Por: Roberto Godoy – O Estado de S.Paulo
Troca de guarda na Esquadrilha da Fumaça, o Esquadrão de Demonstração Aérea da aviação militar brasileira. Sai um bailarino, o elegante T-27 Tucano, e entra um guerreiro, o A-29 Super Tucano. A mudança vai ocorrer até o fim do ano. Estava prevista para 31 de agosto, a tempo de os primeiros aviões já pintados nas cores da bandeira nacional voarem sobre Brasília na manhã do dia 7 de setembro. Não deu tempo.
A nova data depende de ajuste de várias agendas, talvez mesmo a da presidente Dilma Rousseff, a quem as aeronaves seriam apresentadas na festa da Independência. Não há grandes gastos envolvidos na manobra. A Força Aérea tem mais de 90 unidades operacionais do Super Tucano. Vai liberar 12 delas para a Fumaça. O suporte técnico está sendo dado pela Embraer Defesa e Segurança, fabricante dos aviões.
O Esquadrão funciona em Pirassununga, interior paulista, na Academia da Força Aérea. O comandante, tenente-coronel Wagner de Almeida Esteves, lidera 13 pilotos especializados e um número bem maior dos chamados Anjos da Guarda, técnicos de manutenção das aeronaves.
O grupo comemorou 60 anos em maio. Durante esse período, esteve desativado de 1977 até 1982. Em média, faz cerca de cem apresentações por ano – desde 1952, foram 3.400 espetáculos, no Brasil e em outros 21 países. Os testes de avaliação do A-29 foram feitos na Base Aérea de Natal, no Rio Grande do Norte. Havia certa preocupação com a adequação do modelo, maior e mais pesado que o T-27, às necessidades acrobáticas. “Fomos surpreendidos com a compatibilidade. O Super Tucano realiza todas as manobras do ‘tucaninho'”, disse ao Estado um oficial aviador.
O problema a ser superado está na estrutura da asa, robustecida no A-29. No momento, em Natal, segue o desenvolvimento do mecanismo que produz a fumaça característica da equipe.
Diferenças. O ágil T-27 é um turboélice de treinamento, com eventual aplicação em missões de combate. O A-29 é destinado a ataque leve e, também, à instrução avançada. Há diferenças técnicas importantes. A motorização, por exemplo, emprega o conjunto propulsor de 750 shp no Tucano e outro com 1.600 shp no Super Tucano. A eletrônica de bordo também é mais avançada, equivalente à de caças pesados (veja as fichas).
O Tucano, da Embraer, foi incorporado à Fumaça em 1983. Antes dele, o time voou com o americano T-6, da Segunda Guerra Mundial. Logo depois recebeu o jato francês Fouga Magister, fraco e de pequena autonomia. Os lentos T-25, de formação primária dos alunos da AFA, serviu no esquadrão, até início dos anos 1980.
Servindo de referência comercial do fabricante, o T-27 Tucano é um sucesso comercial. Foi produzido sob licença na Grã-Bretanha. Equipou a Armée de L’Air, da França, a Royal Air Force, da Inglaterra, Argentina, Colômbia, Egito, Honduras, Irã, Iraque, Paraguai, Peru e Venezuela.
O ministro da Defesa, Celso Amorim, acredita que o mesmo procedimento promocional poderá beneficiar o A-29 Super Tucano. Para Amorim, esse efeito será ainda mais efetivo quando o Esquadrão fizer os deslocamentos com apoio do novo cargueiro militar da Embraer, o KC-390. O avião será recebido em 2016.
O Tucano que sai da Esquadrilha recebeu a primeira mulher a voar no time em 2010. A tenente Daniele Lins fez um voo de instrução acompanhada de um dos titulares do grupo. A Aeronáutica não tem um plano nessa área, mas acredita que as primeiras pilotos regulares cheguem ao EDA em quatro ou cinco anos.
FONTE: O Estado de São Paulo