Por Guilherme Wiltgen
A convite da IACIT, o Defesa Aérea & Naval (DAN), participou da “Press Trip” ao Farol de Albardão, onde está estrategicamente instalado o radar OTH 0100, uma parceria da IACIT com a Marinha do Brasil.
O radar OTH 0100
Após a chegada ao local, cujo difícil acesso se dá via terrestre utilizando a praia como estrada, e distante aproximadamente 135 Km da Praia de Cassino, em Rio Grande (RS), o sítio radar está instalado na área de propriedade da Marinha do Brasil desde 2016, quando iniciou a coleta dos dados.
Segundo Gustavo Hissi (Diretor de Projetos e responsável por esse projeto) e Henrique Nobre (Gerente Geral de Vendas e Marketing), que fizeram uma apresentação para a mídia presente, a tecnologia nacional adota o conceito de OTH-HF SW (Surface Wave), que se propaga ao longo da curvatura, para a detecção de alvos, tornando-o um sistema exclusivo e diferenciado.
Esse conceito garante a rastreabilidade de uma área maior (aproximadamente 143 mil Km2), já que os sensores fazem uma varredura seguindo a curvatura da Terra, desse modo, se torna mais eficiente que os radares convencionais que têm o alcance limitado pela linha de visada direta (LOS – Line Of Sight).
Operando na faixa de HF, o OTH 0100 é capaz de monitorar além do horizonte no ambiente marítimo, até 200 MN (370Km), o que corresponde a cobrir a nossa Zona Econômica Exclusiva (ZEE). Utilizando o Pulso-Doppler como forma de onda, o feixe de transmissão angular fornece cobertura simultânea de 120° em azimute.
O conjunto é formado por uma antena vertical de transmissão (Tx) e a recepção (Rx) é feita por um conjunto de 24 antenas verticais, sendo 23 delas dispostas em forma circular. É justamente essa disposição circular, aliado ao processamento ADBF (Adaptative Digital Beamforming), que garante a adequada detecção de alvos, a alta diretividade e eficiência única na supressão das diferentes interferências, tais como as ionosféricas, ruídos gerados pelo homem e interferências de comunicação, explicou Gustavo Hissi.
Ele também explicou que o conjunto precisa de uma área mínima de 600 x 300 m, sendo que a distância mínima entre a Tx e a Rx precisa ser de 300 m. O conjunto é todo cercado e possui um dispositivo para interrupção da operação caso tenha alguma invasão inadvertida de pessoas na área das antenas.
Toda a infraestrutura é projetada para suportar as mais adversas condições, prevendo situações críticas como uma maré mais alta que invada o sítio radar. Estruturas de concreto armado com fundações de sapatas e a elevação do Shelters acima do nível do mar, garantem a integridade das instalações e a continuidade das operações, que são monitoradas em tempo real a partir da sede da IACIT, localizada em São José dos Campos/SP, quase 1.700 km de distância.
Emprega um sistema específico de técnicas de eliminação de interferências, proporcionando a cobertura confiável de ampla área marítima, e o mais importante, independente das condições meteorológicas ou da condição do estado do mar, que pode mudar de forma rápida e significativa nesta região.
Um dos grandes diferenciais de se possuir as antenas receptoras circular é a capacidade de absorver a informação de sinal para monitorar o navio que estiver utilizando contramedidas eletrônicas. É possível instalar uma segunda antena somente para ficar escutando sinal de interferência. Se o navio que estiver jammeando também estiver em movimento, ainda sim vai ser possível acompanhar a sua posição por triangulação, utilizando o sinal irradiado, determinando as suas coordenadas.
A Marinha do Brasil e o Radar OTH 0100
Parceira desse importante empreendimento para defesa da Amazônia Azul, a Marinha do Brasil (MB) vem apoiando a IACIT para o sucesso desse projeto nacional, que vai promover a entrada do Brasil no seleto grupo de países que possuem tecnologia para fabricação de radares além do horizonte (Over The Horizon).
Ciente dessa condição, a MB cedeu parte da área do Farol de Albardão para o desenvolvimento do sistema, onde estão instalados os conjuntos de antenas emissoras e receptoras.
