Por Luiz Padilha
Atualmente, as ameaças e tecnologias estão evoluindo rapidamente. Para manter a operacionalidade eficiente, os navios de guerra devem ser atualizados de forma regular, e este é o maior desafio para Marinhas com recursos limitados. O Naval Group sempre oferece soluções personalizadas e escaláveis para que seus clientes possam modernizar seus meios de combate de superfície, submarinos ou logísticos. Com um grupo técnico de alto nível, o conglomerado pode modernizar meios que tenham sido produzidos por outros estaleiros, desenvolvendo e entregando soluções personalizadas, proporcionando desta forma que os clientes possam operar eficazmente seus meios por um período maior.
Press Tour Euronaval 2024
O Defesa Aérea e Naval (DAN) viajou à convite da empresa SOGENA para conhecer as novidades da empresas de defesa francesas do segmento naval. Nossa visita às instalações do Naval Group ocorreram em Cherbourg, Concarneau e Lorient, cidades onde atualmente importantes programas se encontram em andamento: submarinos classe Barracuda, programa rMCM e fragatas FDI (Frégate de Défense et d’Intervention).
O DAN já havia estado em ambas instalações anteriormente: em Cherbourg, durante o lançamento do submarino Suffren, o primeiro Barracuda, e em Lorient, para ver a construção da fragata FDI Amiral Ronarc’h. Foi nossa primeira vez em Concarneau, onde visitamos o estaleiro Piriou e vimos os novíssimos navios de contramedidas de minas da Marinha da Bélgica e da Marinha da Holanda.
SSN Barracuda
O que poderia parecer mais do mesmo, acabou se revelando uma grata surpresa. O Naval Group não para e está sempre se consolidando no presente e olhando para o futuro. E foi justamente o que pudemos observar, inicialmente em Cherbourg, onde, após a entrega dos submarinos Suffren, Duguay-Trouin e Tourville, o estaleiro se encontra em fase final para colocar no mar o quarto submarino da classe, o De Grasse.
Durante nossa visita as instalações do estaleiro, além do avançado estado de construção do De Grasse, vimos o Rubis, quinto submarino tomando forma, com vários blocos em construção e seus “cradles” sendo instalados nos blocos. No final, ainda visualizamos o primeiro bloco do Casablanca, sexto submarino da classe Suffren em construção.
As instalações do Naval Group em Cherbourg, além da tradição na construção de submarinos para a Marinha francesa (Marine Nationale), irá agora iniciar a construção dos futuros submarinos Barracuda “Blacksword” para a Marinha holandesa, conforme noticiado aqui no DAN. A versão holandesa difere da versão “Shortfin”, que seria construída para a Marinha australiana, e que não foi adiante por quebra de contrato pelos australianos.
A versão Barracuda “Blacksword” já tem seu primeiro submarino nomeado como Zr.Ms. Orka e, na sequência, virão os Zr.Ms Zwaardvis, Zr.Ms. Barracuda e Zr.Ms. Tijgerhaai. Os submarinos serão fabricados com a participação da indústria naval holandesa e terão sistemas e armamentos definidos pela Marinha holandesa.
Com a produção dos Submarinos Nucleares de Ataque (SNA) Barracuda para a Marine Nationale e, agora, os “Blacksword” para a Holanda, o Naval Group em Cherbourg terá muitos anos de trabalho pela frente.
Torpedos F21
O Naval Group desenvolveu o torpedo pesado F21, atendendo as necessidades da Marinha francesa, que necessitava de um torpedo pesado mais ágil, mais rápido, mais inteligente e com maior desempenho operacional. O F21 possui características únicas que o colocam em um patamar diferente dos torpedos pesados atualmente em operação.
Algumas dessas características são: velocidade excepcional, maior alcance e a capacidade de operar em águas profundas e em zonas costeiras com tráfego marítimo mais intenso.
