Tem algo de diferente no céu de Florianópolis (SC): os rotores dos helicópteros H-1H da Força Aérea Brasileira chamam a atenção com sobrevoos sobre a ilha. Nesta semana, os moradores podem se surpreender com cenas de ação em plena baía sul, próxima à praia, ou em áreas vizinhas ao aeroporto. A movimentação faz parte do exercício Carranca 2, que até a próxima sexta-feira torna a Base Aérea de Florianópolis (BAFL) um centro de treinamento em missões de busca e resgate.
Nesta segunda-feira (23/9), os helicópteros H-1H, do Esquadrão Pelicano, de Campo Grande (MS), realizaram salvamentos simulados tanto na água quanto em terra em áreas próximas à BAFL. As missões, no entanto, começam bem antes e podem levar os participantes a dezenas ou até centenas de quilômetros da cidade: aviões SC-105, SC-130, P-95 e P-3AM de outras unidades também participam da Carranca 2 com a tarefa de localizar náufragos, embarcações a deriva, pilotos que ejetarem de seus caças e aeronaves acidentadas. Tudo, claro, somente de forma simulada.
Isso não quer dizer que a missão não pareça ser real. “A ideia é colocar na missão simulada todas as dificuldades que vão ser encontradas em uma missão real”, explica o Tenente-Coronel Sílvio Monteiro Júnior, diretor do exercício.
Seja na água ou em terra, no local dos acidentes simulados há militares com a curiosa missão de fazer papel de vítimas. Eles vestem roupas rasgadas e, com uma maquiagem que lembra produção de filmes, simulam estar feridos. As “vítimas” também dificultam o trabalho: alguns fingem estarem desacordados, outros simulam situações de pânico ou ainda dificuldades de locomoção. “O treinamento se torna melhor quanto mais próximo for da realidade. E em uma missão real o militar precisará ter controle psicológico para enfrentar alguns tipos de situação”, conta o Tenente-Coronel Sílvio.
A única diferença para uma missão real é que durante a Carranca 2 os salvamentos acontecem sob o olhar de Oficiais que acompanham cada um dos procedimentos adotados. “O objetivo é a gente aprender com essa análise e melhorar ainda mais”, afirma o diretor do exercício.
Com pranchetas em mãos, os avaliadores registram cada passo, até depois do pouso: após localizar o “acidente” e resgatar as “vítimas”, os militares são avaliados no desembarque dos “feridos” e na entrega deles para uma equipe médica de prontidão. A intensidade o exercício também é maior que a vida real: somente nesta segunda-feira, dois resgates foram realizados.
Experiência e aprendizado
De acordo com o Tenente-Coronel Sílvio, o exercício também ajuda a nivelar conhecimentos sobre missões de busca e salvamento. Enquanto alguns são jovens, outros têm anos de experiência.
É o caso do Capitão Luís Carlos Couto, que é controlador de tráfego aéreo. Desde 2006 ele atua como coordenador de missões de busca a partir do Salvaero do Terceiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA III), do Recife (PE).
O Capitão Luís não embarca em aviões ou helicópteros, mas da frente da tela do computador e com um rádio em Capitão Luís, coordenador de missões de buscamãos acompanha a evolução das missões e traça as áreas de busca com base em variáveis como vento, correntes marítimas e informações sobre a aeronave ou embarcação desaparecida.
Entre suas experiências mais marcantes está a missão real de busca após o acidente com o voo da aeronave da Air France, em junho de 2009. Ele conta que trabalhou durante 26 dias seguidos, pausando apenas para dormir. “Nossa missão começa com o primeiro relato do desaparecimento de uma aeronave e só termina com o resgate dos sobreviventes ou com a suspensão das buscas”, explica.
Mesmo experiente, ele diz ser importante participar de um exercício como a Carranca 2. “Muitas vezes nós passamos muito tempo sem participar de uma busca. Podemos tirar dúvidas, trocar experiências. Mesmo aquele que chegou um ano atrás tem alguma experiência a ser compartilhada. O conhecimento não se esgota”, conta.
Avião SC-105 em missão de buscaA função de coordenação também passa por avaliações durante esta semana. Para isso, foram montados na Base Aérea de Florianópolos dois centros de coordenação de busca semelhantes aos encontrados nos quatro CINDACTAs, de Brasília, Curitiba, Recife e Manaus, e composta por representantes de cada um deles.
Para o Capitão Luís, outra vantagem de participar do exercício é que todos os dias ele pode encontrar as tripulações de aviões e helicópteros com quem passou o dia tratando por rádio. Em missões reais, ele pode permanecer em Recife enquanto as tripulações voam a partir de outra cidade.
No caso da missão de busca da aeronave da Air France, por exemplo, de Recife (PE) ele mantinha contato direto Avião P-95, utilizado em missões de buscacom tripulantes de aeronaves que operavam a partir da ilha de Fernando de Noronha. Na Carranca 2, diariamente, ele pode pessoalmente conversar com as tripulações. “Tiramos dúvidas sobre qualquer detalhe e todos aprendemos muito”, finaliza.