Na Força Aérea Brasileira (FAB), a Comissão Coordenadora do Programa de Aeronave de Combate (COPAC) é a responsável pela condução de projetos de aquisição, modernização e desenvolvimento de aeronaves, bem como de sistemas aeronáuticos. Isso significa que esta organização militar teve um papel ativo durante a seleção de caças no Projeto F-X2, no qual o Gripen E/F, da Saab, foi escolhido para proteger o espaço aéreo brasileiro.
Atualmente, a COPAC é a responsável por acompanhar o desenvolvimento do Gripen, pela fiscalização e recebimento das aeronaves e por dar todo o suporte necessário à sua operação e às atividades relacionadas à sua implantação na FAB. Para falar sobre como foi esse processo de aprimoramento, convidamos, para uma entrevista exclusiva o Presidente da COPAC, Major-Brigadeiro-do Ar Valter Borges Malta.
1. O que representou a apresentação oficial do Gripen no Brasil no Dia do Aviador e Dia da Força Aérea Brasileira?
Major-Brigadeiro Malta: A chegada da aeronave Gripen no Brasil, em setembro de 2020, seguida de sua apresentação no Dia do Aviador e da Força Aérea Brasileira, representou um importante marco no Projeto F-X2, caracterizado pelo início da campanha de ensaios da aeronave no Brasil. Mais do que isso, marca o início da operação do Gripen Flight Test Center (GFTC), importante estrutura relacionada ao offset a ser recebido e por meio do qual serão conduzidas as atividades de ensaio e verificação, tanto da aeronave monoposto quanto da aeronave biposto. Assim, representa um importante marco do desenvolvimento e da transferência de tecnologia, assegurando ao Brasil sua participação efetiva em todo o processo.
2. Após a chegada do primeiro Gripen, para continuação do programa de ensaios em voo no Brasil, quais são os próximos passos e quais são as suas expectativas?
Major-Brigadeiro Malta: A aeronave Gripen inicia uma importante etapa do desenvolvimento por meio da execução de diversos voos necessários ao ensaio de funcionalidades, entre elas algumas exclusivamente brasileiras, as quais permitirão à indústria nacional e aos recebedores da transferência de tecnologia da FAB a participação efetiva em todo o processo de absorção de conhecimentos e execução dos projetos de offset. Ademais, permitirá a utilização de uma estrutura dedicada, a qual inclui o GDDN (sigla do inglês Gripen Design and Development Network, que em português significa Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen), o Gripen Flight Test Center (GFTC) e uma estrutura a ser implantada no Campo de Provas Brigadeiro Velloso para o estabelecimento de um estande operacional para teste de sistemas. Espera-se, com isso, que os objetivos da participação brasileira no desenvolvimento da aeronave sejam alcançados.
3. O que representa para a aviação de caça brasileira a inclusão de um caça inteligente como o Gripen na Força Aérea Brasileira? Como isso impacta a operação?
Major-Brigadeiro Malta: A aeronave Gripen é uma aeronave multimissão, dotada de um radar AESA, sistemas de identificação, contramedidas eletrônicas, autodefesa e armamentos de última geração. O vencedor no combate aéreo moderno será aquele que conseguir executar o ciclo de tomada de decisão necessário ao emprego do armamento de forma mais rápida e eficaz. Nesse contexto, a fusão de dados e o Wide Area Display (WAD) oferecem ao piloto uma consciência situacional superior e que permite capacidade de tomada de decisões mais rápidas e precisas. Além disso, sua logística de simples operação e baixo custo quando comparado às aeronaves de mesma geração tornam seu emprego mais eficiente.
A implantação desse vetor aéreo vai elevar o Brasil ao seleto grupo de operadores de aeronaves de alta capacidade tecnológica. Em comparação às atuais aeronaves de caça, representa uma revolução na nossa capacidade de combate centrada em rede, equiparando a FAB às forças aéreas de países de primeiro mundo.
4. Do seu ponto de vista, quais foram os principais marcos do programa Gripen até hoje?
Major-Brigadeiro Malta: Os principais marcos no âmbito contratual do Projeto F-X2 até o presente momento foram, sem dúvida, o processo de seleção robusto feito pela FAB, com a decisão anunciada em dezembro de 2013, e a assinatura do Contrato de Desenvolvimento e Aquisição em outubro de 2014. Quando falamos do desenvolvimento da aeronave, merecem destaque o roll out realizado em maio de 2016, o primeiro voo do Gripen E em junho de 2017, o primeiro voo da aeronave brasileira em agosto de 2019 e sua chegada no Brasil em setembro de 2020. É importante mencionar também, no âmbito da transferência de tecnologia, a entrada em operação do GDDN em novembro de 2016, evento que marcou o início do desenvolvimento conjunto entre Brasil e Suécia de diversas funcionalidades da aeronave.
