Em um dia histórico para a Marinha do Brasil, o lançamento ao mar do submarino convencional Riachuelo (S 40), também marca o primeiro passo do Brasil em direção ao seleto grupo de países que detêm a tecnologia de fabricação e operação de submarinos de propulsão nuclear.
Por Guilherme Wiltgen
A Marinha do Brasil comemora no dia 13 de Dezembro o Dia do Marinheiro, mas nesse ano, as comemorações tiveram lugar no dia 14, com o lançamento ao mar do Submarino Riachuelo (S 40). Ele é o primeiro de uma série de quatro submarinos convencionais e um de propulsão nuclear, baseados no modelo Scorpène, em parceria com a gigante francesa Naval Group. Os cinco submarinos estão sendo construídos dentro do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB).
Realizada no moderno Complexo Naval de Itaguaí, estiveram presentes o Presidente da República, Sr. Michel Temer, e a Primeira Dama, Sra. Marcela Temer, madrinha do submarino. As comitivas foram transportadas pelo helicóptero Presidencial VH-36 Caracal, do Grupo de Transporte Especial (GTE), da Força Aérea Brasileira, e por um UH-15 Super Cougar, do 2º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (HU-2), da Marinha do Brasil.
O Presidente e a Primeira Dama foram recebidos pelo Comandante da Marinha e sua esposa, a Sra. Christiani Prisco Leal Ferreira, por funcionários da Itaguaí Construções Navais (ICN) e por militares da primeira tripulação.
Também participaram da cerimônia o Presidente Eleito, Sr. Jair Messias Bolsonaro, diversas autoridades civis e militares, além de convidados e da imprensa nacional e estrangeira.
A cerimônia é um importante marco do Programa de Desenvolvimento de Submarinos e fecha com chave de ouro a gestão do atual Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que no próximo dia 09 de janeiro passa a “Cana do Leme” para o Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Junior, atual Chefe do Estado-Maior da Armada, que também esteve presente.
O diretor presidente da Itaguaí Construções Navais, Sr. André Portalis, destacou a parceria com a França em seu discurso na abertura da cerimônia, lembrando aos presentes que a tecnologia francesa de construção de submarinos foi assimilada no complexo industrial.
Batismo do Riachuelo (S 40)
Seguindo as tradições navais, todo navio tem uma madrinha para batizá-lo e a Sra. Marcela Temer teve a honra de ser escolhida para realizar o batismo do submarino, que inaugura uma nova fase de renovação dos meios da Marinha para a proteção da Amazônia Azul.
Conduzida pelo AE Leal Ferreira, a Madrinha foi recepcionada pelo Capitão de Corveta Edson do Vale Freitas, primeiro Comandante do Riachuelo, antes de ocupar o seu lugar no dispositivo. Ele também responde como Chefe do Grupo de Recebimento do Submarino (GRS) “Riachuelo”, que tem como missão executar as tarefas referentes ao recebimento do submarino, a fim de incorporá-lo à Marinha do Brasil. O GRS está subordinado à Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha (DGDNTM).
“Que Deus Abençoe este submarino e todos os marinheiros que aqui navegarem”. Após estas palavras de boa sorte, a Sra. Marcela Temer estourou a garrafa de champagne. O Submarino Riachuelo estava oficialmente batizado.
Com o submarino posicionado no shiplift, foi acionado remotamente pelo presidente Michel Temer, pelo Presidente eleito, Jair Bolsonaro e pelos Almirantes de Esquadra Leal Ferreira e Bento, respectivamente Comandante da Marinha e Diretor Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, iniciando assim o processo de descida, que levou aproximadamente 30 minutos para que o novo submarino estivesse na água.
“O batismo e lançamento ao mar inaugura uma nova fase de preparação do Riachuelo. Ao longo dos próximos meses serão feitos testes de funcionamento de seus equipamentos, antecedendo a incorporação à Esquadra. Em breve, o submarino será um instrumento de coação em consonância com os preceitos da estratégia de defesa do país”, destacou o AE Leal Ferreira em suas palavras.
“Hoje é dia a ser celebrado, sem ufanismo, mas com muito otimismo e muito orgulho”, afirmou o General Joaquim Silva e Luna, Ministro da Defesa, acrescentando que o programa necessita ter a continuação dos esforços e investimentos, lembrando que o Brasil é o 10º país com maior área marítima.
