Oficial-general destaca ainda determinação e vontade como valores que carrega desde Escola Preparatória de Cadetes do Ar
Eficiência. É essa a meta do novo Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo Luiz Rossato. Nascido em São Gabriel e criado em Santa Maria, o gaúcho de 63 anos revela um estilo tranquilo, mas decisivo ao falar de trabalho. Ao assumir a função máxima da sua carreira, o militar contou como, ao longo de 46 anos de serviço, enfrentou e superou desafios com a mesma determinação e humildade aprendida com a família.
Na entrevista, o oficial-general revela os dois valores que carrega consigo desde a Escola Preparatória de Cadetes do Ar: determinação e vontade.
Por que o senhor ingressou na Força Aérea?
Sou o único militar de uma família que trabalhava com arroz. Meu pai, meu padrinho e meu tio plantavam. Mas eu gostava de avião e de barco quando era pequeno. Eu cresci em Santa Maria e na época não tinha Base Aérea, mesmo assim, eu gostava de avião. Naquele tempo, quando eu era pequeno, havia uma revista em quadrinhos de faroeste com muita propaganda da Escola de Especialistas da Aeronáutica. E eu jogava futebol de botão com o irmão mais novo de um aluno da EPCAR [Escola Preparatória de Cadetes do Ar, localizada em Barbacena (MG)].
Tenho até hoje guardado um livreto de Barbacena. Era um caderninho bege, com um F-8 Gloster na capa. Como eu já estava no primeiro ano do segundo grau, disse: “Vou estudar isso aqui”. Estudei, estudei, estudei. Lembro que meu pai estava fazendo uma casa, a casa que ele mora hoje, e eu ficava embaixo de uma árvore, nos dias quentes de verão, estudando. Fui até Canoas de trem para fazer a prova.
Cheguei ao COMAR [Quinto Comando Aéreo Regional, em Canoas (RS)] e fiquei lá, admirado com tudo. Lembro que a prova era de múltipla escolha e eu não conhecia o estilo. Mas vi que não era difícil de fazer. O fiscal de prova falou assim: “Tu não vai fazer cálculo?” É que eu achei mais fácil a prova que tinha as respostas. O ensino na escola Manoel Ribas, pública, era muito bom. Recebi um telegrama depois. “Se apresente em Porto Alegre”. Passei de primeira e fui lá ver o que era.
A família do senhor apoiou?
Lembro que me apoiaram. Fiz os exames todos, e fui pra Barbacena. Eu era um dos mais velhos da minha turma, sempre fui. Havia colegas que entraram com 15 anos, mas eu já estava com 17. Eu tinha determinação e vontade, vontade de fazer as coisas. Casa com oito filhos é assim: às 8 horas era café da manhã, meio-dia era almoço e 19 horas o jantar. Ai de quem não estivesse presente. Isso é disciplina.
E agora, que o senhor se tornou Comandante da Aeronáutica, eles ficaram orgulhosos?
Sempre que eu dizia para o meu pai das promoções, ao longo da carreira, ele gostava, sentia orgulho. Mas recentemente eu disse pra ele: “Pai, vai coincidir de quando eu estiver completando o meu tempo, haverá mudança no Comando da Aeronáutica, e existe essa possibilidade de eu ir para lá”. Ele demonstrou satisfação, mas isso era só uma possibilidade. Então liguei para minha irmã que estava em Santa Maria, e contei. E a reação da Veranice: “Então você vai trabalhar mais”. Que incentivo!
E o senhor esperava chegar até o Comando da Aeronáutica?
Eu nunca esperei nada. Sempre tive um pensamento: trabalhe e faça seu serviço. O Tenente-Brigadeiro Saito sempre me disse muito: “Faça o seu serviço”. Sempre convivi muito com ele. Eu era major quando ele me disse isso: “Se for tenente, seja tenente; se for capitão, seja capitão; se for major, seja major”.
“Faça a sua parte, faça seu serviço”. Eu nunca fui em busca de ser comandante de esquadrão. Nunca fui atrás de ser piloto de caça. Fui indicado e não imaginava porque sempre tive um comportamento mais humilde. Quando na Academia me disseram: “Você vai fazer o voo dos 16 aviões” foi uma surpresa para mim. Eles escolheram os que voavam melhor e me colocaram para voar. Depois, fui indicado para a Aviação de Caça. Nunca me escalei para absolutamente nada. Nunca.
São 45 anos de carreira. Qual época foi mais marcante?
O Esquadrão Joker, em Natal, me marcou. Eu lembro que a gente voava muito. Éramos amigos mesmo. Isso era muito bacana. Foi entre 1988 e 1989, quando fui comandante. O meu segundo comando, no Esquadrão Centauro, em Santa Maria, entre 1995 e 1996, também foi muito importante. Era um grupo extremamente unido. Eu fazia a unidade se unir. A gente trabalhava como se fosse uma família.
