22 de abril de 2017: após 72 anos, ainda ecoam, ruidosas como os trovões, as bombas lançadas no Vale do Pó, naquela que foi, indubitavelmente, a mais bela página na História da Força Aérea Brasileira em defesa da liberdade dos povos, esculpida a ferro, fogo e sangue por nossos pilotos de Caça no céu da Itália. Em um dia que poderia ter sido corriqueiro, como tantos outros no teatro europeu da Segunda Guerra Mundial, o Primeiro Grupo de Aviação de Caça operou continuadamente, do alvorecer ao poente, os bravos P-47, que, incansáveis, como aríetes de aço, martelavam sem trégua o inimigo que, covardemente, afundou navios brasileiros em nosso litoral, assassinando, sem distinção, homens, mulheres e crianças. Irmanados na labuta e na angústia, exaustos, mas, sobretudo, determinados em cumprir o dever, aviadores e mecânicos se desdobraram na execução das missões aéreas e no reposicionamento das aeronaves, sedentas por pólvora e combustível, em cumprimento ao excepcional esforço de combate, naquele que passou a ser conhecido como o “Dia da Aviação de Caça”.
Era o ápice de uma bem sucedida campanha, exigida em peso pela sociedade brasileira e levada a efeito por um punhado de jovens brasileiros, voluntários e idealistas, paladinos da liberdade comandados por Nero Moura. O sucesso dos Jambocks na Campanha da Itália mostrou de modo inconteste, o valor decisivo da liderança, da coesão e da camaradagem para a consecução dos objetivos pretendidos por aquele Grupo. A saga do Primeiro Grupo de Aviação de Caça no teatro de operações europeu também nos fez ver que não se pode prescindir de disciplina e dedicação para se alcançar a vitória.
Os ensinamentos absorvidos pelo Esquadrão Jambock espraiaram-se, progressivamente, no pós-guerra para forjar Pif-Pafs, Pampas, Jokers, Pacaus, Jaguares, Centauros, Pokers, Adelphis, Escorpiões, Grifos e Flechas – gerações de pilotos de combate inteiramente dedicados ao serviço da Pátria e ao fortalecimento do Poder Aeroespacial Brasileiro. Contudo, como citou o filosofo Irlandês Edmund Burke, “Não se pode planejar o futuro a partir do passado”. Tudo que foi construído pelos Jambocks durante a Segunda Guerra e foi lapidado ao longo desses sessenta e dois anos de História da Aviação de Caça deve, sim, ser respeitado, mas a Força Aérea precisa se preparar para os desafios do porvir.
A audácia e a devoção que impulsionaram os Jambocks durante a Segunda Grande Guerra são predicados que servem de inspiração para conduzirmos as transformações que, doravante, tornarão a Força Aérea Brasileira uma Instituição com grande capacidade dissuasória, operacionalmente moderna e capaz de atuar de forma integrada para a defesa dos interesses nacionais.
Os cenários antevistos para o Emprego do Poder Aeroespacial
Vetores com capacidade multiemprego, plataformas aéreas com dias de autonomia, combate aéreo além do alcance visual, operações aeroespaciais em redes, satélites de reconhecimento e comunicações militares, sistemas de detecção furtivos e confrontos no espaço cibernético, entre outras características – indicam, com nitidez, que será imperativo ajustar os processos, as táticas, as técnicas e os procedimentos ora em vigor na Força Aérea. Nesse sentido, o recém criado Comando de Preparo está encarregado de planejar o treinamento, fixar os padrões de eficiência e avaliar o desempenho das Alas e unidades subordinadas, além de coordenar a formulação da Doutrina Aeroespacial, a partir dos cenários e das capacidades estratégicas definidos pelo Estado-Maior da Aeronáutica.
O Comando de Operações Aeroespaciais, ativado em janeiro do corrente ano, passou a ser o Comando Conjunto permanentemente ativado responsável pela condução das operações aeroespaciais recorrentes e eventuais determinadas pelo Comandante da Aeronáutica e pelo Ministro da Defesa. Este novo paradigma – dividir as atividades de preparo e emprego em dois comandos – tem apresentado expressivos resultados, quais sejam: a racionalização e a economia no emprego dos meios aéreos, sobretudo em relação às aeronaves de Transporte Aéreo Logístico; a pronta-resposta para atender às ordens emitidas pelos escalões superiores; a especialização técnica dos oficiais e praças que compõem o COMPREP e o COMAE; o estabelecimento de métodos científicos para o desenvolvimento de habilidades, conhecimentos e atitudes necessários aos combatentes; e as melhorias nos processos de gestão da informação e do conhecimento operacional.
A Ala, a nossa filha caçula, é o coração pulsante da Força Aérea! Uma organização de nível tático imprescindível para o emprego do Poder Aeroespacial. A responsabilidade fundamental de seu Comandante é adestrar os seus componentes orgânicos – unidades aéreas, grupo logístico e grupo de segurança e defesa – conforme os padrões fixados pelo COMPREP, e mantê-los aprestados para serem empregados pelo COMAE, quando e onde for determinado. A transformação da Força Aérea não seria completa sem abordar a melhoria dos processos administrativos. As atividades rotineiras de manutenção do patrimônio e da infraestrutura, de gestão dos recursos humanos, de subsistência e de aquisições, entre outras tantas, que antes estavam dispersas em diversas organizações, foram concentradas em grupamentos e destacamentos especializados, subordinados aos órgãos setoriais de Logística, Pessoal e Administração. Isso tornou esses procedimentos mais ágeis, confiáveis e econômicos, além de facultar aos comandantes das Alas mais tempo para se dedicarem aos assuntos técnicos e operacionais.
Todas essas ações, afinal, visam à constituição de uma Força Aérea dinâmica e eficiente, fundamentada na disciplina, no patriotismo, na integridade, no comprometimento e no profissionalismo de seus homens e mulheres, e absolutamente capacitada a cumprir a sua missão: “Manter a soberania do espaço aéreo e integrar o território nacional com vistas à defesa da Pátria”.
Senhores e senhoras, o verdadeiro heroísmo dos bravos Avestruzes na Campanha da Itália foi persistir na luta e não esmorecer, mesmo quando tudo parecia difícil ou impossível. Os feitos do Primeiro Grupo de Aviação de Caça, que ora celebramos, transcendem a Aviação de Caça; eles pertencem à Força Aérea Brasileira e nos inspiram a voar, combater e vencer!
Por fim, é oportuno aludir à explicação de Austregésilo de Athayde sobre a expressão que guiou os Jambocks em suas missões de combates: “Senta a Pua significa lançar-se sobre o inimigo com decisão, golpe de vista e vontade de aniquilá-lo. Quem vai sentar a pua não tergiversa. Arremete de ferro em brasa e verruma o bruto”.
Então, brademos com ânimo o nosso triunfante grito de guerra: SENTA A PUA! BRASIL!
Assina,
Ten Brig Ar Antônio Carlos EGITO do Amaral
Comandante do Comando de Preparo