Um míssil soviético, o otimismo e o espírito patriótico contra um bombardeiro furtivo dos EUA, recheado de equipamento moderno, com o qual a OTAN estava “trazendo a democracia” para o povo da Iugoslávia. A Sputnik Sérvia conta a história de um “milagre” inesperado que ocorreu nos primeiros dias dos bombardeios da Sérvia.
O caça furtivo F-117, “falcão noturno”, orgulho da Força Aérea dos EUA e milagre tecnológico, abatido somente após três dias desde o início dos bombardeios da República Federal da Iugoslávia, em 27 de março de 1999, perto do povoado de Budanovci, no distrito de Srem, foi único avião furtivo perdido pela OTAN.
Na época, o coronel Zoltan Dani, das forças de defesa antiaérea da Iugoslávia, comandava a 3ª divisão da 250ª brigada de mísseis da defesa antiaérea. Os membros de sua equipe que conseguiram abater a aeronave americana, viraram heróis nacional da Sérvia.
Em entrevista à Sputnik Sérvia, o coronel aposentado contou em detalhes sobre a marcante experiência para sua equipe.
Ele explicou que armas usava seu destacamento na época dos bombardeios da Iugoslávia.
“Os sistemas de radar métricos detectam aviões furtivos com mais facilidade, portanto, pudemos detectá-lo a tempo e deixá-lo entrar na zona de alcance”, disse.
Segundo o coronel, quando o F-117 já estava à distância de 15 metros, ele deu a ordem de apertar o botão de lançamento de um míssil, recordou Zoltan.
Importa ressaltar que a aeronave dos EUA “ganhou” sua reputação em 1991, graças às missões de combate no Iraque durante a Guerra do Golfo. O avião se tornou um símbolo do poderio militar devido às tecnologias modernas que lhe permitiam permanecer furtivo para todos os sistemas de radar. Porém, os radares sérvios conseguiram detectá-lo.
De acordo com o entrevistado, seu destacamento usava um equipamento soviético, sistemas de mísseis Neva S-125M, que foram produzidos ainda nos anos 60 e que tinham sido entregues à Iugoslávia no início dos anos 80.
“É importante referir que o nosso destacamento, nossa equipe, conseguiu fazer com que este equipamento funcionasse bem e prepará-lo para um funcionamento eficaz em condições de combate, o que permitiu conseguir resultados incríveis – abater um F-117”, disse Dani.
Naquela madrugada os soldados ainda não sabiam que sorte eles tiveram. Segundo o coronel, depois de atingir o alvo, o mais importante para eles foi desligar o mais rápido possível todos os aparelhos para o adversário não os detectar.
“Pela manhã chegou um oficial do alto comando com uma ordem de transferência. Ele disse: ‘Primeiro, parabéns! Vocês ao menos, sabem, o que abateram?’ Eu disse: ‘Não faço ideia, um alvo. Ele caiu em algum lugar, todos o viram, menos nós. Então esse oficial disse: ‘Vocês abateram um F-117 furtivo!'”, recordou o ex-militar.
De acordo com Dani, tal êxito inspirou os sérvios, dando-lhes forças para resistirem à agressão. Na época, na mídia circulava uma foto dos moradores do povoado de Budanovci, dançando sobre as asas do avião abatido, e surgiu uma frase popular: “Desculpe, não sabíamos que era furtivo.”
Zoltan Dani afirmou que mesmo depois de 78 dias de bombardeios ninguém queria se render.
“Depois do 50º dia, a campanha midiática que eles [OTAN] lançaram contra a Iugoslávia entrou em declínio. Ficou claro que tudo era diferente daquilo que eles imaginaram e que não era possível terminar tudo tão rápido”, recordou.
O ex-coronel contou que de 27 de março a 1º de maio de 1999, as aeronaves da OTAN inspecionaram a área de Srem Ocidental onde fica o povoado Budanovci, porque não compreendiam o que poderia ter derrubado um avião desses. “Eles acreditavam que isso seria impossível”, disse.
Ao comando do F-117 derrubado estava o piloto norte-americano Dale Zelko, que sobreviveu. Passados 12 anos, o diretor Zeljko Mirkovic fez dois filmes sobre os destinos de Zoltan Dani e Dale Zelko: “O 21º segundo”, em 2009, e “Segundo Encontro”, em 2013. De acordo com Dani, ele concordou com o encontro graças a um livro sobre o perdão de um patriarca sérvio.
O ex-coronel disse que o seu antigo inimigo lhe contou sobre os preparos nos EUA para a missão na Iugoslávia.
“Seis meses antes dos bombardeios, eles foram reunidos na base no Novo México, onde, além de treinarem missões de combate, foram ‘tratados’ psicologicamente com ajuda de propaganda. Eles […] pensavam realmente que vieram para nos trazer a liberdade. Depois, quando veio para participar das filmagens, ele disse: ‘Parece que fomos enganados’.”
Hoje em dia, Zoltan Dani guarda em casa uma parte do avião abatido. E diz que não poderia vendê-la por nenhum dinheiro do mundo.
FONTE: Sputnik
“Sorte é quando competência e oportunidade se encontram”.