O senhor também voou aeronaves de transporte e de patrulha. Como foi essa experiência?
Virei piloto de transporte quando fui instrutor da EAOAR [Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica] e lá voava a aeronave C-115 Búfalo. Já o P-95 Bandeirante Patrulha só voei porque eu estava no Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos, onde servi. E lá o efetivo voava em todos os modelos que faziam manutenção no Parque. Eu não sou piloto operacional de patrulha, mas voei no avião de patrulha. Já no caso do transporte, eu me tornei piloto operacional. Fiz inclusive missões de lançamento de paraquedistas.
Essa diversidade de experiências ajudou na carreira?
Há uma coisa interessante: nunca voei muito, mas tive sempre a oportunidade de estar em lugares em fases de formação, de desenvolvimento ou de criação. Quando eu estava em Natal, na época da formação como piloto de caça, o Esquadrão Seta, que depois foi desativado, estava em fase de criação. Já em Fortaleza, o Esquadrão Pacau estava praticamente sendo recriado, com conceitos novos.
Em seguida, em Santa Maria, o Esquadrão Centauro estava em fase de inauguração. Quando fui para o Paraguai, a Força Aérea Paraguaia estava criando o esquadrão de Xavante deles, tarefa realizada com o auxílio do Brigadeiro Saito. Depois, quando eu voltei para Natal, o Joker foi transformado em esquadrão de caça. Eu estava lá nesse evento de transformação. Na minha passagem pelo COMGAR [Comando-Geral de Operações Aéreas], o Tenente-Brigadeiro Burnier era muito criativo, inovador.
Foram cinco meses de inovações. Quando fui promovido a Brigadeiro, no COMGAP [Comando-Geral de Apoio], o Brigadeiro Saito também adotava uma postura diferente no comando. Então eu tive oportunidades de criar coisas novas, de fazer coisas novas. Até no Comando do COMGAR, em 2014, junto com o Major-Brigadeiro Egito, um grande planejador, fizemos a modificação do COMDABRA [Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro] e do CCOA [Centro Conjunto de Operações Aéreas]. Foi uma grande mudança estrutural.
Tudo que você quer inventar de novo, tem riscos. Tem que brigar por coisas novas. O que te empurra para frente é essa vontade de ver coisas novas.
O que esperar, agora, à frente do Comando da Aeronáutica?
A gente sempre pode achar que não tem o que melhorar, mas tem. Temos que melhorar a nossa gestão administrativa, a nossa estrutura organizacional. Sobre Bases Aéreas, não tenho dúvida de que a nossa estrutura caducou com os anos.Há setores ótimos. A parte operacional, por exemplo, está equiparada com o que há de melhor do mundo. Mas a nossa parte administrativa, a parte gerencial, não. Pode até ser uma crítica para mim mesmo.
E qual será a meta de Comando?
Eficiência. Melhorar a produtividade. Eu não critico os meios da Força Aérea. Eu não acho que nós estamos ruins. Tem E-99, H-36, AH-2, P-3, o P-95 está sendo modernizando… Precisamos melhorar nossa gerência, nossas Bases, nosso pessoal. E aqui eu tenho que falar para o Alto-Comando. Para mim, o Alto-Comando é um grupo unido, que pensa de forma homogênea, e que está com o pensamento alinhado com a Força. Eu gosto ainda de pesquisas e de ouvir especialistas. E o Brigadeiro Saito sempre me fala para ouvir. Eu disse para ele: “O senhor vai embora, mas vou continuar o consultando, viu?”. Aliás, consultar todo mundo. Isso sempre é bom.
Além da parte operacional, quais as metas do senhor para a gestão do controle do espaço aéreo?
O controle de tráfego aéreo no Brasil é considerado como um dos melhores controles do mundo. Nós estamos acompanhando a evolução da demanda e usamos alta tecnologia para atividades de comunicação e de vigilância.
Brigadeiro, falando em investimentos, como é que o senhor vê a evolução da indústria brasileira na área de defesa?
Um país que quer ser grande, se destacar em tecnologia, em equipamentos, tem que ter a sua própria capacidade tecnológica. Então a Força Aérea é pioneira nisso, desde a criação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o ITA. E continuamos estimulando muito a indústria nacional. O país que quer ser ouvido, que quer ter presença, tem que ter a sua indústria, tem que ter o domínio da tecnologia. Se não tiver tecnologia, não tem nada.
Qual a primeira mensagem que o senhor gostaria de dizer para os 77 mil militares e civis que integram a Força Aérea?
Confiança. E aceitar desafios. Vamos trabalhar, vamos aperfeiçoar.
FONTE: Portal Brasil
77 mil pessoa, um número exagerado com certeza. Gostaria de saber qual é o contingente de uma força aérea similar à nossa.