro de Inteligência de Serviços Estrangeiros (Cise), cuja sede também ficará no Rio de Janeiro, funcionando juntamente com o Centro de Inteligência dos Jogos (CIJ), na Superintendência da Agência na cidade.
A imprensa brasileira chegou a especular que, no ano passado, fora decidido que 315 agentes da Abin viriam ao Rio para os Jogos. E esse número estaria sendo reavaliado agora. Quantas pessoas afinal estarão envolvidas no trabalho?
Com relação aos meios que estamos empregando na área de inteligência da Abin, ou especificamente na área de contraterrorismo, são também informações de inteligência. Ou seja, sigilosas, principalmente, em termos de efetivos empregados.
A questão dos chamados lobos solitários é uma grande preocupação no resto do mundo. O Brasil trabalha com essa hipótese? O que temos feito para monitorá-la?
Os lobos solitários continuam sendo a principal ameaça do terrorismo aos Jogos Olímpicos. Não existe área prioritária, a ameaça é difusa em qualquer parte do território brasileiro e fora dele. Estamos usando todos os meios disponíveis dentro do estamento jurídico nacional, utilizando nossos colaboradores, trabalhando com metodologias próprias em fontes abertas, além de contar com apoio de serviços estrangeiros e também com a cooperação com a polícia judiciária e o ministério da Defesa. Embora saibamos que não há 100% de garantia na área de segurança, o trabalho está sendo bem feito e esperamos ter sucesso. Finalmente, mesmo com as incertezas ainda envolvendo os ataques na França, se foram planejados pelo Estado Islâmico ou algum grupo interno se auto-organizou, isso não muda em nada o fato de que a maior ameaça ao Brasil continuam sendo os lobos solitários.
Que experiências da Copa e de outros grandes eventos vão ser aproveitadas nos Jogos Olímpicos?
Tudo o que foi feito na Copa do Mundo vai ser feito durante os Jogos Olímpicos, mas estamos agregando novas metodologias e processos de trabalho a partir deste ano e continuaremos aprimorando o trabalho em 2016, principalmente, graças ao contato com outros serviços de Inteligência estrangeiros. A principal experiência bem-sucedida que será replicada é a montagem de Centros de inteligência no Rio de Janeiro e nas cidades sede do futebol, coordenados pela Abin e compostos por órgãos integrantes e parceiros do Sistema Brasileiro de Inteligência.
FONTE: Jornal do Brasil
Se houver firmas hibernantes a tempos instaladas com missão paga e sem cadeia de comando e comunicações com certeza será achar uma agulha no palheiro, bom que todo mundo tá dividindo essa, isso é mais que bom.
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