Por Guilherme Wiltgen
A Força Aérea Brasileira (FAB) deu hoje um importante passo em direção a conquista da sua Aviação de Transporte Estratégico e Reabastecimento em Voo de longo alcance, ao anunciar abertura do processo de licitação para aquisição de duas aeronaves Airbus A-330-200, publicada hoje (27) no Diário Oficial da União.
Esse foi o primeiro passo para alcançar o objetivo da FAB em possuir um MRTT (Multi-Role Tanker Transport), que se dará por meio da conversão dos dois A-330.
A conversão das duas aeronaves que a FAB vai adquirir, deve fazer o mesmo caminho dos três A-330 espanhóis, adquiridos no final do ano passado, que serão convertidos na planta da Airbus em Getafe.
O MRTT para o Brasil
O MRTT foi falado pela primeira vez durante uma live do Presidente Jair Bolsonaro em 28/01/21, quando o mesmo anunciou a possibilidade da aquisição de duas aeronaves Airbus A330 para Força Aérea Brasileira (FAB).
Sem dar muitos detalhes, tanto do modelo correto da aeronave quanto a sua origem, o Presidente disse que as mesmas poderão ser adquiridas com valores obtidos pelos acordos de leniência da Operação Lava Jato, que giram em torno de R$ 500 milhões.
A opção Britânica
Em 28/06/21, o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Junior, e o Embaixador do Reino Unido, Peter Wilson, se reuniram em Brasília (DF), para tratar de assuntos relevantes para a Força Aérea Brasileira (FAB). A visita também contou com a presença do Adido de Defesa do Reino Unido, Capitão de mar e Guerra da Real Marinha Britânica Mark Albon.
As autoridades trataram sobre a intenção da Força Aérea Brasileira (FAB) em adquirir aeronaves de reabastecimento em voo no sentido de se avaliar oportunidades de possíveis equipamentos que possam ser oferecidos pelas Forças Armadas do Reino Unido e que já contam com alto grau de compatibilidade com as capacidades operacionais já implantadas na FAB.
No dia 30/06/21, o Adido de Defesa do Reino Unido no Brasil, Capitão de Mar-e-Guerra Mark Albon, participou de um seminário online, intitulado “Revisão Integrada de Defesa e Segurança: O que isso significa para a Defesa do Reino Unido?”. Nessa ocasião, o Defesa Aérea & Naval participou como convidado da Embaixada do Reino Unido no Brasil, e questionou o Adido de Defesa quanto a visita que fez com o Embaixador do Reino Unido, no dia 28/06, ao Comandante da Aeronáutica onde um dos assuntos tratados foi a intenção por parte da FAB em adquirir aviões MRTT (Multi Role Tanker Transport). O Oficial da RN, de forma muito descontraída iniciou sua resposta com uma pergunta: “Vocês tem espiões por toda parte?” e prosseguiu dizendo que sim, que espera que sim, que a FAB tem a intenção de adquirir duas aeronaves e que estão em tratativas, porém não há nada certo. “As partes estão em contato e esperamos que as aeronaves sejam vendidas ao Brasil”.
O MRTT também será produzido nos USA : https://www.airframer.com/news_story.html?report=23629.
Talvez a conversão de aviões usados possa eventualmente ser realizada com essa alternativa …
Não teremos conversão com porta de carga. O porão da aeronave recebe palets e é enorme. A única coisa que a FAB fará será a conversão da aeronave para REVO e talvez algo para autodefesa.
Obriggao prezado PADILHA! Forte abraço!
Essa montagem da foto já deu um gostinho do que será o avião nas cores do Brasil.
Essas aeronaves vem com algum sistema de alto defesa ??
O ideal é a aquisição imediata de A330-200F usados, a versão cargueira do A330, para uso imediato.
(Pena que perdemos a oportunidade que era 05 A330F da Qatar Cargo vendidos no começo do ano passado.
Ele já possui a porta de carga do deck superior, que os A330-MRTT da RAF não possui e aparentemente também os MRTT de todas os outros países (não encontrei uma foto sequer na internet de um A330-MRTT com essa porta, talvez por que quase todos os operadores possuem outro transportador de carga de médio/grande volume estratégico, como o C-17), vejo como essencial essa capacidade para transporte de volumes de maior porte não transportáveis no porão dos aviões, essas portas permitem o uso de kits rápidos de conversão carga para passageiros/misto, além de suprir a limitação de alcance dos KC-390, permitindo transportes intercontinentais; se não tiver essa porta, a conversão para instalação desta seria talvez seja das mais onerosas por envolver reformas profundas na estrutura e deixaria a aeronave parada por um tempo precioso.
Com relação a conversão em avião-tanque, vai depender qual o tipo que queremos de imediato e/ou futuro: cesta ou cesta + lança.