Além da Marinha francesa, a Marinha do Brasil também selecionou o torpedo pesado F21 para equipar os submarinos da classe Riachuelo. A Marinha francesa e a Marinha do Brasil, juntas, já realizaram mais de 100 lançamentos do F21 no mar.
Características Técnicas:
Peso 1.550 kg;
Comprimento 6 m;
Diâmetro 533 mm;
Alcance máximo >50 km;
Detonador de Proximidade;
Motor Elétrico;
Velocidade 93 km/h;
Sistema de orientação homing acústico guiado por fio.
Baterias de íon-lítio (Li-ion)
O Naval Group passou a oferecer o uso de baterias de íon-lítio em seus submarinos. Os novos submarinos da classe Barracuda e Scorpene já possuem o sistema com essa moderna tecnologia. Os Scorpenes oferecidos para a Marinha da Indonésia já contemplam o uso de baterias Li-ion. Mas qual vantagem no uso dessas baterias? O que realmente as diferem das utilizadas de hidreto metálico de níquel (NiMH) atualmente?
As baterias de íon de lítio são recarregáveis e são muito utilizadas em equipamentos eletrônicos portáteis, como telefones celulares e laptops. Elas são consideradas uma das baterias mais densas em energia disponíveis no mercado, e têm características singulares.
Como foi apresentado, elas carregam mais rápido, ou seja, o tempo que o submarino precisa usar o Snorkel é menor, aumentando a discrição do submarino, fora que elas duram mais e armazenam o dobro de energia que uma bateria (NiMH), e três vezes mais energia que uma bateria de níquel cádmio (NiCd), sem efeito memória. Não é preciso, então, carregar as baterias até sua total capacidade e baixa manutenção, ou são totalmente livres de manutenção.
Programa rMCM
Após passarmos um dia inteiro no Naval Group em Cherbourg, chegou a vez de conhecermos de perto um dos programas mais importantes que o Naval Group está construindo: o rMCM (Navio de Contramedidas de Minas) para as Marinhas da Bélgica e da Holanda. Com um contrato para doze navios, o Kership, uma joint-venture entre o Naval Group e o estaleiro Piriou, iniciou a construção no estaleiro Piriou, em Concarneau dos doze navios da classe City. O programa levará mais de dez anos para ser concluído. O Oostende (M 940), primeiro navio do novo conceito da Marinha da Bélgica, deverá ser entregue no segundo semestre de 2025.
O conceito de Navio-Mãe (Mother-Ship) representa uma mudança completa de como realizar o combate na Guerra de Minas. O Navio-Mãe irá operar distante do perigo, pois o navio possui um sistema onde, após a detecção de um campo minado, ele para de prosseguir. Como o navio estará equipado com USVs, AUVs, ROVs, Drone aéreo Skeldar, apenas os drones entrarão no campo minado. O objetivo dessas contramedidas de minas é manter a tripulação afastada em segurança da zona de perigo.
Com todos os meios disponíveis, o Navio-Mãe pode implementar a limpeza do campo minado mais rapidamente. Outra vantagem que este conceito traz é a possibilidade de pesquisar, classificar e neutralizar a mina, em paralelo, pelos drones embarcados no navio.
O Naval Group irá validar os sistemas dos navios rMCM, como redes de computadores, instalações elétricas, sistemas de propulsão e sistemas de combate, bem como os de todos os sistemas não tripulados desenvolvidos pelo atual grupo Exail.
Lançador Modular Multiuso (LMP)
Pensando fora da caixa e bem longe do que se usa atualmente, o Naval Group criou um lançador para cada tipo de ameaça. O LMP (Lançador Modular Multiuso) é a resposta ao contexto atual de ameaças assimétricas. Podemos afirmar ser um CIWS (Close-in Weapon System) moderno, que pode empregar diferentes tipos de armamento, oferecendo capacidade sem precedentes de carga útil e integração simplificada a bordo.
