Civis e militares uniram forças para construir indústria aeroespacial brasileira
O Bandeirante encontraria seu espaço em um nicho de mercado bem definido. “Não podíamos fazer aviões como os americanos ou os franceses. Tínhamos que produzir algo que não fosse competir com algum produto já dominado pelo mercado. Tínhamos de inovar. Abrir horizontes”, afirmou o engenheiro e oficial da Força Aérea Brasileira Ozíres Silva, que liderou a equipe do projeto. “Aviões grandes estavam ocupando todos os espaços e as pequenas cidades passaram a ficar sem transporte aéreo.” Estava ali a oportunidade que faltava.
O primeiro cliente seria a Força Aérea Brasileira: 80 unidades. Nos anos seguintes, a Força Aérea do Uruguai tornou-se o primeiro cliente no exterior. A Embraer produziria um total de 498 unidades, em 16 versões diferentes. Foi o começo do sucesso da indústria aeroespacial brasileira.
O ambiente de excelência profissional, brotado inicialmente a partir de organizações militares como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e o antigo Centro Técnico Aeroespacial (CTA), atual Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), transformou a cidade de São José dos Campos (SP) e a região do Vale do Paraíba em polo privilegiado para o florescimento de empresas de tecnologia.
Os investimentos da Força Aérea ajudaram a impulsionar a indústria. Já em 1971 voava no Brasil o primeiro jato a ser fabricado aqui, o Xavante. A partir da licença de fabricação da aeronave, projetada na Itália, 182 unidades sairam da linha de montagem na Embraer.
A experiência de montar o jato foi fundamental para que nas décadas seguintes o Brasil se tornasse um exportador de aeronaves militares. Forças Aéreas de países como Reino Unido, Irã, Argentina, Egito, França, Grécia, Kuwait, Índia, Angola, Venezuela viriam a se tornar operadoras de aviões fabricados aqui.
Boa parte desse sucesso de exportação aconteceria a partir da década de 80, com o Tucano, exportado pela primeira vez em 1984. O nome, escolhido por um concurso realizado com os cadetes da Academia da Força Aérea, se tornou sinônimo de treinamento de pilotos de aviação militar. O avião, desenvolvido pela Embraer sob encomenda inicial da Força Aérea Brasileira, também foi recebido por Angola, Argentina, Colômbia, Egito, França, Guatemala, Honduras, Irã, Iraque, Kuwait, Paraguai, Peru, Quênia, Reino Unido e Venezuela.
Na mesma época, iniciava também a produção do Brasília, aeronave pressurizada criada para substituir o Bandeirante. O primeiro protótipo foi apresentado 1983, quando fez o seu primeiro voo. Com capacidade para 30 passageiros, o Brasília foi o primeiro avião projetado pela Embraer com o auxílio de computadores.
Capaz de superar os 580 km/h e com um nível de ruído baixo se comparado aos seus concorrentes, o avião brasileiro foi desenvolvido com um sistema de programação e controle de voo digitalizado, um dos mais avançados da época.
O primeiro operador foi uma companhia aérea estrangeira, a norte-americana Atlantic Southeast Airlines. Ao todo, 352 aviões foram entregues para 33 operadores em vários países.
Ainda naquela década, sob coordenação da FAB, a empresa atuaria no desenvolvimento de um caça a jato. Inicialmente chamado de AMX, o A-1 foi projetado pela EMBRAER em parceria com as empresas italianas Aermacchi e Aeritalia. Em 27 de março de 1981, os governos do Brasil e da Itália assinaram um acordo para estudar os requisitos da aeronave, e quatro meses depois as três empresas recebiam o contrato de desenvolvimento. Criado para missões de ataque, o AMX se destaca ainda hoje pelo raio de alcance, robustez e confiabilidade nos sistemas eletrônicos.
Na década de 90, e empresa iniciaria uma trajetória de sucesso com o desenvolvimento e a produção de jatos comerciais e de uso executivo. Hoje, é a terceira maior fabricante de jatos comerciais no mundo, com mais de cinco mil aeronaves entregues em todo o mundo, incluindo companhias aéreas de 61 países e 50 forças armadas.
O passo atual é o projeto Gripen NG. Engenheiros brasileiros já estão na Suécia, onde participam do desenvolvimento do futuro caça da FAB. Das 36 unidades já encomendadas, quinze serão fabricadas no Brasil. Além da Embraer, outras empresas brasileiras também participam.