Conforme divulgado em diversos sites e da própria AIRBUS, a conversão de uso para do tipo cesta nas asas é relativamente fácil para este avião, pois como ele usa a mesma asa dos quadrimotores A340, porém é um bimotor que usa somente os pontos de fixação do motor na parte interna da asa (um em cada asa), é essencialmente efetuar a instalação dos pods de reabastecimentos nos pontos de fixação dos motores na parte mais externa das asas.
Já uma conversão mais profunda pode ser efetuada no futuro, que incluiria tanto a capacidade de o A330 ser reabastecido em voo, com a instalação de um receptáculo universal para sistema lança (UARRSI), quanto de possuir um sistema de reabastecedor tipo lança na fuselagem (ARBS). Apesar de não temos aviões que usem o sistema de lança, essa conversão permitiria que um A330 abastecesse o outro A330, aumento seu alcance ou disponibilidade operacional, além de aviões de outros países em operações conjuntas.
Devo ressaltar que a motivação da RAF de disponibilizar para venda algumas de suas aeronaves na versão KC-Mk2, está exatamente no fato desta versão somente possuir os pods das asas do sistema de cesta (a versão KC-Mk3 possui tanto os pods das asas, como uma unidade FRU também de cesta na fuselagem), ou seja elas não possuem os sistemas UARRSI e ARBS, o que impede tanto o reabastecimento do próprio A330 quanto no caso do inventário da RAF, dos C-17. Com isso, em vez de optar por reforma estes aviões, eles oferecem a terceiros, para em posterior, encomendar um novo lote com esses sistemas, e talvez até com portas de cargas para o deck superior, o que permitiria ao operador ampliar a gama de uso civil dos aviões, hoje restrito a voos charter de passageiros, ou cargas com tamanho limitado a capacidade dos porões. .
Com relação a quantidade, de imediato 2 com capacidade/disponibilidade operacional plena, atenderia em caráter de urgência nossas necessidades imediatas. Mas deve ser verificado a possibilidade de uma 3º ou mesmo 4º aeronave, também usadas, na versão A330 de passageiros, o qual poderia uma delas ser usada como aeronave VIP Presidencial e em contingência como abastecedor e/ou transporte de cargas de menor volume nos porões em voos intercontinentais, como em operações de repatriamento, substituindo o A319, que poderia ser disponibilizado para venda (não vejo a mesma como uma aeronave a ser mantida e enviada para um museu, pois não tem o apelo histórico das outras aeronaves presidências já usadas pela FAB, e que tiveram tristes fins). É basicamente a mesma decisão que a Força Aérea Francesa tomou ao comprar aviões A330 usados pela AVIANCA no final do ano passado. Caso em situações normais não haja demanda continua para essa quantidade de aviões, poderia ser fazer algo semelhante com o que a RAF fez, uma Parceria Publico Privada, onde um operador privado se responsabilizaria pelas manutenções e disponibilidade de aparelhos e quando não estiver em uso pela FAB, poderia fretar para uso civil em voos charter ou mesmo para uso por empresas de logística nacionais (como MERCADO LIVRE) ou mesmo pelo CORREIOS, desde que devidamente remunerado pelo serviço.
Aos que questionam a aquisição dessas aeronaves, pois acham elas, caras, supérfluas ou acima de nossas necessidades (seja de capacidade ou de quantidade) e acham o KC-390 suficientes, devo sugerir que efetuem um exercício de aprendizado, e pesquisem melhor as características, finalidades e obviamente limitações operacionais do avião tático KC390, ou mesmo de seu antecessor C-130 (capacidade de carga/tropas vs alcance operacional vs conforto situacional de em operações de longa duração, mesmos que sejam abastecidos em voo para ampliar seu alcance), com relação as vantagens dos aviões estratégicos A330:
> Alcance estratégico: capacidade de voos intercontinentais diretos com plena carga (o KC390 precisaria ser reabastecido no ar ou fazer escalas técnicas como os VC2 fizeram na Operação Regresso de repatriamento de cidadãos brasileiros da China no inicio da pandemia de COVID: que geram perda de tempo em trajetos não diretos, tempo de reabastecimento no solo e questões de disponibilidade física de tripulação, que pode nesses casos ter que fazer pernoite, ou seja maiores custos e maior atraso na chegada ao destino)
> Capacidade de levar até 3 vezes mais passageiros/tropas do que o KC-390 em uma única viagem, com melhor conforto, fator importante em viagens de longa distância, o que representa menor custo de voo, o que também viabilizar a operacionalização de forças de pronta resposta/emprego do exército, que sem aviões desse tipo, na prática tem pouca ou quase nenhuma capacidade de reagir/atender a uma emergência em pontos diversos e limítrofes de nosso território ou mesmo em países amigos, em poucas horas após o acionamento e com quantidade de tropas adequadas a necessidade (que podem ser centenas).
