Por Bruna Castelo Branco & Leandro Santos
Em entrevista exclusiva a O Estado, novo diretor do CLA, coronel Olany, fala sobre o cronograma de atividades da base espacial, incluindo os testes com o VLS e a responsabilidade de dirigir o principal centro de lançamentos do hemisfério sul.
No dia 18 de dezembro do ano passado, o coronel Cláudio Olany assumiu a direção do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) em substituição ao coronel César Demétrio Santos. Durante os três anos da gestão anterior, Olany desempenhava a função de vice-diretor do CLA, já participando das atividades aeroespaciais desempenhadas pelo centro localizado no Maranhão.
Em entrevista exclusiva a O Estado, o novo comandante do centro falou sobre o cronograma de atividades que serão desenvolvidas pelo CLA este ano, entre elas o lançamento de foguetes de treinamento, sendo que o primeiro está previsto para abril. Para 2015 também estão previstos testes de integração do sistema do Veículo Lançador de Satélites (VLS) com a plataforma de lançamento conhecida como Torre Móvel de Integração (TMI), que foi totalmente reconstruída após o acidente ocorrido dia 22 de agosto de 2003, quando um incêndio destruiu a plataforma e matou 21 técnicos que lá estavam preparando os sistemas para o lançamento que aconteceria três dias depois.
Além disso, o CLA pretende ainda este ano melhorar a infraestrutura de apoio aos lançamentos e rastreios de foguetes, e também estreitar o relacionamento entre o centro e a comunidade de Alcântara por meio de diversas ações e projetos que estão previstos no calendário da instituição.
O Estado – Como o senhor encara esse novo desafio na sua carreira?
Coronel Olany – Assumir a direção do Centro de Lançamento de Alcântara é um enorme desafio em minha carreira. É com grande entusiasmo que assumo o cargo e com grande expectativa de levar adiante projetos que visem dotar o país da mais moderna infraestrutura para o lançamento e rastreio de engenhos aeroespaciais. Ao longo da minha trajetória na Força Aérea Brasileira, adquiri competências para hoje dirigir o principal centro de lançamento no hemisfério sul do planeta. Venho da área espacial, realizei cursos no Brasil e exterior voltados a sistemas embarcados de tempo-real voltados para aplicações espaciais. Sou graduado em Engenharia da Computação, mestre e doutorando em Engenharia da Computação e Eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Contudo, sei que será necessário o apoio de toda a equipe civil e militar que trabalham no centro para que possamos cumprir a missão do CLA.
O Estado – Quais as principais metas que o senhor pretende alcançar à frente do CLA?
Coronel Olany – Além da melhoria contínua de toda infraestrutura de apoio aos lançamentos e rastreios, a exemplo dos sistemas novos implantados nos Centros de Controle e Controle Avançado, Central de Segurança de Voo e de Superfície, nas estações de Meteorologia, Telemedidas e Radares de rastreio, na Torre Móvel de Integração do VLS e no lançador de porte médio, durante minha gestão serão concluídas obras da área operacional, como o prédio de depósito de propulsores, o prédio de Controle e Preparação e a Rede Preventiva contra Incêndio, ambos situados no Setor de Preparação e Lançamento (SPL), essenciais para realização de operações de lançamentos de grande porte como a do VLS. Também devemos concluir o posto médico e a escola de ensino fundamental Caminho das Estrelas, que deve ter a capacidade triplicada para atender 300 estudantes, dependentes de civis e militares do CLA, além de alunos do município de Alcântara. Pretendemos aperfeiçoar o relacionamento com as instituições de ensino superior e centros de pesquisa do Maranhão, para melhorar os indicadores de gestão e aprimorar nossos recursos humanos, assim como propiciar formação complementar no Centro para a mão de obra local e contribuir para o fortalecimento de atividades de pesquisa por meio de convênios com órgãos de fomento do Maranhão.
O Estado – Em relação às atividades desenvolvidas pelo CLA ano passado, qual o balanço que o senhor faz dessas operações? Elas tiveram um saldo positivo ou negativo?
