Contrato de mais de US$ 400 milhões ajudaria a americana a voar para longe dos problemas financeiros que a afligem.
Junto com a parceira americana Sierra Nevada Corporation, a Embraer toca a fabricação de 20 aviões Super Tucano que serão usados no Afeganistão. O contrato de 428 milhões de dólares foi o primeiro fechado pela Embraer com a Defesa dos Estados Unidos. O acordo, porém, colocou a brasileira na linha de tiro da americana Beechcraft. Desde dezembro de 2011, quando o negócio foi anunciado pelo Pentágono, a americana tenta abater a Embraer.
O motivo, claro, não deixa de remeter ao seu interesse no fornecimento de aviões. Depois de entrar na Justiça, a fabricante de aeronaves conseguiu inicialmente suspender a concorrência e depois anulá-la por completo, ainda no começo de 2012.
No fim do mês passado, a Embraer venceu a segunda licitação para a produção dos aviões. E a Beechcraft não tardou em chiar novamente. Após entrar na Corte de Reivindicações Federais americana, a companhia decidiu processar a Força Aérea dos Estados Unidos nesta semana.
A peso de ouro
Com validade até 2019, o contrato firmado com a Defesa americana inclui treinamento e manutenção, além da entrega das aeronaves. Por isso, seu valor pode chegar a até 950 milhões de dólares. Para o Brasil, o negócio não deixa de representar uma abertura de portas com os Estados Unidos, reconhecido pelo contínuo – e vultoso – investimento militar. Hoje, o Super Tucano está em operação em nove forças da América Latina, África e Ásia.
Para a americana Beechcraft, a conquista da licitação funcionaria como uma verdadeira injeção de ânimos depois da empresa se reerguer de um pedido de proteção contra a falência. Fundada em 1932, a companhia saiu, em fevereiro, de um processo de concordata que durou quase um ano. Durante esse tempo, a Beechcraft demitiu mais de 1.000 funcionários e decidiu abandonar a produção de jatos executivos, enquanto colocava em prática um plano de reestruturação da sua dívida, que caiu de 2,5 bilhões de dólares para atuais 225 milhões de dólares.
Como resultado, o controle da Beechcraft acabou mudando de mãos. A firma canadense Onex Partners e o braço de private equity do Goldman Sachs, antigos acionistas majoritários, terminaram com uma pequena fatia do negócio. Em seu lugar, entraram uma série de credores que trocaram um pedaço da dívida da companhia por participações acionárias. Juntas, empresas como a Angelo, Gordon & Co., Capital Research & Management, Sankaty Advisors e Centerbridge Partners detém hoje cerca de 90% da empresa.
Com mais de 54.000 aeronaves fabricadas – das quais 36.000 ainda estão em operação -, a Beechcraft sonha alto com o AT-6, o concorrente do Super Tucano. De acordo com a companhia, a produção do avião faria a companhia gerar cerca de 700 novos empregos, argumento que é repetido à exaustão por seus executivos. Mais importante que isso, o contrato ajudaria a empresa a elevar seu faturamento em um momento de vacas magras. Segundo a Businessweek, os contratos da empresa com o Pentágono caíram 67% de 2009 para o fim do ano fiscal de 2011, encerrado em setembro último, passando de 1,03 bilhão para 340 milhões de dólares.
Ringue
Não por acaso, a Beechcraft não parece disposta a abandonar a queda de braço, batendo na tecla que a participação de uma empresa estrangeira em negócios de segurança nacional feriria os interesses do país e ameaçaria os cargos dos trabalhadores.
“Quando se trata de produzir aeronaves que vão ajudar os americanos a chegar em casa do Afeganistão, a Força Aérea dos EUA concluiu que o ‘melhor interesse’ da América agora recai sobre os ombros do Brasil”, disse a empresa, em comunicado à imprensa. “Esta decisão é muito equivocada. Ela levará à perda de empregos americanos e implicará custos substancialmente mais elevados para os contribuintes”, emendou.
Em entrevista à imprensa, o CEO da empresa, Bill Boisture, afirmou que a produção da aeronave AT-6 é um plano crucial para a companhia em 2013. Apresentado como um modelo de custo mais baixo, o AT-6 foi eleito pela Beechcraft para concorrer com o Super Tucano, da Embraer. Mas ao contrário do avião brasileiro, que tem mais de 180.000 horas de voo, o AT-6 ainda está em fase de desenvolvimento. De acordo com o CEO da Beechcraft, a Força Aérea americana não tem como justificar o gasto de 40% a mais – ou 125 milhões de dólares – com a encomenda de aeronaves brasileiras.
Agora, o órgão responsável por auditar as licitações americanas, o GAO (Government Accountability Office), tem 90 dias para emitir uma decisão formal sobre o caso. Enquanto aguarda os próximos capítulos da contenda, a Beechcraft amarga a diminuição no ritmo dos negócios. De acordo com a General Aviation Manufacturers Association, a empresa entregou 153 aviões em 2012, contra 198 no ano anterior.
Atualmente, a Beechcraft conta com 5.400 funcionários, sendo 3.300 na sua sede, em Wichita, no estado do Kansas. E tirar a Embraer dos céus do Pentágono tornou-se seu maior alvo.
FONTE: EXAME