“País de vocação pacífica, o Brasil constrói seu submarino, não para ameaçar quem quer que seja, não para perturbar a tranquilidade das águas internacionais. O Brasil constrói seus submarinos, porque um país com mais de 7 mil quilômetros de costa, não pode prescindir de instrumentos para defesa de sua soberania e suas riquezas marinhas”, destacou o Presidente Temer. Na sequência, foi descerrada a placa alusiva ao lançamento.
Assim que terminou a sua descida, dois caças AF-1B/C Falcão (A-4/TA-4KU Skyhawk), do 1º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (VF-1), fizeram uma passagem sobre o Complexo Naval de Itaguaí, dando as boas vindas ao mais novo meio da Marinha do Brasil.
O Riachuelo estará pronto para iniciar os testes de porto, nos quais serão avaliadas a estanqueidade, a flutuabilidade e o equilíbrio do submarino. Após todos os testes, que durarão cerca de dois anos, incluindo testes de mar, o submarino será finalmente incorporado à Força de Submarinos, subordinada ao Comando-em-Chefe da Esquadra brasileira.
Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB)
Iniciado em 2008, o PROSUB consiste em um acordo de transferência de tecnologia através de uma parceria estratégica entre o Brasil e a França, visando a construção no país de quatro submarinos convencionais e do primeiro submarino com propulsão nuclear da América Latina, previsto para estar pronto em 2029. O ambicioso programa brasileiro tem um custo de US$ 8,9 bilhões.
Apesar do Brasil ser um País de tradição pacífica, o programa coloca o Brasil em uma importante, e estratégica, posição de destaque no Atlântico Sul. Ao fim do programa, a Marinha do Brasil terá a mais moderna e avançada Força de Submarinos da América Latina, que vai lhe permitir patrulhar o Atlântico Sul com muito mais efetividade.
Os submarinos da classe Riachuelo possuem 72m de comprimento e deslocam 1.800 toneladas. Quando submersos, vão desenvolver uma velocidade de mais de 20 nós e serem capazes de atingir até 300m de profundidade. A sua tripulação é formada por 35 militares.
Os submarinos serão capazes de transportar 18 torpedos pesados, que são lançados através de 6 tubos que, além dos torpedos, também poderão lançar 8 misseis anti-navio encapsulados do tipo SM-39 Exocet, além de minas e cargas de profundidade.
Cronograma atualizado de lançamento ao mar das demais unidades:
- SBR-2 – Humaitá (S 41): 2020
- SBR-3 – Tonelero (S 42): 2021
- SBR-4 – Angostura (S 43): 2022
- SN-BR – Álvaro Alberto : 2029
O Brasil conta atualmente com cinco submarinos, sendo quatro da Classe Tupi e um da classe Tikuna. O Submarino Tupi (S 30) foi construído na Alemanha, sendo que os outros três da sua Classe (Tamoio S 31, Timbira S 32 e Tapajó S 33) foram montados no Brasil sem transferência de tecnologia. O Submarino Tikuna (S 34) foi construído no Brasil e comissionado em 16 de dezembro de 2005.
Submarino Nuclear
O PROSUB inclui também a fabricação do primeiro submarino brasileiro com propulsão nuclear, previsto para estar pronto em 2029. Apenas seis países no mundo constroem e operam submarinos com propulsão nuclear , sendo eles os Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, França, China e Índia. Destes, o único que concordou em transferir tecnologia ao nível requerido e capacitar os brasileiros a projetar e construir submarinos foi a França.
No que se refere especificamente à área nuclear, no entanto, não há troca de conhecimentos. Toda a tecnologia nuclear para o PROSUB está sendo desenvolvida no Brasil, por meio do Programa Nuclear da Marinha (PNM), nas instalações do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP).
Coletiva de Imprensa
Após a cerimônia, o AE Leal Ferreira, o AE Bento e o Sr. André Portalis, receberam os jornalistas para uma coletiva de imprensa. O Comandante da Marinha iniciou dizendo que é um “Momento muito especial para a MB, em todos os aspectos, foi uma grande vitória. Um empreendimento que envolveu vários desafios tecnológicos, mas que mostra que existem também muitos caminhos novos sendo abertos em termo de desenvolvimento da industria e da nossa capacidade de Defesa”. O CM também defendeu os investimentos necessários em Defesa, visando recuperar as capacidades das Forças Armadas brasileiras.