Coronel Olany – Ano passado o CLA sediou o lançamento do primeiro foguete nacional com um estágio movido a propulsão líquida, durante a Operação Raposa, resultado do apoio contínuo da Agência Espacial Brasileira (AEB) e de anos de pesquisas realizadas no Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), instituição dedicada à pesquisa e desenvolvimento na área espacial e ligada ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), pertencente ao Comando da Aeronáutica. Nesse sentido, contribuímos para que o Brasil ingressasse no seleto grupo de países que dominam, com tecnologia própria, a operação de veículos espaciais movidos a combustível líquido, que possibilita uma maior precisão de inserção em órbita dos mais variados engenhos aeroespaciais. Diante disso, só posso fazer um balanço positivo do CLA em relação aos resultados de nossas atividades operacionais ocorridas em 2014. Além do lançamento exitoso de vários foguetes de treinamento.
O Estado – Em 2014,o CLA realizou diversos lançamentos de foguetes de treinamento,que serviram principalmente para fazer experimentos e capacitar as equipes do centro. Hoje,o senhor acredita que as equipes do CLA estão aptas a conduzir lançamentos de grande porte,uma vez que o centro é uma das partes mais importantes do Programa Espacial Brasileiro?
Coronel Olany – O CLA e toda sua equipe estão preparados para realizar lançamentos de grande porte dentro do conjunto de atividades previstas no Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE). Entretanto, é preciso esclarecer que uma campanha de lançamento envolve um trabalho conjunto com equipes do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), de outras agências espaciais e também do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), entre outras. Com todos os lançamentos que temos realizado e participado no Brasil e no exterior nos últimos anos, fico tranquilo em afirmar que o CLA está altamente capacitado para atividades de lançamento e rastreio de engenhos aeroespaciais.
O Estado – Para este ano,quantos lançamentos de foguetes estão previstos? Quando deve ocorrer a primeira a atividade?
Coronel Olany – Temos a expectativa este ano de 2015 de continuarmos com lançamentos de foguetes de treinamento, que são extremamente importantes para que possamos manter a operacionalidade das equipes e testarmos todos os sistemas associados às atividades de lançamentos e rastreios. O primeiro lançamento deve ocorrer no mês de abril, com um Foguete de Treinamento Intermediário (FTI). Também será realizado o lançamento e o rastreio de um foguete VS-30/ORION, equipado com uma carga útil tecnológica, com experimentos científicos e tecnológicos embarcados para testes em ambiente de microgravidade, selecionados pela Agência Espacial Brasileira (AEB).
O Estado – Como está o cronograma de testes com o Veículo Lançador de Satélites (VLS)? A previsão de que será lançado este ano se confirmará?
Coronel Olany – O VLS encontra-se atualmente em fase de recebimento do sistema de redes elétricas desenvolvido pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) em conjunto com a indústria nacional. A previsão é de que este ano possamos realizar testes de integração do sistema acoplado ao veículo e à nova plataforma de lançamento do VLS construída no CLA, a Torre Móvel de Integração (TMI). Por questões de segurança, somente após testes bem-sucedidos com as redes elétricas e o recebimento definitivo dos novos sistemas é que poderemos partir para o lançamento do veículo. Essas atividades dependem de um repasse continuado de recursos para que seja possível cumprir o cronograma previsto.
O Estado – Quais outras atividades o CLA pretende desenvolver ao longo de 2015?
Coronel Olany – Pretendemos intensificar ainda mais o relacionamento com a sociedade maranhense. Estamos trabalhando com o Comando da Aeronáutica para elevação de categoria da nossa banda de música, para aumentarmos a quantidade de instrumentistas e realizarmos apresentações abertas ao público, a exemplo dos concertos didáticos e sinfônicos realizados nos últimos três anos. Em outubro realizaremos uma segunda edição da Corrida da Asa, ampliando o número de participantes de 300 para 500 atletas. Em conjunto com a Agência Espacial Brasileira (AEB), pretendemos trazer mais uma edição da Escola do Espaço para o CLA, visando capacitar com atividades didáticas e, com aplicação na temática espacial, os professores das redes públicas de ensino municipais de Alcântara e São Luís, e a estadual do Maranhão.