A capacidade de autodefesa do navios fica em até 8 quilômetros, com a utilização de foguetes, mísseis, granadas, armas subaquáticas, chamarizes, UAVs e maior capacidade da carga útil de munição (cerca de 1.000 quilos), tudo graças à sua tecnologia de módulos de munição intercambiável.
Drones e sistemas autônomos
O Naval Group ao longo dos anos foi se aperfeiçoando como fabricante de sistemas, designer e produtor de drones para o combate naval (guerra de minas, combate subaquático, controle do fundo do mar e etc). Sua capacidade em oferecer soluções que combinam sistemas e navios não tripulados, com elevado desempenho operacional, faz do Naval Group referância para muitas Marinhas além da Marinha francesa.
O Naval Group investe em conceitos futuros por meio de simulação, Inteligência Artificial (IA) e gêmeos digitais, que tornarão os drones orgânicos para o navio ou usados de forma autônoma, elementos essenciais totalmente integrados às forças navais.
Para atender plenamente às crescentes necessidades e requisitos de nossos clientes em relação aos sistemas, nossas equipes estão projetando sistemas autônomos abrangentes de multimissão, estruturados em torno de 4 linhas de produtos principais.
Steeris (Sistema de Missão e Tomada de Decisão)
É um sistema que permite a um drone cumprir sua missão de forma independente, mas sob a supervisão de um oficial dedicado como operador do sistema, através de um centro de controle em terra.
SeaQuest S
O SeaQuest S é o primeiro de uma variedade de drones de superfície projetados e produzidos pela Sirehna, uma subsidiária do Naval Group, em parceria com o estaleiro Couach-CNC. O USV foi projetado de forma modular para atender às necessidades operacionais dos usuários, seja de governos (incluindo aqueles que exigem o transporte de armas) ou entidades civis.
O SeaQuest S oferece desempenho ideal da missão, mesmo com estado de mar 4,5, o que é bem pesado para este tipo de embarcação. O Seaquest S pode operar sozinho ou em grupos, podendo ser operado a partir de fragatas ou navios com equipamentos de elevação.
O design do SeaQuest S é modular e permite a embarcação ser configurada para operar diferentes tipos de missão, como EW, ASM, ISR e vigilância marítima. A experiência dos estaleiros Sirehna e Couach-CNC levou ao design de um produto maduro que demonstrará sua confiabilidade e adequação ao uso operacional em uma força naval, com a primeira embarcação de produção lançada em julho de 2024.
Seagent M e Seagent XL
O Seagent é um sistema autônomo incorporável em submarino ou navio e se destina a missões de vigilância e inteligência. O Seagent XL possui a capacidade de sair autonomamente do porto ou de um navio com total discrição, operando em ambientes hostis devido a sua grande autonomia.
Fragata FDI (Frégate de Défense et d’Intervention)
Encerrando nossa participação no Press Tour Euronaval 2024, visitamos as instalações do Naval Group em Lorient, local onde são construídos os navios mais modernos da empresa. Há dois anos quando lá estivemos, vimos a primeira fragata FDI da Marine Nationale em construção, a Amiral Ronarc’h, agora foi a vez de ver a terceira fragata FDI da Marinha da Grécia, a HN Formion.
O Naval Group nos brindou com uma visita ao interior da primeira fragata FDI grega, a HN Kimon. O navio se encontra em fase final para entrega a Marinha da Grécia, e nesta visita foi possível observar a qualidade de sua construção e o seu CIC (Centro de Informações de Combate) já montado com todos os seus modernos consoles, o que certamente fará com que a Marinha da Grécia tenha um enorme salto de qualidade operacional.
Nossa viagem terminou no dia 4 de outubro e infelizmente não tivemos a oportunidade de ver a saída da FDI Amiral Ronarc’h para o inicio de seus testes de mar. Temos certeza de que o navio passará com louvor pelos testes e após seu comissionamento, o aguardamos no Rio de Janeiro para poder visitá-lo já 100% operacional com a Marinha francesa.