Por Luiz Padilha e Guilherme Wiltgen
Com a junção das letras que compõem as empresas que a originaram (Matra, Bae Dynamics e Alenia), a MBDA, sediada em Le Plessis-Robinson (França), mantém as divisões nos três países desde a sua criação: MBDA France, MBDA UK e MBDA Itália.
Considerada a única empresa europeia com capacidade para projetar e produzir mísseis e sistemas de mísseis que atendam as necessidades na área Naval, Terrestre e Aérea, a MBDA é uma joint venture que reúne três líderes europeus na área Aeroespacial e de Defesa: Airbus (37,5%), BAE Systems (37,5%) e Leonardo (25%).
Atualmente, a MBDA conta com, aproximadamente, 13.000 funcionários distribuídos em suas divisões. Além das divisões na França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido, a MBDA abriu escritórios nos EUA, fazendo-se presente em 6 países para atender os seus mais de 90 clientes pelo mundo.
MBDA UK
Os editores do Defesa Aérea & Naval (DAN) estiveram na França durante a Euronaval 2022, a maior e mais importante Exposição Militar na Área Naval. Como a MBDA irá fornecer para a Força Aérea Brasileira o míssil Meteor (ar-ar) considerado o mais moderno da atualidade que irá equipar o caça Gripen E/F, e o míssil CAMM, que compõe o Sistema “Sea Ceptor” das futuras fragatas classe Tamandaré da Marinha do Brasil, solicitamos a MBDA autorização para visitar suas instalações e ver de perto como se realiza o desenvolvimento e fabricação dos nossos futuros mísseis.
Para tal, viajamos desde Paris até a cidade de Manchester na Inglaterra, de onde seguimos até as impressionantes instalações da MBDA na cidade de Bolton. Quando usamos a palavra “impressionantes”, não é a toa. São dois modernos prédios que abrigam o desenvolvimento e a fabricação dos mísseis Meteor e CAMM, e outro para a logística da empresa; ou seja, uma estrutura organizacional espetacular.
Fomos recebidos pelo Sr. Ged O’Dwyer, Head of Manufacturing, que nos apresentou todos os setores da fábrica para que víssemos e entendêssemos a complexidade da concepção de um míssil como um todo.
Antes de acessar a área fabril, é necessário eliminar a eletricidade estática. Para isso, é preciso colocar dispositivos especiais nos sapatos e passar no teste para realizar a descarga de eletricidade. Somente com o sinal verde no equipamento e devidamente paramentados com o dispositivo e um jaleco de visitantes, podemos entrar no coração da fábrica.
A construção de um míssil moderno requer um nível de complexidade que só estando lá para compreender. A confecção das placas que compõem o cérebro dos mísseis é complexa e, ao mesmo tempo, simples, devido a automação que a fábrica possui. Porém, sem a presença humana, esse processo não funcionaria.
Todo o treinamento é realizado na própria unidade em Bolton e leva, aproximadamente, seis meses para que o novo funcionário esteja apto a trabalhar na linha de fabricação.
Seguindo por dentro da fábrica, o Sr. Ged para em frente a uma bancada e pede para abrir a mão, passando uma fita branca por ela. Na sequência, pede para olhar se há algo de diferente na palma da mão. Como não foi possível ver nada de anormal, ele pede que se coloque a mão embaixo de um aparelho e, em seguida, pede para olhar no monitor a frente. Para a nossa surpresa, é possível ver vários mini transistores que, de tão pequenos, quase não é possível ver a olho nu. Estes mini transistores farão parte de uma das placas que vão ser instaladas nos mísseis. Na sequência, pediu para colocar a mão sobre uma caixa forrada e que a balançasse para que os transistores caíssem lá dentro. “Vocês não podem levar eles com vocês!”, disse ele.
Míssil CAMM (Common Anti-Air Modular Missile)
É importante ressaltar que a Marinha do Brasil adquiriu, para as futuras Fragatas Classe Tamandaré, o Sistema de Armas “Sea Ceptor”, que utiliza o míssil CAMM. Portanto, não é correto afirmar que “a Marinha adquiriu o míssil Sea Ceptor”, são duas coisas distintas.
Desenvolvido para o Ministério da Defesa do Reino Unido (MoD), o míssil CAMM é um dos componentes do sistema de defesa aérea que tem como objetivo defender a soberania do Reino Unido. O míssil CAMM, devido a sua capacidade de efetuar manobras acima de 9G, pode interceptar mísseis com capacidade de executar manobras evasivas e de alta velocidade, baixa assinatura e contramedidas avançadas, com um alcance de 25 quilômetros ou mais.
Com um Seeker ativo de baixo custo, um datalink bidirecional de banda dupla e uma arquitetura programável de sistemas abertos, o míssil CAMM se mostrou eficiente durante os testes e foi adquirido para as fragatas Type 23 da Royal Navy.
