Por João José Oliveira e Virgínia Silveira
A Gol, líder brasileira em passageiros embarcados, nunca esteve tão perto de comprar aviões da também brasileira Embraer, graças à nova família E-Jets E2, que começa a ser entregue em 2018, apurou o Valor. A negociação, que começou há sete meses, já passou pela discussão das especificações técnicas e entrou na etapa final – a que define preços e condições de pagamento, de assistência técnica e de treinamento de pilotos e mecânicos.
O martelo vai ser batido até o fim deste ano, se valer o cronograma tradicional de compras na aviação comercial.
Mas a disputa não está definida. A americana Boeing, atual fornecedora exclusiva da frota da Gol, de 114 aeronaves, não está fora dessa briga.
Procurada pelo Valor, a Gol confirmou as conversas com Embraer: “Como uma empresa competitiva, a Gol está sempre avaliando novas oportunidades para seu negócio. No momento, estuda a possibilidade de comprar aeronaves da nova família Embraer E2. Estes jatos seriam utilizados em rotas que justifiquem a utilização de aeronaves com 130 a 140 assentos”.
A Embraer informou que não comenta contratos antes de assinados. As três maiores aéreas do país – TAM, Gol e Azul – demonstraram maior interesse nos aviões da fabricante brasileira após o anúncio do programa de aviação regional, previsto para começar em 2015.
O governo promete gastar R$ 7,3 bilhões na reforma e ampliação de 270 aeroportos regionais, e levar transporte aéreo a um raio de até 100 quilômetros a 95% dos brasileiros. O plano vai também subsidiar passagens, até o limite de 60 assentos por voo, nessas rotas.
A Azul, terceira maior aérea brasileira, assinou em julho pedido firme para 30 jatos E195-E2 e mais 20 opções de compra, em encomenda estimada em US$ 3,1 bilhões. Os aviões extras serão adquiridos se a demanda regional se confirmar, disse, em julho, o presidente da Azul, David Neeleman.
Mas o interesse da Gol nos novos jatos da Embraer não depende apenas da aviação regional. A nova família E-Jets E2 (formada pelos modelos E175-E2, E-190-E2 e E-195E2) pode ser usada para substituir os Boeing 737-700, com 140 lugares. Esses aviões menores da Boeing são usados pela Gol para atender a rotas com menor densidade, em que a taxa de ocupação seria inferior a 75%, média da companhia no país. Seriam usados, então, os 737-800, de 177 lugares.
A Gol já acertou com a Boeing a renovação desses aviões maiores. Receberá 60 novos 737-8 até 2023, ao ritmo de oito a dez novas aeronaves entregues por ano.
Entre 2015 e 2017, os aviões 737-8 que a Gol vai receber são da mais nova geração dessas aeronaves já lançadas. Mas uma nova geração, a 737-Max8 – ainda em fase de especificação técnica – começa a ser entregue em 2018.
O mesmo processo de renovação na Gol será feito para os 737-700, que virão, a partir de 2018, na nova geração dos 737-Max7.
Nas especificações técnicas – lembrando que os jatos ainda não voaram – os E-Jets E2 podem ser mais competitivos que os 737-Max7. A Embraer promete jatos com reduções de dois dígitos em gastos de combustível, em emissões de poluentes, e de ruído. A manutenção também seria mais barata. Embraer sinaliza que pode entregar os aviões a um ritmo maior do que a concorrência.
Mas a Embraer precisa agora mostrar que é igualmente competitiva em preço, condições de pagamento e serviços como o de manutenção. É que toda a estrutura da Gol de manutenção, treinamento de pilotos e planilhas de vendas é construída sobre o modelo Boeing. Por isso, a aérea vai querer da Embraer condições que compensem as despesas extras que terá para operar com aeronaves de fabricantes diferentes.
Além da Gol, a TAM também já anunciou a intenção de comprar jatos regionais até o final do ano e os modelos Embraer são favoritos.
FONTE: Valor Econômico
Duas boas notícias.
1 – Gol e TAM finalmente mostram real interesse pelos jatos da Embraer, o que para mim parecia um erro.
2 – A se confirmar a entrada do E-195 em substituição a modelos 737, finalmente a Embraer terá de se posicionar de forma mais agressiva na concorrência com a Boeing e Airbus nessa faixa de mercado. Sob meu ponto de vista a Embraer sempre procurou até o momento evitar colocar seus produtos como alternativa aos modelos menores das duas companhias.
De quebra, também é interessante supor como fica a parceria firmada a pouco tempo entre Embraer e Boeing.