O Estado – Haverá mais interação com a comunidade de Alcântara?
Coronel Olany – Ao longo do ano, devemos realizar ainda ações cívico-sociais, levando dentistas, enfermeiros, farmacêuticos e médicos do CLA para comunidades carentes de Alcântara. Permanecem as atividades do Projeto Soldado Cidadão, responsável ano a ano por qualificar nossos soldados oriundos de São Luís e de Alcântara com os mais diversos conhecimentos, para que possam estar mais preparados para enfrentar o concorrido mercado de trabalho ao término do tempo de serviço militar. Em paralelo, desde o ano passado, passamos a realizar a seleção e treinamento de oficiais e sargentos no CLA, que são incorporados por meio de processos seletivos realizados em Alcântara e São Luís. Em 2015, deverão surgir outras oportunidades para o ingresso nas fileiras militares da Força Aérea Brasileira, para prestação de serviço militar temporário no CLA, como oficiais ou graduados.
O Estado – Com relação às missões de misericórdia realizadas pelo CLA com a comunidade em Alcântara,quantas atividades dessa natureza foram realizadas ano passado? Qual o balanço que o senhor faz destas ações?
Coronel Olany – Em 2014 foram realizadas 21 evacuações aeromédicas de Alcântara para São Luís com o transporte de feridos, enfermos e gestantes com complicações, tanto de servidores civis e militares do CLA e seus dependentes quanto da população local. Acredito que tais ações são uma demonstração do papel das Forças Armadas de estar continuamente junto às comunidades prestando serviços de relevância. Por todo o país, em especial na Região Amazônica, é visível a presença da Força Aérea Brasileira na vida dos brasileiros. Em Alcântara, não poderia ser diferente e o CLA atua para minimizar o sofrimento e possibilitar a sobrevivência de pessoas em situações de emergência que necessitam das evacuações aeromédicas, popularmente conhecidas como missões de misericórdia.
O Estado – Como está hoje a relação entre o CLA e a Alcantara Cyclone Space?
Coronel Olany – Possuímos um relacionamento institucional com a ACS, a empresa binacional que está construindo um sítio de lançamentos para o foguete ucraniano Cyclone-4 e poder comercializar o lançamento de satélites. Atualmente uma comissão constituída por representantes do Ministério da Defesa, da Ciência, Tecnologia e Inovação e das Relações Exteriores realiza análises em relação ao futuro da Alcantara Cyclone Space do projeto Cyclone-4.
FONTE: O ESTADO DO MARANHÃO
Bom dia Srs. leitores;
Todos dizem(técnicos e militares), ser o CLA uns dos melhores posicionados
no planeta.Chegando mais rápido “AO Objetivo”, levando mais carga.
Mais rápido; e mais carga é dissuasório!
O CLA principal centro de lançamentos do hemisfério Sul ???? Piada né !??? E o centro de lançamentos francês na Guiana é o que ??? Ou será que na geografia deste repórter a Guiana fica no hemisfério Norte ????
E o pior é que fica.
Qualquer coisa acima da linha do equador está no hemisfério norte 🙂
Daniel, você está certo. É hemisfério norte mesmo.
Que entrevista curiosaa não me lembro de outra ocasião onde um jornal como o Estado de SP entrevistar um Coronel comandante de unidade de qualquer das forças sobre sua assunção em comando numa unidade tão distante das terras paulistas.
No mínimo estranho, muito estranho…
começamos nossa aventura espacial praticamente junto da China e Índia daqui a pouco eles conseguem enviar uma missão tripulada a marte e nós aqui não conseguimos lançar nosso VLS contentamos só de lançar Buscapé.
E isso me deixa EXTREMAMENTE IRRITADO.E pelas palavras do comandante neste ano teremos SÓ foguetinho .Meu DEUS quanto DESCASO , quanta INCOMPETÊNCIA .