O Radar OTH 0100 da IACIT entrou em estado operacional esse ano, e em março foi feita uma apresentação para o Comandante da Marinha, AE Eduardo Barcellar Leal Ferreira. A apresentação foi realizada no Comando de Operações Navais, no Rio de Janeiro, e contou com a presença da Alta Administração Naval.
Segundo Gustavo Hissi, falando aos jornalistas presentes, foi “um evento muito relevante e que ficaram impressionados com a aplicação da tecnologia”, resumiu o Diretor do Programa.
Desempenho do radar OTH 0100
O desempenho do radar é impressionante. Trabalhando normalmente com embarcações “não cooperativas”, ou seja, embarcações que não emitem sinais de AIS (Automatic Identification System), sistema que serve para identificar e localizar embarcações por intermédio da troca eletrônica de dados com outros navios e estações Serviços de Tráfego de Embarcações (VTS – Vessel Traffic Service), uma embarcação com 10 m de comprimento, pode ser detectada e rastreada a 100 MN.
Desse modo, a IACIT espera oferecer uma tecnologia dual, com aplicações em diversas situações, como o monitoramento costeiro, combate aos crimes ambientais, pesca ilegal, seja ela realizada per navios nacionais ou estrangeiros em nossa ZEE, pirataria, extração da biodiversidade, tráfico de armas e drogas e contribuir para a salvaguarda no mar.
A aplicação dessa tecnologia dual, pode ser uma alternativa bastante interessante ao Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz) e uma excelente ferramenta para o Comando do Controle Naval do Tráfego Marítimo (COMCONTRAM).
Para um próximo passo de avaliação do desempenho do OTH 0100, seria importante a presença de um navio da MB, de preferência uma Fragata ou Corveta, podendo para isso aproveitar alguma comissão na área do 5° Distrito Naval, para que possam avaliar o comportamento de um navio de guerra, assim como o navio também possa avaliar quando for iluminado pelo radar.
Ampliando as capacidades de monitoramento da Amazônia Azul
O radar OTH 0100 pode ser combinado com outro radar produzido pela IACIT, o RADH 0200 Radar Oceânico, que é um sistema que emprega técnicas avançadas de processamento de sinais digitais visando obter informações intrínsecas do oceano.
Composto por unidades de transmissão, recepção e processamento de sinais de radiofrequência na faixa de HF (High Frequency), o Radar Oceânico IACIT possibilita a medida de correntes marítimas superficiais, auxiliando no Sensoriamento e Mapeamento de velocidade e direção das correntes marítimas superficiais, observação contínua em tempo real de grandes áreas oceânicas, monitoramento e previsão de trajetórias de vazamentos, poluição e algas nocivas, dados efetivos para navegação marítima, auxiliando operações de resgate, busca e salvamento, informação de velocidade e direção de ventos próximos à superfície oceânica, estudos e pesquisas para atividades oceânicas, proporcionando dados com formatação padronizada, assistência na proteção e vigilância costeira, auxílio em previsões de tempo e clima, detecção de perigos ambientais como: tempestades, erosão costeira, tsunamis, mar revolto e outros efeitos naturais, mapeamento e modelagem para previsão do comportamento de correntes marítimas, avaliação dos impactos do aquecimento global e degradação ambiental em habitats marinhos, identificação de áreas de concentração de biomassa para onde convergem cardumes de peixes, beneficiando atividades de pesca artesanal e industrial.
Muito além do horizonte
O radar garante um alcance de monitoramento de até 200 MN, mas o que vimos na prática é que o OTH 0100 alcança além dessa distância.
Dentro do Shelter do radar, Gustavo Hissi nos mostrou que estavam sendo monitorados naquele momento, 50 embarcações dentro da área de cobertura. Foi possível acompanhar e monitorar uma embarcação a 237,46 MN (aproximadamente 439,77 Km), escolhida de forma aleatória na tela do radar.
