Por major Sylvia Martins
Porto Príncipe (Haiti), 01/09/2017 – A cerimônia na noite desta quinta-feira (31), na Base General Bacellar, em Porto Príncipe, marcou a despedida do Contingente Brasileiro (CONTBRAS) da Missão de Paz para Estabilização do Haiti (MINUSTAH). A partir de agora, as operações das tropas estão encerradas e a etapa final de desmobilização será concluída em 15 de outubro, que compreende as medidas de repatriação de pessoal e material.
Pela segunda vez no Haiti, o ministro Jungmann, ressaltou que o componente militar deixa o país caribenho, mas não o Brasil, que continuará suas relações em outras áreas, como saúde e assistência humanitária. “Somos muito agradecidos ao povo do Haiti, com o qual nós ganhamos laços de amizade que serão absolutamente permanentes. Tenho certeza que tenderão a ser ampliados, para o benefício de nossos dois países”, afirmou.
Antes da solenidade, o ministro da Defesa, Raul Jungmann foi recebido pelo primeiro-ministro do Haiti, Jack Guy Lafontant, na sede do governo haitiano. Sobre o encerramento da MINUSTAH, o representante do governo haitiano afirmou ter de enfrentar com os próprios meios os desafios do país, mas conta com o apoio de países amigos como o Brasil. “Isso nos permitiu ter uma estabilidade política no Haiti e esperamos mantê-la”, disse.
Cerimônia de encerramento
Na chegada à base brasileira, na área do Batalhão Brasileiro de Força de Paz (BRABAT), o ministro Raul Jungmann recebeu as honras militares e foi acompanhado pelo Force Commander da MINUSTAH, general Ajax Porto Pinheiro, que mostrou ao ministro o monumento construído em homenagem aos militares mortos na ocasião do Terremoto de 2010.
Antes do evento de encerramento, o ministro Jungmann esteve ainda, em reunião fechada, com a representante especial do secretário geral da ONU, chefe da MINUSTAH, Sandra Honoré.
A solenidade de despedida teve início com a formatura do 26º Contingente Brasileiro, o último a atuar na MINUSTAH, cantando a canção do Expedicionário. Logo em seguida, após a apresentação da tropa pelo comandante do BRABAT, coronel Alexandre Catanhede, à chefe da missão, Sandra Honoré, o contingente cantou os hinos do Haiti, do Brasil e da ONU.
Em seu discurso o Force Commander, general Ajax, lembrou que a missão no Haiti é a maior mobilização de tropas brasileiras no exterior, numa missão real, desde da guerra da Tríplice Aliança. Ainda mencionou a perda de 25 militares durante os 13 anos de atuação e os momentos marcantes que envolveram os contingentes anteriores, como os enfrentamentos violentos do início, o terremoto, o furacão Mathew e as eleições. “O trabalho feito por aquelas tropas permitiu que nós estivéssemos chegando ao final da missão com o dever cumprido”. Nunca se esqueçam, vocês já estão partindo, mantenham o seu coração de soldado e a alma de peacekeeper (mantenedores da Paz)”, finalizou o general.
O ministro da Defesa, Raul Jungmann falou da capacidade do Brasil de ser provedor de paz e suas demais atuações. “Esta missão, em que pese ser uma missão com mandato de estabilidade e de resgatar a segurança no Haiti, mas ela tem outras dimensões. Dimensão do apoio a infraestrutura, o trabalho que foi feito, extraordinário, pela companhia de engenharia; o trabalho que foi feito com o maior programa de cooperação na área de saúde, igualmente na área agrícola, da assistência social e da capacitação profissional”, destacou.
Jungmann, durante sua mensagem, pediu um minuto de silêncio a todos em homenagem aos peacekeepers brasileiros falecidos na missão, ao todo 25, incluindo dois oficiais generais.
