Por Andre Duchiade
Vitelio Brustolin é o pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF) e de Harvard que liderou o estudo publicado na semana passada na Cambridge Review of International Affairs que, como revelou O GLOBO no domingo, detalhou o uso por órgãos do Estado brasileiro, incluindo a Marinha, de equipamentos de criptografia da Crypto AG, empresa suíça que durante décadas foi controlada secretamente pela CIA.
Em entrevista, ele afirma que a mera “suspeita de que os equipamentos podem estar sendo adulterados já deveria ser suficiente para que parassem de ser utilizados”. Diz, também, que o possível uso dos equipamentos em submarinos brasileiros “põe em risco não apenas a eficácia dos nossos submarinos, mas também as suas operações e as vidas de pessoas dentro deles e em nosso país”.
No estudo, Brustolin contou com a colaboração dos pesquisadores Dennison de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Alcides Peron, da Universidade de São Paulo (USP).
O que as descobertas do artigo científico publicado por vocês indicam sobre como o Estado brasileiro lida com seus segredos?
No artigo, revelamos que alguns países chegaram a suspeitar dos equipamentos. Foi o caso da Argentina, durante a Guerra das Malvinas. A Argentina perdeu a guerra e a adulteração nas máquinas de criptografia foi uma das razões para a derrota. Em 1992, um executivo da empresa foi sequestrado no Irã e revelou a fraude. A partir de 1995, passaram a ser publicadas reportagens cada vez mais frequentes sobre a adulteração de equipamentos da Crypto AG. Para nós, cientistas, é necessário coletar provas e evidências para a publicação de um artigo como esse. Para os serviços de inteligência de um país, não é necessário ir tão longe. A suspeita de que os equipamentos podem estar sendo adulterados já deveria ser suficiente para que parassem de ser utilizados. Afinal, trata-se da comunicação confidencial e estratégica de um país. Os indícios estão por todo o lugar. Basta escrever “Crypto AG” no Google.
Pode ter havido falha de inteligência?
Não há outra explicação possível. A própria NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) admitiu a fraude. Os documentos secretos dos Estados Unidos, que demonstram o acordo da CIA com a Crypto AG, foram desclassificados em 2014. Isso gera pelo menos três perguntas centrais. Primeiro: como é possível que não haja “indícios de comprometimento do sistema de comunicações”, diante de toda a informação disponível a qualquer pessoa sobre isso? Segundo: como os órgãos de inteligência do Brasil deixaram isso passar? Terceiro: por que a Marinha do Brasil continuou adquirindo equipamentos de criptografia dessa empresa entre 2014 e 2019? Apenas uma falha de inteligência explica isso.
A Marinha não disse se interromperá o uso desses equipamentos. A continuação de sua utilização acarreta um risco?
O equipamento põe em risco não apenas a eficácia dos nossos submarinos, mas também as suas operações e as vidas de pessoas dentro deles e em nosso país. A Marinha afirma que “utiliza softwares e algoritmos próprios para a proteção de dados sigilosos, uma criptografia de Estado, totalmente restrita e desenvolvida no âmbito da Força”. Se isso é verdade, por que foi adquirido software da Crypto AG, conforme o Portal da Transparência revela? Por que foi adquirida, da própria Crypto AG, licença para o uso desse software? Os equipamentos que a Marinha adquiriu de 2014 a 2019, o seu software e a sua licença foram pagos com dinheiro público. Qual é o sentido de gastar dinheiro público com algo que não será utilizado? No mais, quem pode acreditar nos sistemas de comunicação dos nossos submarinos, depois de as próprias agências de inteligência dos EUA admitiram que fraudaram os equipamentos? A CIA só se desfez da Crypto AG em 2018. O Brasil comprou um sistema em 2014 e continuou adquirindo software e licença para ele até 2019. Será que a CIA, que era dona da empresa, não fez nada no sistema?
