Por Patrícia Campos Mello
Para Amorim, que foi ministro das Relações Exteriores e, mais recentemente, ministro da Defesa, á dependência exagerada do governo brasileiro em relação à tecnologia militar israelense, principalmente em “avionicos” (equipamentos eletrônicos usados em aviões, satélites, drones e outros).
“Não podemos continuar excessivamente dependentes da tecnologia de Israel, é hora de diversificarmos nossos fornecedores”, disse Amorim à Folha.
As Forças Armadas criticaram a decisão do Itamaraty de não aceitar a indicação de Dayan, que aguarda desde o início de agosto para receber seu “agrément” (sinal verde) para ser o novo embaixador de Israel no Brasil.
O motivo da demora seria o fato de Dayan ter presidido, de 2007 a 2013, o Conselho Yesha, que representa 500 mil colonos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. O Brasil se opõe à política de assentamentos, que inviabiliza a solução de dois Estados —um para Israel, outro para os palestinos— na região.
Em entrevista à Folha nesta semana, um membro do alto escalão das Forças Armadas brasileiras disse que o impasse poderia atrapalhar a transferência de tecnologia entre os dois países.
“É falta de visão geopolítica e de objetividade de ações. Para as Forças Armadas, ficou uma situação muito sensível, pois nossa parceria com empresas israelenses de alta tecnologia é muito grande”, afirmara o militar à Folha.
INTERCÂMBIO
Em 2014, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Israel exportou para o Brasil US$ 10,527 milhões em peças para aviões e helicópteros e US$ 1,83 milhão em instrumentos para navegação aérea e espacial. As Forças Armadas compraram em 2014 um drone (veículo aéreo não tripulado) israelense por US$ 8 milhões.
Amorim afirma ser favorável à intensificação da relação comercial com Israel, “tanto que foi em minha gestão que o Mercosul assinou acordo de livre comércio com o país (assinado em 2007, começou a vigorar em 2010)”. Mas usar a exportação de tecnologia como fator de pressão, para ele, não é aceitável.
“Aceitar como embaixador uma pessoa que foi líder de políticas de assentamentos em Israel seria uma aceitação tácita dessa política, à qual o Brasil se opõe. Não é possível aprovar esse embaixador”, afirma Amorim.
Segundo o ex-ministro, além de Dayan simbolizar uma política rejeitada pelo Brasil, sua indicação foi apresentada como um “fato consumado”.
O Ministério israelense das Relações Exteriores anunciou a designação de Dayan publicamente antes de comunicá-la ao governo brasileiro. O Itamaraty estaria agora esperando que o governo israelense indicasse outro embaixador em vez de Dayan.
FONTE: Folha de São Paulo