“Nós nos comprometemos nos últimos 13 anos no empreendimento conjunto com as autoridades haitianas para construir uma base sólida, para uma estabilidade duradoura de um futuro melhor para o país.” Estas foram as palavras da representante da ONU e chefe da MINUSTAH, Sandra Onoré. Ela afirmou ainda que o grau de segurança e estabilidade que o povo haitiano aproveita hoje é em parte devido ao trabalho da MINUSTAH.
“26º contingente brasileiro, unidos pela paz, bon bagay, missão cumprida”, assim se despediu Sandra Honoré, da última tropa brasileira no Haiti. Bon bagay é a expressão em creole, língua do Haiti, que significa boa gente, usada comumente em referência aos brasileiros.
A representante da ONU ressaltou que a contribuição do contingente brasileiro reafirmou o espírito humanitário das operações de manutenção da Paz e é uma fonte de orgulho para as Nações Unidas.
O País foi o maior contribuidor de tropas na MINUSTAH, mas para Sandra Onoré fez muito mais. “O Brasil forneceu apoio crítico para garantir a efetiva tomada de decisões sobre a implementação do mandato da MINUSTAH e sobre o ambiente operacional da missão”, completou a representante da ONU.
Ainda compareceram à cerimônia de encerramento das operações do contingente os comandantes da Marinha, Leal Ferreira; da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato; do Comando Militar do Sudeste, general Campos (representando o comandante do Exército); do chefe de Operações Conjuntas do Ministério da Defesa,general César Augusto Nardi; os embaixadores, do Ministério das Relações Exteriores, Nelson Tabajara, Maria Luzia Escorel e Fernando Simas; do presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Fernando Collor e a presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, deputada Bruna Furlan, além de outras autoridades.
Mais de 37 mil militares brasileiros em 13 anos de MINUSTAH
A MINUSTAH contou com a participação do Brasil desde 2004, sempre com o maior contingente de tropa, além da honra e responsabilidade de manter um oficial general como Force Commander do componente militar.
Mais de 37 mil militares brasileiros estiveram na Operação de Paz no Haiti nesses 13 anos. Eles cumpriram os objetivos destinados ao componente militar: contribuir para a manutenção do ambiente seguro e estável no Haiti; cooperar com as atividades de assistência humanitária e de fortalecimento de instituições nacionais; e realizar operações militares de manutenção da paz na sua área de responsabilidade.
Os maiores desafios enfrentados pela tropa brasileira foram a pacificação de Cité Soleil, no início da missão, além da atuação nos episódios do terremoto em 2010 e do Furacão Mathew, em 2016.
O 26º Contingente, que a partir de hoje (01) encerra suas operações, é constituído pelo Batalhão de Infantaria de Força de Paz (BRABAT), que tem 181 militares da Marinha do Brasil, 639 do Exército Brasileiro, 30 da Força Aérea Brasileira e uma Companhia de Engenharia de Força de Paz (Braengcoy), composta por 120 do Exército.
O Ministério da Defesa, por meio do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA) e sua Subchefia de Operações de Paz, trabalha na coordenação dos acertos finais da desmobilização. Até 15 de setembro, quando 90% do efetivo deverá ter deixado o país caribenho.
Para o chefe de Operações Conjuntas do Ministério da Defesa, general César Augusto Nardi de Souza, esses 13 anos foram importantes para a pacificação do Haiti. “Nossa participação foi fundamental, junto com outras nações, para o estabelecimento de uma situação estável e segura no Haiti, sem a qual O desenvolvimento econômico e social não aconteceriam. Além disso, para as Forças Armadas foi uma grande experiência na parte operacional, logística e a projeção do País no conceito entre as demais nações com o profissionalismo das tropas brasileiras”, comentou o general.
Sobre a próxima missão de Paz na qual as Forças Armadas Brasileiras poderão ser empregadas, segundo o ministro da Defesa, já foi citada a República Centro Africana, porém depende de decisão do presidente da República e do Congresso Nacional.
FONTE: MD
FOTOS: Tereza Sobreira