Por Tenente Coronel Art Maurício José Lopes de Oliveira
O início do ano de 2020 traz importantes reflexões e ensinamentos para o Estado Brasileiro: de que forma as Forças Armadas brasileiras vem se preparando para a Guerra do Futuro? Os oficiais e praças visualizam como as características do combate moderno vem se tornando cada vez mais dependente do aspecto tecnológico? Essas são duas perguntas que não podem sair da mente dos militares brasileiros. O transformar das nossas Forças Armadas será fator decisório para o Brasil desempenhar o papel de líder regional no âmbito da América do Sul daqui para frente.
Durante o século XX, o mundo conhecia o desenrolar da Guerra em praticamente três planos de atuação: o mar, o ar e a terra. Com a chegada do século XXI, pode-se observar países como EUA, Rússia, China, Índia e Israel obter destaque nos domínios informacional, espacial e do cyberespaço. Recentemente, a Índia anunciou ao mundo a possibilidade de se abater um satélite no espaço e o Presidente americano Donald Trump autorizou a criação da Força Espacial dos Estados Unidos (United States Space Force – USSF), com o orçamento de oito bilhões de dólares para os próximos cinco anos a ser submetido à aprovação do Congresso dos EUA. De forma similar, observa-se no mundo a crescente utilização de ataques cibernéticos à grandes multinacionais e até mesmo à órgãos federais de diversos países com o objetivo de se obter dados privilegiados ou causar danos e prejuízos financeiros civis e militares.
Nota-se ainda, que as ações de combate utilizadas atualmente nos três primeiros domínios conhecidos (mar, ar e terra) são caracterizadas pelo controle e emprego de armamentos que possuem alta capacidade de tecnologia agregada. A utilização de ataques a alvos civis e militares utilizando drones já é uma realidade e a melhor forma de defesa contra este novo ator do cenário da guerra ainda não está definida nem mesmo pelas grandes potências militares do mundo. Dois importantes acontecimentos para a Geopolítica do Oriente Médio comprovam esta assertiva: o ataque do tipo “enxame” de mais de 10 drones realizado por rebeldes iemenitas, apoiados pelo Irã, à refinaria de petróleo da Arábia Saudita em setembro de 2019 e o ataque da aeronave não-tripulada MQ-9 Reaper dos EUA, que matou o General iraniano Qassem Soleimani em Bagdá, em janeiro deste ano.
Hoje, o mundo se baseia na tecnologia de inteligência artificial para a resolução de problemas em vários campos da vida como a medicina, o turismo, a segurança pública e a militar. O País e seus órgãos institucionais que não se aproximar de soluções que passam pelo uso da inteligência artificial estará caminhando para o insucesso, mesmo sendo possuidor das melhores idéias a serem implementadas nos diversos campos da sociedade moderna.
Voltando ao papel a ser desempenhado pelas Forças Armadas do Brasil no futuro, percebe-se que os acontecimentos ocorridos nos combates do século XXI pelo mundo nos mostram a necessidade do desenvolvimento de novos armamentos, novas capacidades marítimas e aéreas e de novos estudos de casos militares voltados para um “novo combate” que ora se apresenta.
Ao tentar responder as duas primeiras indagações feitas no início deste artigo, infere-se que os atuais Projetos Estratégicos desenvolvidos pelas Forças Armadas são um primeiro passo para o futuro, no entanto a busca incessante para o desenvolvimento de outros armamentos e capacidades deverão manter o Brasil como destaque militar regional de dimensão compatível com a estatura político-estratégica do País. Da mesma forma, nota-se que os militares brasileiros sabem da necessidade de maior incremento tecnológico nos armamentos a serem utilizados daqui para frente. A discussão de casos atuais em bancos escolares no âmbito militar já é um incremento de sucesso e um bom início para o despertar de soluções de problemas militares inéditos que caracterizam os combates do século XXI.
Por fim, nota-se que os conflitos modernos que vêm ocorrendo tem mostrado ao mundo que cada vez mais o combate será baseado na capacidade tecnológica da qual o País possui. A geração de capacidades de forças militares baseadas em alta tecnologia será o grande fator determinante para um País participar do “jogo no tabuleiro geopolítico” ao redor do mundo. Desta feita, a sociedade brasileira pode ter a convicção que seus militares, atentos a esta questão, estão diuturnamente aprimorando suas capacidades, cientes da necessidade do desenvolvimento de tecnologias e assim fazer do País um ator militar importante e respeitável no âmbito mundial.
Sobre o Autor: TC Art Maurício José Lopes de Oliveira, é oficial da Arma de Artilharia e foi formado pela Academia Militar das Agulhas Negras no ano de 1999. Realizou o Curso de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) nos anos de 2014-2015. Após o curso da ECEME, foi instrutor da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO) nos anos de 2016-2017, quando foi designado para ser Assessor no Colégio Interamericano de Defesa, em Washington D.C., Estados Unidos da América. Atualmente, o militar é instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME).
IMAGEM: Ilustrativa