O Almirante de Esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, Diretor Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, ressaltou os 40 anos de história do Programa Nuclear da Marinha (PNM) e da importância do PROSUB, citando o domínio do ciclo de enriquecimento de urânio e o lançamento da pedra fundamental do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), cujo seu combustível é fruto das tecnologias desenvolvidas pela Marinha. Ressaltou também a importância da relação da Marinha com a Academia, em especial o trabalho em conjunto no PROSUB.
O Diretor Presidente da Itaguaí Construções Navais (ICN), Sr. André Portalis disse que “Ele (o submarino) é uma combinação da tecnologia francesa com as necessidades da Marinha do Brasil. Uma tropicalização para proteger o vasto e precioso patrimônio da Amazônia Azul”. O Sr. Portalis afirmou que o complexo industrial ganhou produtividade e poderá atender a demanda de países aliados do Brasil e da França no futuro. Completou dizendo que “Estamos apenas no início de uma grande caminhada tecnológica e estratégica”.
Respondendo ao DAN sobre a possibilidade de haver a construção de um SBR-5, antes do SN-BR, o Comandante da Marinha disse que “há a possibilidade, se vamos fazer o 5° SBR e quando vamos fazer, é uma decisão que está permanentemente no Almirantado. Mas é uma possibilidade, pois o Brasil tem uma Força Naval muito menor que a sua necessidade”.
O DAN também perguntou ao Sr. Portalis se haverá necessidade de aumentar a atual quantidade de mão de obra da ICN para a construção do SN-BR, o mesmo nos respondeu que hoje são 2.300 funcionários e que, este nível, está bom para fazer o submarino de propulsão nuclear.
Sobre a possibilidade de futuramente apoiar a manutenção dos submarinos IKL da MB, disse que é trabalho à ser estruturado na estratégia da Marinha.
NOTA do EDITOR: O Defesa Aérea & Naval agradece a Marinha do Brasil pela oportunidade de participar deste dia histórico para o nosso País, em especial à Marinha do Brasil. Parabeniza a toda equipe de organização e coordenação, que preparou de forma impecável a cerimônia, e a equipe do CCSM, nas pessoas do CA Valicente, CC Maia e CT Fabrício Costa, que não pouparam esforços em atender da melhor forma a todos.
Ao AE Bento, cumprimentamos pela sua indicação para Ministro de Estado de Minas e Energia no Governo do Presidente eleito Jair Bolsonaro, desejando muito sucesso nessa nova etapa.
Aproveitamos para fazer um especial agradecimento ao AE Leal Ferreira, que se despede em breve do Comando da Marinha, pela fidalguia e camaradagem com que sempre tratou os editores do DAN, desejando uma excelente passagem para a Reserva e o merecido descanso, com a certeza da missão cumprida.
BRAVO ZULU Alte. Leal Ferreira!
Parabéns ao DAN pela excelente reportagem. É fundamental termos uma mídia especializada e competente. Ganhamos todos.
Obrigado Sequim!
Cronograma ou o Temer deu uma pequena adiantada só para ter seu nome lá?
Se foi, com certeza não fomos os primeiros e nem seremos os últimos a fazerem isso…?
Sem palavras !
??⚓??
Caros Administradores do DAN
Fico grato pela excelente reportagem, devemos destacar também, que apesar dos pesares, a marinha teve um grande ano! além do novo submarino, teve também o PHM Atlântico, 4 rebocadores, novos CLANfs e agora, noticiada aqui no site, mais 3 novos helicópteros. É pouco ainda, mas se pensar nos últimos anos da nossa marinha, muito foi feito com poucos recursos disponibilizados!
Eu apenas fiquei com um curiosidade, atualmente temos 5 submarinos na esquadra, após a entrada em serviço do Riachuelo, teremos 6 ou algum dos atuais dará baixa e assim ficando com os mesmos 5??
Bom dia DAN!
Mais uma excelente matéria, como de costume.
Faço referência às dúvidas que o Marcos têm, que são as mesmas que as minhas.
Acredito que as perguntas a serem feitas são:
“O Riachuelo está operante, ou apenas lançaram o “casco” ao mar? Sem o seu interior estar totalmente finalizado (equipamentos, alojamentos, etc…)?
