Há 13 anos no comando do helicóptero H-36, Débora hoje é capitã do Esquadrão Puma
Por Dayane Emrich
Missões de busca, salvamento, humanitárias, de apoio em casos de enchentes, incêndios e todo tipo de calamidades. Estas são algumas das atividades realizadas por uma das primeiras mulheres a ocupar o posto de piloto da Força Aérea Brasileira (FAB), a friburguense, de 31 anos, Débora Ferreira Monnerat.
Dona de uma personalidade forte, a atual capitã do helicóptero H-36 Super Puma no Esquadrão Puma, sediado no Rio de Janeiro, explica que o tradicional nunca esteve nos seus planos e que aos 17 anos descobriu a vontade de ser piloto, mas não de aviões comerciais e sim de aviões de combate. No dia Internacional da Mulher, celebrado hoje, 8, e em entrevista concedida para A VOZ DA SERRA, Débora conta mais detalhes sobre a sua trajetória, a luta por espaço em um cargo geralmente ocupado por homens e a rotina da profissão.
A VOZ DA SERRA: Qual é a sua história?
Débora Monnerat: Nasci e cresci em Nova Friburgo e sempre morei no centro da cidade. Meu pai é o Marcio Monnerat, professor de artes marciais, e minha mãe é Delma Machado, comerciante. Tenho dois irmãos: o Pedro e o Paulo Cesar. Em relação aos estudos, cursei uma parte no Colégio Modelo e outra no Anchieta. Sempre fui apaixonada por esportes; eu fazia muay thai e gostava muito de jogar vôlei.
Como e quando entrou para a Força Aérea Brasileira?
Fiz um concurso em 2003 e ingressei na Academia da Força Aérea em 2004 para seguir carreira como piloto militar.
Quando decidiu que queria ser piloto?
Foi no fim do ensino médio, eu tinha 17 anos e era época da escolha da carreira. Eu não me interessava por nenhuma faculdade. Comecei, então, a pesquisar e descobri que queria ser militar e, a força que mais me interessava era a Aeronáutica. Assim decidi: vou ser piloto militar.
Teve dificuldades?
Logo depois de feita a escolha, para minha surpresa, descobri que mulheres não podiam ser piloto naquela época. Isso me entristeceu, mas não desisti. Cheguei a me inscrever para fazer prova para a Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar), que também não aceitava mulheres. Porém, uma semana antes da prova, abriram vagas para mulheres na Academia da Força Aérea. Naquele momento, entrar para a FAB virou meu objetivo de vida. Fiz prova para a primeira turma de mulheres, tinha acabado de terminar o terceiro ano, mas infelizmente não passei. Mesmo assim não desisti. Estudei um ano todo dedicado só a esta prova e, enfim, consegui a tão sonhada vaga para me tornar piloto militar.
Como chegou ao posto de capitã?
O caminho não foi fácil. A formação é em regime de internato por quatro anos, somos liberados só aos finais de semana. Além disso, muitos são mandados de volta para casa quando não vão bem ou não tem aptidão nos voos. Realmente não é fácil. Outra coisa que é muito cobrada é a parte física, são muitos exercícios durante todo o dia. Mas nesta parte eu conseguia ir melhor por já ter uma bagagem de esporte. Consegui concluir o curso todo e continuei a trilhar o caminho como piloto de helicóptero da Força Aérea Brasileira até me tornar capitã do esquadrão.
O que seus pais acharam da escolha? Você teve apoio?
Meus pais sempre me apoiaram. Meu pai vibrou muito com minha escolha. Minha mãe, apesar de ficar com o coração apertado a cada voo que faço, também sente muito orgulho de mim. Eles foram meu alicerce para transpor todos os obstáculos.
Qual o tipo de avião você pilota?
Piloto o helicóptero H-36 Super Puma, no Esquadrão Puma, sediado no Rio de Janeiro. O Esquadrão Puma realiza missões de busca e salvamento, missões humanitárias, apoio em casos de enchentes, incêndios e todo tipo de calamidades. Escolhi o helicóptero por me identificar muito com a missão de busca e salvamento e sou realmente realizada no que faço. No final do ano passado, tive a satisfação de realizar uma missão de apoio aos bombeiros para combater o incêndio na Chapada Diamantina, na Bahia.
Como é a sua rotina de trabalho?
Normalmente trabalho de segunda a sexta, das 8h às 16h. Durante os fins de semana, cumpro algumas escalas de plantão. Quando não estou envolvida com a atividade aérea (realizando voos), desempenho atividades administrativas no Esquadrão. Todos os dias o Esquadrão tem uma equipe de alerta 24 horas para cumprir as missões de busca e salvamento, das quais eu também faço parte.
Você já ganhou várias medalhas em competições. Como é a sua relação com os esportes?
Sempre gostei de esportes, pratico desde pequena, até por influência do meu pai. Quando entrei para a Academia da Força Aérea continuei praticando esportes, entrei para o pentatlo militar e conquistei alguns recordes. O esporte foi e é a minha válvula de escape, me faz muito bem. Depois de formada continuei treinando e comecei a praticar o pentatlo aeronáutico, conciliando o esporte com minha carreira. No final do ano passado participei dos jogos Mundiais Militares na Coréia do Sul e conquistei o segundo lugar na competição de esgrima, o terceiro na competição de pista de obstáculos e o segundo por equipe. Por conta destes fatos fui homenageada recentemente com a Medalha de Mérito Desportivo.
Se não fosse piloto, qual profissão seguiria?
Seria bombeiro. A missão de salvar vidas é o que mais me motiva.
Como é a rotina de mulheres que escolhem esse trabalho? Depois de você outras estão buscando essa ocupação?
As mulheres têm a mesma rotina que os homens, sem qualquer distinção. Na minha turma se formaram apenas duas mulheres, mas a procura vem aumentando muito. A Força Aérea tem aviadoras desde 2003 e a tendência é termos cada vez mais mulheres na profissão.
Sobre Nova Friburgo, sente falta da cidade? Visita o município com frequência?
Amo Nova Friburgo, é a cidade do meu coração. Morei minha vida toda e minha família ainda mora na cidade, então visito sempre.
Sofreu ou sofre preconceito por ser uma profissão predominantemente masculina?
No início as pessoas não estavam acostumadas com a nossa presença neste meio, mas sempre fui tratada com muito profissionalismo e aos poucos fomos conquistando nosso espaço e o respeito de todos.
Pensando nesta data, 8 de março, qual o lugar da mulher na sociedade?
Se tiver garra, vontade e souber lutar pelos sonhos, o lugar da mulher é onde ela quiser estar.
FONTE: A Voz da Serra