Seria frustrante assistir a militares da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica preocupados em conhecer procedimentos
Por Adalberto Casaes
No cotidiano brasileiro, especialmente nos dias e nas semanas precedentes, ganharam destaque nas mídias diversas, e a atenção da maioria dos cidadãos, não só os barbarismos e a violência perpetrados em penitenciárias, mas também a vergonhosa falta de comportamento adequado de razoável parcela de brasileiros. Estes, restou claro, assumem comportamento incompatível com valores éticos e morais que possam ser considerados minimamente aceitáveis.
O cenário, verdadeiramente caótico diante da ausência de representantes legais incumbidos de manter a ordem, remete à decantada falta de segurança que aflige a todos nós, passando ao largo da fraqueza, em geral, do culto a valores fundamentais, que, lamentavelmente, decorre da forma como têm sido educadas gerações de brasileiros. O problema parece se agravar nos penúltimos tempos.
O apelo ao recurso do emprego de autoridades de outra natureza para remediar a questão, recorrendo à presença das Forças Armadas, pode ser solução emergencial, amparada em preceitos constitucionais, mas envolve inapelável distorção de finalidades, características e atributos.
Metáfora que, talvez, possa ser esclarecedora, corresponde ao axioma que defesa “olha pra fora”, enquanto a segurança “olha pra dentro”.
Em outras palavras, o que uma nação madura deve esperar de suas Forças Armadas é que elas se preparem e estejam prontas para a defesa; assim bem entendidas, a preservação da soberania nacional, a integridade territorial e a proteção do país contra quaisquer ameaças externas.
Já a segurança, atribuição da autoridade policial, há que preservar a lei e a ordem dentro do país.
Evidente que as destinações de segurança e defesa são, rigorosamente, distintas. Aliás, ainda bem, porque seria frustrante, em exemplo simples, assistir a militares da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica preocupados em conhecer procedimentos de abordagem policial.
Muito distante, e ao contrário, eles são profissionais que devem ser treinados para a guerra, visando à manutenção da paz.
As autoridades policiais, desenvolvendo atividade não menos nobre ou menos importante, devem ter meios e preparos adequado para cumprirem suas missões específicas exercendo e controlando a ordem. Em outras palavras, preservando a segurança.
Certamente, o dia em que pudermos, todos, estar preocupados com a defesa, será possível acreditar que nossa segurança vai bem, obrigado!
Adalberto Casaes é contra-almirante da reserva
FONTE: O Globo
Fred, esse é um risco inerente a qualquer país. Eu penso que para que se melhore a segurança interna é preciso exercer defesa e controle efetivos das fronteiras secas, espaço aéreo e mar territorial e ZEE pelas FFAA e polícia federal e estaduais bem articuladas para garantia da lei e da ordem. É tão simples, não sei porque complicam…
Realmente, entretanto a de se convir que nossas FFAA, exceto uma ou outra ação, se comporta e se preocupa mais com aspectos de segurança do que defesa. Aliás, nunca se preocuparam efetivamente com questões dá macro defesa e sim para questões pontuais, além de interesses corporativos, como a questão das aposentadorias e pensões (neste último mais como privilégio do que direito legítimo).
Hoje, boa parte dos soldados do tráfico são oriundos e/ou abastecidos por ex-militares (praças), especialmente porque a grande maioria destes estão situados nos grandes centros urbanos, longe das regiões de fronteira, aonde se espera que os profissionais da Defesa estejam. Mais uma vez a comunidade pessoal é maior do que os interesses nacionais.
Pertinente e lúcido o comentário do Sr. Adalberto Casaes, nunca é demais lembrar esta distinção entre defesa e segurança…Caso contrário, o Brasil se encaminha para ser um grande México, cujas forças armadas estão muito mais voltadas (e equipadas e treinadas) para segurança interna, do que para defesa externa.
Embora entre os dois haja um terceiro elemento igualmente importante, tanto para defesa como para segurança, que é o setor de inteligência e contra espionagem, área em que o Brasil precisa de muito desenvolvimento e que ainda é, proporcionalmente, muito mais fraca que os setores de segurança e defesa, sendo essencial para ambos, até para determinar o que é da alçada das forças armadas e o que é das forças policiais. Por que muitas vezes as coisas se misturam…
Por exemplo: Elementos plantados em cargos chaves do serviço público nacional, a serviço de interesses externos privados e/ou estatais, podem ser simultaneamente uma ameaça a segurança e a defesa nacionais, detonando o país a partir de dentro…