O míssil CAMM é utilizado pelos Sistemas de Armas Land Ceptor e Sea Ceptor e seu lançamento é do tipo Soft Vertical Launch (SVL), quando o motor do míssil (CAMM) é acionado fora do lançador (Land/Sea Ceptor). A MBDA desenvolveu a versão CAMM-ER, onde o míssil pode interceptar ameaças aéreas à 45 quilômetros de distância.
Míssil ar-ar Meteor
O Meteor é um míssil guiado por radar com capacidade para operar além do alcance visual (Beyond Visual Range Air-to-Air Missile – BVRAAM). Desenvolvido e fabricado pela MBDA, o Meteor obteve sua certificação a partir do caça sueco Gripen, quando sua capacidade de envolver alvos altamente manobráveis, como caças, UAVs e mísseis de cruzeiro em um ambiente carregado de contramedidas eletrônicas (ECM) foi aprovada.
Equipado com um motor ramjet, o Meteor possui um alcance de mais de 100 quilômetros a uma velocidade superior a Mach 4. Durante a corrida até o alvo, o Meteor, através de seu data link bidirecional, pode ser atualizado pela aeronave que o lançou, redirecionando para outro alvo se assim for necessário. Mas, um detalhe que chama a atenção, é o fato do Meteor gerenciar o consumo de seu combustível, para a ter a máxima manobrabilidade quando se aproxima do alvo.
O Meteor está equipado com espoletas de proximidade e impacto para maximizar os efeitos destrutivos. Atualmente, ele equipa os caças Rafale da Força Aérea Francesa, o Eurofighter da Royal Air Force, da Força Aérea Alemã, Força Aérea Italiana, Força Aérea Espanhola e, é claro, da Força Aérea da Suécia. Em breve, a Força Aérea Brasileira fará parte deste seleto grupo, com o Meteor equipando seus caças Gripen E/F.
Linha de produção
Voltando para a nossa visita, vimos que o chassi do míssil CAMM e do Meteor é o mesmo, ou seja, mais um ponto onde vemos que a MBDA otimiza ao máximo seus meios e sua produção.
As placas dos circuitos após receberem seus componentes são colocadas em fornos especiais para consolidar as soldas executadas pelos técnicos.
Na sequência, os técnicos utilizam equipamentos para verificar se não há nenhuma falha para liberar a placa e seguir para a linha de montagem.
A produção dos mísseis segue com a liberação dos componentes que vão sendo inseridos passo a passo para que o míssil comece a tomar forma.
Com 700 funcionários nesta unidade, a MBDA prima por uma mão de obra extremamente qualificada, onde foi possível observar o esmero na confecção dos componentes em um ambiente silencioso. A MBDA UK não insere a cabeça de guerra nos mísseis, esse procedimento é realizado em outra divisão da empresa na cidade de Henlow.
Tanto os mísseis CAMM quanto os mísseis Meteor, após a montagem (sem a cabeça de guerra), tem sua resistência testada em equipamentos onde são submetidos a interferência eletrônica, baxíssimas temperaturas e a vibrações.
Após esses testes e uma vez aprovados, são enviados ao prédio que cuida da parte logística de onde seguirão para Henlow.
Agradecimento: Os editores do DAN gostariam de agradecer aos senhores Patrick de la Revelière, Jon Southgate, Ged O’Dwyer e Julien Watelet, pela oportunidade e atenção dispensada para a realização deste artigo.
Excelente cobertura DAN!
Matéria simplesmente espetacular! Recomendo fortemente salvar a mesma! 👏👏👏👏👏👏
Excelente matéria, parabéns.
Matéria excelente.
Parabéns para a equipe.
Show, talvez nunca em sua história a FAB teve um sistema de armas tão avançado como a dupla F-39/Meteor!!
Com certeza, a FAB nunca teve uma dupla como esta. Guardadas as devidas proporções temporais e tecnológicas, o Gloster Meteor (primeiro caça à jato da FAB), que não usava mísseis, já era antiquado quando foi adquirido. O F-5E, quando foi adquirido junto com o AIM-9B, ambos não eram expoentes de tecnologia da época. Mesmo o Mirage III e o Matra R-530 não eram mias tão modernos e não podiam ser considerados expoentes tecnológicos. Ou seja, todos os 3 caças citados, e seus armamentos ar-ar com que vieram equipados, quando adquiridos já existiam caças e mîsseis bem mais modernos. Hoje, o Gripen E está entre os caças de geração 4,5++, com algumas tecnologias de 5ª geração e o Meteor é tido por muitos como o míssil BVR mais moderno e capaz da atualidade. Então, com o Gripen E/F e o Meteor, a FAB vai alcançar um patamar nunca antes experimentado pela Força.