Estas perguntas estão relacionadas não só aos testes de estanqueidade, flutuabilidade, como também a operacionalidade, e acredito que tenha sido com esta intenção a pergunta do Marcos. O que para mim é irrelevante, pois o grande feito é o Brasil ser possuidor de tecnologia e autonomia para a construção de meios navais. Lógico que temos urgência em adquiri-los, mas sem as verbas necessárias…..
Grande abraço, desejando à todos da família naval e ao DAN Boas Festas e que 2019 seja repleto de realizações e matérias ainda mais especiais.
Cavalli,
Obrigado pelas suas palavras!
Com relação a sua dúvida, o Riachuelo não está operacional, ele só vai estar daqui a dois anos, quando será comissionado.
Neste período, haverá a integração dos sensores, sistemas, do mastro do periscópio optrônico e etc…
Tudo isso é normal, faz parte do cronograma de qualquer navio, não estamos fazendo nada diferente do que é feito em qualquer outro País.
Abs,
Guilherme, obrigado pelo retorno.
??⚓??
Alguém sabe o que são aquelas protuberâncias prateadas na laterais do submarino?
Guacamole,
É o Planar Flank Array Sonar (PFAS) da Thales.
Abs,
Pessoal do dan tirem uma duvida que sempre tive kk, na foto que aparece o vela do sub, onde tem o mastro da ICN. Oque são aquelas “janelinhas” que ficam na parte da frente??
Parabéns ao DAN, sem dúvida nenhuma é a melhor materia e com as melhores fotos que vi até agora sobre o lançamento do Riachuelo!
Obrigado Bruno! ⚓??
Qual a origem do termo Tonelero? A Marinha adorou esse nome para fazer um batalhão de Operações Especiais e agora para um submarino… Tonelero até onde eu sei é na língua espanhola o profissional que constrói tonéis de vinho ou cerveja…
Max,
Faz alusão as Fortificações do Passo do Tonelero, que era uma posição fortificada na margem direita do rio Paraná.
Vale ainda lembrar que o Submarino Tonelero (S 42), vai ser o segundo submarino da Marinha do Brasil a ostentar esse nome, antes dele, tivemos o Submarino Tonelero (S 21), da Classe Humaitá (Oberon).
Abs,
Bravo Zulu!
Que venham, dentro do cronograma, os Tonelero, o Humaitá e o Angostura.
Aproveito para desejar a todos os guerreiros, admiradores e colaboradores do DAN meus votos de um Feliz Natal e um 2019 pleno de realizações.
ETV
Obrigado Esteves, extensivo a você e seus familiares .
Obrigado e para você também!
Abs
Belas fotos, parabéns!
Obrigado!
Excelente a Matéria ,sobre os outros submarinos da esquadra ,saberia informar sobre a situação dos mesmos ?
Douglas estão o 2 e o 3 dentro da UFEM em construção.
A dúvida que resta é: O submarino está na água ou voltou para o estaleiro? Aquele rumor de que o submarino poderia voltar para o estaleiro após a cerimônia se concretizou?
Que diferença faz ? Ele foi lança é o que importa. Agora é partir para os testes
Pois é, a informação mais interessante da matéria o sujeito não comentou que seria a possibilidade da construção de um SBR-5, mas sabe como é o pessoal, sempre prefere destacar possíveis pontos negativos no meio de tanta coisa boa
Meus queridos, eu fiz uma pergunta levando em consideração os rumores que surgiram semanas antes do lançamento do submarino. Vocês vieram com paus e pedras. Não estou criticando o projeto, estou apenas curioso para saber se o submarino está ou não navegando. Que saco hein, problemas pessoais?
Marcos,
Serão 2 anos pela frente para serem feitos vários testes, no texto falo sobre isso, inclusive os testes de mar.
Se ele precisar retornar ao Main Hall para dar continuidade nos trabalhos de integração entre outros, não há nada demais isso.
Abs,
Caro Guilherme,
Estou ciente de que o submarino vai passar por um longo período de provas até ser declarado operativo.
O que eu gostaria de saber é se o Submarino está ou não navegando. Acredito que você deva ter lido, não sei se foi publicado no DAN, mas surgiu rumores que após o término da cerimônia o submarino voltaria imediatamente para o estaleiro.
Marcos,
Nenhum navio lançado ao mar, dois dias depois estará navegando. Tem muitos testes a serem feitos antes dos testes de mar.
Repito, não há nada demais do Riachuelo voltar para o Main Hall para continuarem os trabalhos.
Abs,