O Brasil é capaz de desenvolver estes equipamentos de modo totalmente doméstico?
O Brasil tem capacidade de produção de sistemas de comunicação via rádio. A própria Imbel, que é uma empresa estratégica de defesa do Brasil, produz sistemas de comunicação e eletrônica. Por que não investir na ampliação e diversificação da produção nacional do hardware, já que, segundo a Marinha, os softwares e os algoritmos já são produzidos no Brasil? Além disso, o Brasil possui o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento para a Segurança das Comunicações (Cepesc) desde 1982. Esse Centro atua dentro da Abin. Desde que houve violações nas comunicações de autoridades brasileiras, em 2013, esse centro passou a produzir soluções para proteger algumas autoridades. Um investimento maior na área tornaria desnecessária a aquisição da plataforma de criptografia da Crypto AG por parte da Marinha, de 2014 a 2019. Conforme demonstram as movimentações no Portal da Transparência, os equipamentos da Crypto AG custaram milhares de dólares, e não milhões. O quanto valeria para o Brasil investir nessa área e nos tornar menos vulneráveis e dependentes de países estrangeiros? Quanto nos custa continuarmos dependentes?
Atualmente, há grande polêmica envolvendo a tecnologia 5G e possível espionagem. As descobertas do artigo nos dizem algo sobre a disposição dos Estados Unidos em espionar os seus aliados?
O artigo trata da espionagem promovida por agências americanas (CIA e NSA), além da alemã BND. O artigo é sólido e está todo baseado em documentos. Dito isso, não há dúvidas de que houve adulteração de equipamentos de criptografia para espionagem, durante décadas. É importante saber se algo mudou desde o uso das primeiras máquinas adulteradas, as CX-52, a partir dos anos de 1950. É importante saber se algo mudou desde as revelações de espionagem de agências estadunidenses sobre autoridades e empresas brasileiras, em 2013. É importante saber o que o Brasil irá fazer para deixar de ser refém de situações como essa.
FONTE: O Globo
Pra mim isso ae não é mais “ingenuidade ou falha de inteligência” por parte da MB e do Itamaraty, isso está me cheirando a TRAIÇÃO mesmo!
Se fosse um país sério, seria aberto uma investigação e muitas pessoas estariam presas, o inimigo está aqui dentro, estamos cheios de BRASILEIROS apátridas fazendo o serviço sujo para americanos, russos, europeus e chineses por questões ideológicas e $$$
Há décadas sofremos desse mal, e o Estado Brasileiro é negligente pq temos uma classe política e militar corrupta e incapaz de resolver problemas sociais do dia a dia, pois só pensam em acumular bens e ter uma fonte inesgotável de recursos públicos através de estatais e desvios de verbas.
O próprio brasileiro sabota o país isso aqui não tem mais jeito não, de um lado temos os entreguistas da elite americana/europeia, do outro lado temos os fanáticos ideológicos de regimes totalitários de esquerda, e no meio os que ganham dinheiro com os dois lados. Infelizmente a escravidão nunca acabou no Brasil, ela só deixou de ser estrutural para uma escravidão cultural e intelectual.
O que explica isso é como os comandos superiores não se prendem a detalhes de suspeita técnica ou de internet, PRINCIPALMENTE quando se refere a espionagem americana.
Estas compras são decididas por oficiais generais que tem compromisso ideológico de alinhamento de direita pró-USA.
Compras que envolvem compromissos comerciais antigos, como dito, à mais de 60 anos de “confiança” que rumores de internet não são capazes de abalar nem documentos desclassificados que eles não querem saber.