O sistema automaticamente nomeia as embarcações (que recebem uma numeração) e a partir daí, é possível acompanhar, além da distância, o seu curso, velocidade, latitude e longitude. Como o objetivo é acompanhar embarcações “não cooperativas”, pode-se também observar o comportamento dos mesmos, exibindo o rastro da navegação, o que pode denunciar uma atitude suspeita. Muitas vezes, navios de guerra não emitem sinais do AIS por motivos óbvios, mas pelo seu comportamento e até mesmo pela velocidade, bem acima das usuais pelos navios mercantes, podem levantar suspeitas e serem monitoradas pelo radar e, se for o caso, acionar uma identificação visual por uma aeronave ou embarcação de patrulha na área.
A tecnologia empregada pela IACIT no seu radar, promove uma cobertura mais ampla da área sob monitoramento, sendo possível até acompanhar aeronaves voando em baixa altitude ou até mesmo um míssil “sea skimmer”, voando rente a superfície do mar.
Nessa unidade instalada no Farol de Albardão, é possível abranger uma área que se estende até o Uruguai e, em um exemplo de aplicação, 04 estações iguais a esta, cobririam toda área compreendida pelas bacias de Santos, Campos e do Espirito Santo. Seriam necessários pelo menos 14 radares OTH 0100, distribuídos ao longo de todo o litoral brasileiro, para se criar uma grande área de cobertura, garantindo uma visão além do horizonte na Amazônia Azul.
Com o radar OTH 0100 da IACIT, a Marinha do Brasil daria um grande salto operacional e o Brasil, independência tecnológica com um produto de tecnologia nacional, proporcionando a oportunidade do radar ganhar notoriedade também no mercado internacional.
NOTA do EDITOR: O DAN agradece o convite da IACIT nas pessoas dos senhores Gustavo Hissi e Henrique Nobre, que não pouparam esforços para atender a todos e prestar os diversos esclarecimentos e ao Guilherme Cassel, que organizou toda a logística e não poupou esforços de tornar nossa visita a mais agradável possível. Agradecemos também a Valéria Rossi (Rossi Comunicação) pelo apoio irrestrito e disponibilidade em ajudar na execução dessa matéria.
Pergunte algo relacionado ao militarismo pra essa geração da lacração e veja se eles sabem ao menos oque é um radar, políticos traindo a pátria deveriam ser presos, pessoas sérias deveriam conduzir nosso país.
Parabéns excelente radar ………..
Farol do Albardão… O repórter deu um belo de um passeio off road beira mar!
Me chamou a atenção a área sob cobertura do radar, quase metade está em águas localizadas em frente a costa do Uruguai, provavelmente deve ter como fim fiscalizar o trafego de embarcações nos limites marítimos entre Brasil e Uruguai.
Bela reportagem. Tomara que ainda haja o que proteger se e quando a costa inteira estiver monitorada.
Otima matéria, parabéns ao DAN! Fiquei impressionado com a possivel capacidade de dectar misseis sea skyming e com o fato de precisar de apenas 14 sistemas para monitorar nossa ZE. Espero q o projeto receba continuidade e sejam instalado outros em nossa costa.
o brasil tem otimo cientista e engenheiro, so que os governantes brasileiro não investi em p&d e quando o brasil adiquirem a tecnologia vende para outra nações.lamentavel
Parabéns a todos os responsáveis por esse desenvolvimento.
E meus parabéns também ao DAN por tão boa reportagem.
Saudações a todos.
Parabéns aos projetista brasileiros em colocar o brasil no seleto grupo que produz tal equipamento, mas o que adianta fazer algo desse tipo e depois o governo permitir q essa empresa seja comprada por estrangeiros.
Por isso nem me orgulho porque já sabemos como o nosso governo é, mas parabenizo toda equipe pelo esforço no projeto.
Já estou desacreditado desse brasil fás muito tempo!
E quanto a detecção de mastros de submarinos o sistema pode detectá-los ?
Esses dados coletados em tempo real, podem ser repassados em datalink para por exemplo um PC-3 Orion que patrulhe a área ?
Será feito algum teste em conjunto com a Marinha, como por exemplo o lançamento de um míssil voando rende ao mar, para possível detecção do mesmo ? Muitas perguntas, espero que sejam positivas para todas elas !!!
Parabéns pela reportagem !!!
