Por Gabriel Arce
A Fach – Força Aérea do Chile, ativou os alarmes e a operação foi imediatamente acionada, para encontrar o Hércules C-130 que decolou de Punta Arena na segunda-feira com 38 pessoas a bordo e de repente parou de se comunicar antes de chegar ao seu destino na Antártida. Uma procura com a ajuda de outros países e que, ao final desta edição, não teve resultados.
O ministro da Defesa, Alberto Espina, chegou à região de Magallanes com o comandante-chefe de Fach, Arturo Merino, para monitorar a busca e garantiu que “usaremos todos os meios à nossa disposição”.
E isso resultou em vários navios e aviões (veja infográfico) e no uso de satélites, com duas órbitas de satélite dos EUA para captura de imagens e uma órbita diurna de satélite do Fasat Charlie. Do exterior, foram feitas contribuições com aviões da Argentina, Uruguai, Brasil e Reino Unido. Os Estados Unidos e Israel se uniram com outros meios.
Durante a tarde, o Presidente Sebastián Piñera fez uma videoconferência com Espina e Merino. “O que quero lhe perguntar é que esgotamos todos os meios de busca para fazer todos os esforços para encontrar o avião e, espero, sobreviventes. Destacamos todos os recursos disponíveis para a Força Aérea e Marinha do Chile e tivemos a ajuda de países amigos”, disse Piñera.
Ele acrescentou que “conversei com o presidente (Jair) Bolsonaro do Brasil e o presidente (Alberto) Fernández da Argentina, que ofereceram toda a ajuda necessária. Além disso, tivemos a colaboração, através da tecnologia digital, de satélites como países dos Estados Unidos e Israel, e a França também ofereceu”, afirmou ele.
Uma “falha na estrutura” poderia explicar o caso
O analista de defesa Eduardo Santos diz que se o Hércules conseguisse amerrissar no mar de Drake, poderia ser considerado “o milagre dos milagres da aviação”. O avião é o favorito de muitas forças aéreas e foi projetado para voar em condições muito difíceis.
Mais de 34 toneladas de peso fazem com que o Hércules C-130 seja comparado por muitos como uma “toupeira com asas”. Essa característica, no entanto, não implica que esses aviões robustos não possam entrar em colapso, como aconteceu com o avião da Força Aérea que foi perdido no mar Drake na segunda-feira. O Hércules é um dos favoritos em todas as forças armadas do mundo, devido às suas dimensões e capacidade de atuar sob as condições mais exigentes, graças aos seus quatro motores propulsores. No papel, a aeronave é capaz de suportar 20 toneladas de carga, transportar 92 passageiros e transportar um tanque, se necessário. Mede cerca de 30 metros de comprimento, 11,6 metros de altura e 40 de largura, entre asa e asa. Além disso, devido ao seu peso, sua velocidade máxima é de 600 quilômetros por hora, e não dos mil quilometros alcançados pelos aviões comerciais tradicionais. Essas características fazem dele a “aeronave ideal” para destinos extremos, mesmo se houver vidas dos líderes em jogo.
É sabido que o próprio presidente Sebastián Piñera, quando anunciou a reforma das bases chilenas na Antártida em 12 de janeiro deste ano, viajou no mesmo Hércules “990” e pela mesma rota entre Punta Arenas e a Base Frei.
Mas como poderia desaparecer?
O avião em questão é antigo. A empresa que constrói o Hércules, a Lockheed Martin, o entregou em 1978 à Força Aérea dos EUA. Depois disso, passou para o corpo de fuzileiros navais e parou de prestar serviços em 2008. Quatro anos depois, o Chile o comprou por 7 milhões de dólares, mas foi somente em abril de 2015, após recondicioná-lo, que começou a cruzar o céu local.