5. Qual o legado que o programa de transferência de tecnologia tende a deixar para a indústria de Defesa do Brasil?
Major-Brigadeiro Malta: O Acordo de Compensação, em sua concepção, visa à capacitação da indústria nacional para o desenvolvimento de uma aeronave de caça de última geração, contemplando a capacitação de fabricação de estruturas, montagem, manutenção e/ou modificação de componentes e sistemas aqui no País.
Para tanto, as empresas beneficiadas receberão “ToT – transferência de tecnologia”, “OJT – on the job training” e “WP- cargas de trabalho”, por meio dos 62 projetos, em diversas áreas de interesse.
Dentre as empresas nacionais que foram selecionadas pela Saab, como capacitadas a receber as tecnologias selecionadas como de interesse e foram incluídas como beneficiárias desse Acordo, estão: Embraer, Akaer, Atech, Saab Sensores e Serviços do Brasil (antiga Atmos), Mectron Comm e AEL Sistemas. Foram incluídos também diversos institutos do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), que fazem parte do Comando da Aeronáutica (COMAER), como IFI, IPEV, IAE, IEAv e ITA.
Ainda, relevante e específico dentro da estrutura de offset planejada, cita-se o GDDN, em Gavião Peixoto (SP), imprescindível para o cumprimento seguro e controlado dos pacotes de trabalhos vinculados ao desenvolvimento do Gripen. Esse Centro permitirá ao Brasil participar do desenvolvimento continuado da aeronave Gripen seguindo o modelo sueco, possibilitando, assim, sua progressiva atualização. Da mesma forma, as empresas beneficiárias poderão participar da montagem de futuras aeronaves.
Assim, tem-se como principal legado do offset a capacitação da indústria para sua participação na cadeia produtiva da aeronave, no seu desenvolvimento e na retenção de talentos tão necessária à capacitação da indústria de defesa.
6. O que essa nova fase representa para o futuro da aeronáutica brasileira?
Major-Brigadeiro Malta: O Projeto F-X2 representa muito mais para o Brasil do que a simples aquisição de aeronaves para um Força Aérea desempenhar sua missão. Ele simboliza um projeto de Estado, responsável pela capacitação da indústria brasileira, geração de capital intelectual, de milhares de empregos e de riquezas para o Brasil. Ainda, representa o início de uma parceria de longo prazo entre Brasil e Suécia, benéfica a ambos e que trará diversos spin-offs não apenas da área de Defesa. Representa, por fim, o ideal da FAB de contribuir para o desenvolvimento da Nação, por meio da execução de sua missão institucional.
Nota do Editor: A entrevista foi realizada antes da saída do Brig Malta da COPAC, hoje ele é Vice-Secretário de Economia, Finanças e Administração da Aeronáutica, e o Brigadeiro do Ar Alan Elvis de Lima é o atual Presidente da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate.
Nós pessoas comuns, não temos a noção do lead time dos equipamentos de defesa, por isso é tão demorado para nossa concepção de aquisição.
Mas vamos aprendendo, pois todos queremos nosso Brasil altivo e soberano.
“talvez 70” espero que se transforme em uns 120, pra FAB, e mais umas 3 ou 4 dezenas, na versão naval, para a MB. Será sonhar muito?
Qual a data prevista para a entrega das primeiras 4 unidades?
E quanto à quantidade? Todos ficarão em Anápolis mesmo?
A princípio sim, segundo a FAB.
Quando finalmente entrar em serviço já estará obsoleto, de tanta demora, nunca vi…
Pelo seu raciocínio, o Gripen E/F que será usado pela Suécia e Brasil estará defasado? Foi isso que vc quis dizer? Desculpe, mas vc está enganado. O F-16, um projeto da década de 70, até hoje recebe atualizações e é tido como um caça moderno, que faz frente a caças ditos de geração 4++ e 5ª geração.
Ou seja, aguarde e confie!
”Quando finalmente entrar em serviço já estará obsoleto, de tanta demora, nunca vi…” Maior baboseira que disse. Pelo visto, o senhor desconhece o Gripen e a alta tecnologia embarcada que o caça têm.
O próprio editor do site, Luiz Padilha, lhe deu um TOME NOTE quando disse o seguinte: ”O F-16, um projeto da década de 70, até hoje recebe atualizações e é tido como um caça moderno, que faz frente a caças ditos de geração 4++ e 5ª geração.”
Os EUA agora estão buscando melhorar ainda mais as capacidades do F-16. Então, podemos dizer que os F-16 são obsoletos também? O Gripen NG bate de frente com caças F-15, F-16, F-35, Mirage, MiG, Su… em suma. Bate de frente com o que você quiser. A FAB fez uma excelente escolha!