> Ter status internacional e preferencial em voos humanitários de repatriamento (podem em grande parte das situações, aterrissar em locais com barreiras sanitárias ou proibições para aviões civis de outros países, não pagam taxas aeroportuárias que aviões civis fretados pagam, permitem maior disponibilidade para esses voos, tendo em vista que por motivos contratuais, aviões civis fretados não podem efetuar certos tipos de voos que representem risco para a aeronave (cargas transportadas ou locais de conflito), já que a quase totalidade dos aviões usados pelas nossas companhias aéreas nacionais, não são delas, mas sim alugadas de empresas de leasing internacionais, com isso as que pertencentes a FAB terem menor custo de horas/voo: manutenção e tripulação em relação aos privados.”
Serão adquiridos 2 A330 na versão PAX. A FAB não tem necessidade de configurar com porta de carga pois o porão da aeronave é enorme e suficiente. Assim, o máximo de conversão que irá ocorrer será a inserção do Kit para REVO. Mais nada.
Prezado Padilha,
Pelo que li na época da decisão do KC-2 dos 767 que seriam convertidos pela IAI, a escolha foi de aviões cargueiros com porta adaptada no deck superior, sendo semelhante ao 767 MMTT da FORÇA AEREA COLOMBIA, com provavelmente o kit de instalação rápida de assentos da IES (https://www.youtube.com/watch?v=GSqFHOYQjEA), pois precisamos de uma capacidade de transporte de volumes maiores, mas com peso relativo baixo, como veículos SUV (tem uma maquete do A330 com 2 SUV brancos com logo da ONU lado a lado no deck superior: https://s1.ibtimes.com/sites/www.ibtimes.com/files/styles/lg/public/2014/11/21/a330-mrtt.jpg).
Mesmo na época dos 707, pelas fotos, todos possuíam porta de carga, até o presidencial (pena que não tem fotos do interior de todos os aparelhos, para ver se todos possuíam na parte superior acabamento com bagageiros (bins), ou se entre eles haviam sido convertidos 100% para carga, com a retirada deste acabamento).
Portanto existe e sempre existiu a necessidade de aeronaves com capacidade de carga de grandes volumes no deck superior, para longas distancias.
Em resumo, seria coerente para se economizar em custo e tempo de conversão, que pelo menos um dos 02 aparelhos seja Cargo (que inclusive tem trem de pouso dianteiro instalado de forma diferente) e o outro PAX, para uso presidencial e/ou geral no transporte de pessoas, o modelo Cargo pode ser usado também na opção Kombi, ou ter a opção de um sistema instalação de poltronas rápidas, como o IES (link do vídeo acima).
Também é preciso entende o que é MRTT para a FAB, para entender o que ela pretende incluir numa conversão, já que existem diversos níveis de conversão, pode ser a mais simples e rápida que é a adaptação para REVO, que é a instalação de PODs de abastecimento nos pontos (pylons) de motores já existem e não usadas nas asas dos A330 (que é a mesma do quadrimotor A340), os sistemas de gerenciamento do REVO na cabine e uma escada embutida na porta para não depender de infraestrutura local , até uma conversão mais avançada que é instalar receptor de abastecimento acima da cabine, bem como a instalação da porta de carga do deck superior e reforços estruturais/piso, que demandariam um custo muito mais alto e um tempo de conversão longo.
Será que os Voyagers estão fora por não terem a porta de carga lateral ou foi idade ou desgaste?
Que venham mais 2 com o tempo.
São caros demais em comparação com um A330 PAX.
Pode ser que eu esteja enganado, mas tenho a impressão de que nenhum usuário fez opção por aquela “cargo door” lateral que permite acesso ao “main deck” para cargas de maior volume, como os MMTT da Colômbia, certo?
Será que o “porão” da aeronave é suficiente para cargas maiores, tipo pallets? Qual será o padrão escolhido pela FAB?
Acho que uma conversão com “cargo door” e reforços estruturais seria bem mais cara, porém a aeronave ganharia uma versatilidade gigantesca. Caso contrário, poderá transportar pessoal, combustível e carcas de menor volume, apenas.
Prezado Felipe,
No ano passado eu fiz comentários em sites, apontando este detalhe da porta, que não tinha encontrado fotos de A330 MRTT com essa porta.
Mas tem algo que pode justificar eles não terem se preocupado com a necessidade dessa porta, pois quase todos os usuários do A330 MRTT possui um outro avião de carga com capacidade estratégica em seu inventário (C-17 ou A-400), além de possuírem participação direta ou indireta em empresas aéreas que possuem frotas de cargueiros, inclusive alguns 747F, que numa emergência pode ser requisitados, o que não ocorre conosco.
Também acho que um dos motivos da RAF estar querendo vender alguns VOYAGES, é por não terem a porta de carga e também terem outros 2 problemas: não tem sistema receptor de abastecimento em cima da cabine para sistema lança, além deles também não possuírem sistema REVO tipo lança para os C-17 ou para outro A330, nesse sentido para os ingleses é mais interessante vender os aparelhos que somente tem PODs nas asas (VG2) e depois comprar outros com os sistemas acima, do que adaptar no que já possuem.