A questão é: como pode uma fortaleza alada feita para as condições mais extremas desaparecer no meio do Oceano Antártico? O contato por rádio entre a aeronave e a torre de controle em Punta Arenas durou pouco mais de uma hora. Então, silêncio total dos pilotos. Estima-se que Hércules faltavam uns 400 quilômetros para chegar à Ilha King George, onde deveria pousar às 19h17. A autonomia é de 3.800 quilômetros, então havia combustível para voar até as 00:40. Infelizmente, ele nunca chegou a uma pista.
Existem duas possibilidades: que o avião amerrissasse e a tripulação usasse os quatro botes que o Hércules possui, ou que se precipitou diretamente no mar de Drake, as águas mais tempestuosas do planeta.
Eduardo Santos, engenheiro civil de estruturas e analista de defesa experiente, diz que a possibilidade de amerrissagem é muito baixa. “O lugar mais difícil do mundo é o mar de Drake, seria o milagre dos milagres na aviação”, diz o especialista. Com seus anos de experiência, Santos diz que o silêncio abrupto dos pilotos torna improvável que algumas turbinas tivessem falhado. “Essa aeronave pode voar com metade de seus motores e, se assim for, eles teriam tempo para enviar um ‘May Day’ ou ativariam o farol”, disse ele.
Sua teoria segue do lado de “uma falha na estrutura”. “O normal nesse tipo de acidente é que os estabilizadores, tanto a cauda quanto as asas, falhem. Superfícies horizontais ou spoiler na asa principal”, diz ele. Se for esse o caso, para o especialista haveria apenas um culpado: “seria um sério problema de manutenção da Força Aérea, não há outro”, enfatiza.
Santos lembra que há oito anos o fabricante do Hércules emitiu um alerta para as porcas que sustentam os parafusos das asas. “Ambas estão presas à fuselagem com 15 parafusos e, na época, o fabricante alertou que, se houvesse mais de 6 parafusos trincados – que não são visíveis a olho nu -, o avião corria um sério risco de perder uma asa em voo”.
O caso dramático na Califórnia
Perdas graves de fuselagem já ocorreram com o C-130. Na Califórnia, em 2002, um acidente do mesmo modelo, mas adaptado para combater incêndios florestais, deu a volta ao mundo e depois perdeu as duas asas na frente das câmeras de televisão. Depois disso, ele caiu precipitadamente em uma floresta e seus três tripulantes morreram. “O avião não precisa ser ruim se for velho, mas eles precisam de diretrizes rígidas de manutenção. Se não forem respeitadas, coisas sérias podem acontecer (…) para mim foi uma falha estrutural. Ele perdeu sua sustentação e caiu como uma pedra”, diz o especialista.
Hércules da Força Aérea Brasileira se acidenta durante o pouso na Base de Frei
A outra tragédia com um C-130 no continente branco
De acordo com os registros da Aviation Safety Network, um site que coleta acidentes aéreos em todo o mundo, desde 1954 até o momento ocorreram 325 colisões graves (239 delas, acidentes) envolvendo o Hércules C-130, deixando 3007 mortes. Embora o número seja alto, devemos considerar que a aeronave é uma das mais populares do mundo e está exposta às condições mais adversas. De qualquer forma, os mesmos registros contam dois acidentes envolvendo o mesmo avião e a Antártica.
O primeiro ocorreu em 1971: um C-130 decolou da Nova Zelândia para a base antártica norte-americana. Ao pousar, e devido à pouca visibilidade, a aeronave atingiu um banco de neve e destruiu uma de suas asas, o que acabou afetando o motor e causando um incêndio. Não houve mortes.
O segundo em 1987: um C-130 da Marinha dos EUA, não teve o mesmo destino ao transportar os suprimentos para reparar precisamente o avião danificado em 1971. Devido à pouca visibilidade, o avião não conseguiu pousar na pista e precipitou à um quilômetro e meio do seu destino. Dois de seus 11 ocupantes morreram.
FONTE: PUBLIMETRO
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DAN