A Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB) abriu o ano de 2022 dando continuidade ao incessante trabalho de busca por alternativas para que o ecossistema espacial brasileiro não perca competências essenciais para o futuro do Programa Espacial Brasileiro (PEB), em decorrência da falta de novos projetos nos últimos 8 anos. Somente no início de janeiro, o presidente da entidade, Julio Shidara, já participou de duas reuniões em Brasília, uma no dia 10 e outra no dia 13.
No primeiro encontro em Brasília, o presidente da AIAB, Julio Shidara, foi recebido pelo General de Exército Augusto Heleno Ribeiro Pereira, Ministro Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR). Na pauta estava o atual panorama do segmento.
Shidara destacou, durante a reunião, que o último projeto de porte do PEB – Programa Espacial Brasileiro que contou com participação extensiva da indústria nacional foi a PMM – Plataforma Multi-Missão, que equipa o satélite Amazônia 1, lançado em fevereiro de 2021, da Índia, mas que o envolvimento da indústria nesse projeto terminou há quase oito anos, sem novos projetos desde então. “Trata-se de lacuna sem precedentes na história recente do PEB”, afirmou Shidara. “Sem novos projetos de satélites no curtíssimo prazo, o Brasil perderá competências tecnológicas essenciais para futuros projetos do PEB”.
O presidente da AIAB reforçou ainda ser fundamental o Brasil retomar o caminho de busca pela autonomia tecnológica, sem a qual, futuros projetos de lançadores do PEB ficarão seriamente comprometidos. “Infelizmente, o Brasil não alcançará autonomia como resultado de sua participação no projeto VLM – Veículo Lançador de Microssatélites, em função da divisão de trabalhos e de responsabilidades acordada entre o Brasil e a Alemanha”, declarou. O projeto defendido pela AIAB é o VLN – Veículo Lançador de Nanossatélites, que será desenvolvido de maneira incremental, com base no consolidado veículo suborbital brasileiro VSB-30, com demonstração prática de viabilidade por meio de colocação em órbita baixa de uma carga simbólica em um prazo de 18 meses, e a conclusão do projeto em três anos.
No dia 13 de janeiro, o presidente da AIAB, foi recebido por uma comitiva do Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER), também em Brasília.
Participaram do encontro o Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, Chefe do EMAER; o Major-Brigadeiro do Ar Ricardo Augusto Fonseca Neubert, Vice-Chefe do EMAER; os Coronéis Aviadores Éric Cézzane Cólen Guedes e Marcus Antônio Carvalho de Lima, ambos da 3ª Subchefia (3SC), e o Coronel Aviador Cláudio da Costa Silva, da 7a Subchefia (7SC).
Dentre os assuntos abordados estiveram as ações em curso no EMAER para revisão de requisitos do satélite Carponis do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), com o intuito de viabilizar o seu fornecimento pela indústria brasileira; as perspectivas de parceria internacional na área de satélites, com efetiva participação da indústria nacional; a realização de uma conferência envolvendo representantes de instituições que integram o Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (SINDAE), na busca de máxima sinergia de ações de instituições que fazem parte da “Tríplice Hélice”, e as ações da AIAB para possibilitar a alocação de recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para iniciar, ainda em 2022, os projetos do Carponis e do Veículo Lançador de Nanossatélites (VLN). “Na conjuntura atual, consideramos que os projetos do Carponis e do VLN são essenciais para o futuro do Programa Espacial Brasileiro (PEB). Serão apresentados pela indústria na próxima reunião do Comitê Gestor do Fundo Setorial Espacial, prevista para fevereiro”, declarou Shidara.
Aqui é uma dificuldade danada para se desenvolver um projeto, em tudo se pensa em uma forma de se dar bem com dinheiro público. Acredito q a melhor maneira de desenvolver tecnologias próprias é através de parcerias com universidades do país e a indústria nacional.
Faltou aclarar que uma de suas principais associadas foi a principal indústria que apoiou e se beneficiou do programa VLM até o momento, inclusive recebendo por meio de contrato firmado no fim de 2016, mais de R$ 60 Milhões (hoje equivalente a mais de R$ 100 Milhões)*. No contrato, estavam previstos a entrega de 8 motores S50, sendo 6 deles em 26 meses partindo de Dez/2016, quantos foram entregues? Também é importante salientar que tal recurso era também para o projeto detalhado dos motores do VLM (S-50), porém o projeto do S50 pelo que se sabe publicamente, foi executado majoritariamente pelo pessoal do IAE.
Em 2014 a mesma empresa recebeu outros quase R$ 20 Milhões para P&D a fundo perdido para o mesmo projeto.
Outro ponto importante foi a transferência do VSB30 a essa mesma empresa, veículo que estava em plena venda pelo IAE ao DLR. Porque o principal cliente do VSB30 preferiu trocar por uma empresa Canadense? Será possível que mesmo recebendo o projeto 100% pronto, não conseguem fabricar mais barato que uma empresa Canadense?
E se não conseguem vender nem mesmo um VSB30 que já tinha mercado e clientes, como podem fazer algo ser competitivo sendo bem mais complexo? Ou a real intenção é eternamente depender de compras governamentais com preços 10x mais altos que o mercado internacional?
Além desses pontos, é fundamental salientar que um projeto de VLN baseando-se na arquitetura do VSB30 é uma proposta feita pela empresa ACRUX Aerospace a mais de 10 anos, com 2 publicações formais sobre o assunto, acessíveis pelo site da empresa e de congressos (https://www.acruxtech.com.br/news-and-papers)
Se o interesse da AIAB é pelas indústrias aeroespaciais brasileiras, como vem tentando transparecer, que tal começar com transparência e diálogo?
Mais uma prova de que o neoliberalismo não funciona,e que o estado tem que está presente em certas áreas