Mas se as forças armadas e as empresas brasileiras são tão competentes como alegado pela MB e EB, não é totalmente impossível se gastar dinheiro público comprando este software simplesmente para usá-lo para passar recados informais para os Americanos e Alemães. Se precisar de sigilo de verdade se use um software nativo que eles ainda não tenham quebrado a criptografia…
OUTRA POSSIBILIDADE é que a aquisição destes produtos se destinem às próprias empresas nacionais de criptografia para análise comparativa e engenharia reversa, tanto para melhorar a avaliação da compra de futuros softwares estrangeiros como para eventualmente instalar backdoors nos softwares nacionais vendidos a terceiros…
Não tem inocente sem inteligência neste mundo da criptografia militar…
Eu confesso q não entendo tanta preocupação e indignação. Chega a ser engraçado a turma dizendo que “em caso de guerra o Brasil estaria em sérios problemas”. Pessoal, sejamos razoáveis. Se entrarmos em guerra com os EUA ou algum de seus aliados preferenciais, estaremos arrebentados com criptografia ou sem. Vamos fazer o quê com algumas dezenas de caças antigos e meia dúzia de navios?
Amadorismo para não dizer outra coisa. Se a matéria for realmente verídica, alguém tem que dar explicações. Do contrário, nossos subs e os (parcos e defasados) meios de superfície seriam alvos mais fáceis do que já o são. Nem uma eventual dúvida sobre a localização dos submarinos existiria. Para quem vivia falando em entreguismo no meio civil, essa é de lascar!
A aquisição do software pode ter sido uma venda casada, mais ou menos como na compra de um computador que já vem com um sistema operacional de fábrica, não é dado ao cliente a opção de comprar apenas o hardware.
O artigo faz sentido se houvesse uma intensão clara das forças armadas em evitar influência americana ou componentes americanos nos equipamentos brasileiros. Outro dia a Marinha anunciou a implementação de torpedos MK-48 americanos em todos os seus submarinos. Não vamos ser ingênuos em falar de soberania com uma defesa sucateada e com pouquíssimos meios dissuasorios. Não há submarinos, navios, caças, defesa antiaérea…etc que possa garantir soberania pra um país continental. Vamos continuar a ser espionados por muiiiito tempo. É triste, mas é a verdade, somos um território Americano não oficializado.
Puxa. Que susto. De início pensei que a empresa suiça pertencia à China Comunista.
O mais chocante em tudo isto é a postura da MB.
Compraram os softwares mesmo com a empresa já em suspeita a tempos, com outros países a evitando, e agora adotam uma postura de verdadeiro desdém em relação a esta revelação.
Muito estranho. É difícil acreditar que tenha sido por displicência e amadorismo porque conheciam o histórico da empresa.
A quem por aqui interessou, e porque, deixar o país totalmente vulnerável e nas mãos dos EUA?
Como permitiram um absurdo desses por décadas a fio? Beira o inacreditável. Em uma guerra, o Brasil estaria em risco elevadíssimo por causa dessa presepada. É quando aparece uma notícia dessas que fica claro o nível de amadorismo das instituições brasileiras. Perto das grandes potências, nossos órgãos mais fundamentais de Estado são cômicos.
Brasil um país de tolos.
Desculpa a expressão, mas o email do presidente é rastreado, o presidente tem interceptação telefônica.
O Brasil compra telecomunicações de outro país, é pedir para ser espionado.
Somos apenas uma nação por vontade dos poderosos do planeta, pois a hora que quiser eles dividem este país em vários países menores
Excelente trabalho cientifico dos pesquisadores “PARABENS”, infelizmente contra a verdade ainda persiste o NEGACIONISMO, contra a ciência o obscurantismo.
A INSCIÊNCIA, a politização na análise perante uma fato, só vem aprejudicar o Brasil e a Marinha.
Concorda com cada palavra sua. É tanta ignorância, que ao simples fato de haver uma desconfiança já deveriam ter parado de adquirir tais equipamento. Como pode um país não ter seus próprios equipamentos de criptografia? Estamos desenvolvendo uma propulsão nuclear e nem conseguimos desenvolver uma criptografia própria? Nossas forças armadas são o exemplo da má administração pública!