Gallito,
Vamos com calma…
Uma coisa é localizar uma embarcação de 5000 toneladas na superfície. Outra bem distinta é um ínfimo periscópio de submarino…
Haja visto o sistema trabalhar em HF, não penso ser preciso a ponto de proporcionar a localização exata de algo tão pequeno… E mesmo que fosse capaz de tanto, há o próprio balanço do mar e as condições atmosféricas em si, que certamente haverão de interferir em demasia neste caso.
É certo que os dados coletados por esse sistema podem ser enviados, via link de dados, para qualquer plataforma da Marinha, e orientar uma incursão.
Saudações.
É uma pergunta interessante, uma vez que o sistema pode rastrear um missil sea skimming como o exocet, cuja a area é realmente pequena. Um periscópio não é, proporcionalmente, tão pequeno.
O equipamento e a tecnologia é sensacional, resta saber apenas se a MB vai conseguir fundos orçamentários e/ou apoio do “governo brasileiro” para estabelecer uma rede costeira de radares OTH 1000 e operá-la como uma rede similar ao sisdacta de controle aéreo da Aeronautica,
Dependendo da capacidade de rastreio de aeronaves em voo (ou caindo) e o alcance elevado para dentro da costa oceânica, se implantado, terá que ser integrado inclusive ao sistema de controle aéreo se for capaz nativamente de perceber grandes aeronaves caindo ou determinar a posição de grandes destroços no mar no curto período em que estiverem flutuando antes de afundarem.
Este uso secundário deveria ser explorado quando se colocar uma segunda unidade na costa do Nordeste o mais próximo possível do corredor aéreo de aeronaves comerciais que vem da Europa.
Seria bom inquirir a MB sobre a possibilidade de incluir este tipo de equipamento tanto em Fernando de Noronha, EM Martim Vaz no Espírito Santo ou como em São Pedro ou São Paulo as ilhas oceânicas brasileiras mais afastadas da costa brasileira…
Ou em plataformas de exploração submersíveis que possam ser reposicionadas ao longo da nossa costa oceânica como um Radar Móvel Oceânico, aí sonhei alto demais…. ; )
Vendo na internet a Ilha de Trindade é bem maior que Martim Vaz e já é uma ilha administrada pela MB.
Seria melhor e mais prático para instalar ali um sistema OTH 0100 que em Martim Vaz.
Tanto em Fernado de Noronha como em Trindade, ilhas maiores, se poderia/deveria serem instaladas 3 (ou 4 com sobreposição) unidades de radar OTH 0100 para obter-se cobertura em 360 graus das ilhas oceânicas… ; )
Na última foto “do exemplo de aplicação” contei só 12 setores radares cobrindo toda a costa brasileira…
Gilberto,
São Pedro e São Paulo se constituem em um conjunto de ilhas rochosas, que mal sustentam uma estação de pesquisa… Improvável que se possa dota-las de algo similar. Mesmo Martim Vaz me é uma incógnita…
O principal, no meu entender, deveria ser o monitoramento dos gargalos que temos nos portos e bases navais; pelo menos a princípio…
Mais a frente, presumindo haver um desenvolvimento desse sistema, poder-se-ia pensar em cobertura integral do litoral, quando então haveria algo de maior alcance e abrangência, permitindo haverem menos sítios…
Saudações.
Concordo quanto as pequenas ilhas mas pelo menos Fernando de Noronha e Trindade são grandes o suficiente (e afastadas o suficiente da costa brasileira) para se cogitar instalar este tipo de equipamento radar por sua posição estratégica mais a centro do Atlântico Sul…
Parabéns aos criadores dessa tecnologia, espero que o Brasil a utilize e impulsione o seu maior desenvolvimento.
bom dia
Se trata de um equipamento para uso militar ou civil?
Existe algum tipo de proteção ao mesmo (SAM)? Pois é um equipamento muito importante a nossa nação.
Palmas para o DAN ! Mais uma vez na vanguarda do jornalismo dos assuntos militares e de defesa, nenhum outro veículo se aprofundou neste que é o verdadeiro AZ para o monitoramento de nosso mar territorial, precisamos não só instala lo ao longo de nosso litoral mas também em nossas ilhas oceânicas para termos uma melhor capacidade de monitoramento.