Raimundo Palmeira de Souza, 65, estava doente havia três semanas. Febre, dores no corpo, falta de apetite e fadiga. Enfrentou sozinho o Rio Negro por quase quarenta minutos em uma “rabeta”, pequena canoa com motor, até chegar a Moura (400 km de Manaus), distrito de Barcelos, no Estado do Amazonas. Foi o primeiro atendimento do Hospital de Campanha (HCAMP) da Força Aérea Brasileira na localidade.
Montado em uma balsa da Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (COMARA), o HCAMP da Força Aérea chegou a Moura no início da manhã desta quinta-feira (03/05) e já iniciou o atendimento da população, recebendo casos de emergência. Segundo o Aspirante Médico Rolfer Seabra de Barros, médico intensivista, um exame clínico e físico constatou infecção urinária.
O paciente saiu do hospital com os medicamentos para o tratamento, sem febre, sem queixa de dor e com um sorriso de alívio no rosto. “Tô bem melhor agora, graças a Deus”, resumiu. Na falta de médico, Raimundo recorreu à automedicação, ao conselho de amigos, à única enfermeira que socorre toda a localidade onde vivem cerca de mil pessoas. Também recebeu uma orientação: beber mais água, hábito saudável que não o agrada.
A história de Raimundo é comum na Amazônia, onde as distâncias são maiores por causa do regime e da força dos rios. Uma descida pelo Rio Negro, rumo à Manaus, duraria quase dez horas. Uma subida para a cidade mais próxima, Barcelos, levaria quase 12 horas. No período de seca, quando o rio baixa, fica tudo mais complicado, segundo a professora Verinha da Costa Gomes, 53, a segunda paciente do dia.
“Estou com uma dor aqui [mostrando a posição na barriga], já fui ao médico em Manaus, mas não descobriram o que é”, conta. A paciente fará exames para verificar um possível problema na vesícula. Desta vez, a professora não precisou viajar. Foi medicada e estará com os alunos da Escola Santa Rita no dia seguinte, bem cedo.
Grávida de oito meses, Jéssica Dutra da Costa, 23, chegou ao Hospital de Campanha com dores, pensando que estava em trabalho de parto. Passou por exames e, na verdade, descobriu que estava com uma infecção urinária. “Não encontramos indícios de que o parto era iminente”, explica a Capitão Médica Ladjane Dantas Bandeira, ginecologista e obstetra. Ali mesmo, foi a primeira paciente a utilizar o ultrassom portátil que o HCAMP leva a bordo e viu, pela primeira vez, os contornos do rosto da filha. “Yagara”, responde ao ser perguntada sobre o nome da menina, a sexta gravidez da jovem.
Medicada, com os remédios para o tratamento, Jéssica terá de esperar pelo menos mais duas semanas até o parto. O aparelho de ultrassom mais próximo de Moura, além daquele que o HCAMP transporta, está em Manaus, distante doze horas rio abaixo.
O primeiro dia de atendimentos agendados acontece nesta sexta-feira, 4 de maio. Mais de 150 pessoas já registraram o nome para consulta após contato com a enfermeira que trabalha no único posto de saúde do distrito. Mas outros pacientes deverão aparecer, segundo os moradores. A notícia da chegada do HCAMP corre de boca em boca, pelas canoas que cortam o Rio Negro e, agora, a partir das primeiras histórias contadas pelos primeiros pacientes atendidos. Seis gestantes já agendaram consulta. A clínica mais procurada até agora é a de ginecologia – um resultado de exame preventivo de câncer não sai, na região, antes de quatro meses. No HCAMP que agora funciona em balsa, no meio da Amazônia, as pacientes o terão no mesmo dia.
Fonte: Agência Força Aérea