O pronunciamento da presidente Dilma Rousseff na ONU foi muito correto na crítica à espionagem cibernética dos Estados Unidos, realmente uma afronta às relações internacionais e à autonomia dos povos, e na análise da crise econômica mundial, cuja fase mais aguda já passou, mas que ainda tem efeitos graves no mercado de trabalho, nos investimentos e no comércio exterior. Firme e pertinente, o discurso, contudo, não exime o Brasil das lições de casa que precisa fazer em defesa de sua soberania e de seus setores produtivos.
No primeiro caso, é preciso reconhecer que, pelo menos há duas décadas, as Forças Armadas têm recebido investimentos muito aquém das necessidades de defesa de um país com mais de 200 milhões de habitantes, quase 8 mil quilômetros de litoral, 15.719 de fronteiras terrestres e área total de 12,71 milhões de quilômetros quadrados (considerando as 200 milhas náuticas nacionais e a extensão da plataforma continental).
Somos pacíficos, democráticos e respeitosos à autodeterminação das nações. Porém, não podemos subestimar a História, esta imensa caixa de surpresas. Afinal, vivemos num mundo onde recursos naturais como a Amazônia, o pré-sal, a biodiversidade mais abundante, a maior reserva hídrica e a mais ampla área agricultável disponíveis no planeta despertarão cada vez mais cobiças.
Da mesma maneira que a defesa de nosso território é hoje muito frágil, também não estamos blindados na segurança eletrônica, como comprova a exitosa bisbilhotice dos Estados Unidos, capaz até mesmo de interceptar e-mails de nossa presidente da República. É preciso, portanto, investir nas Forças Armadas e na cibernética. O erro político, a ausência de ética nas relações internacionais e as ameaças conjunturais devem ser condenados, mas não podemos ignorá-los. Necessitamos estar sempre preparados para interagir numa civilização muito longe de ser perfeita.
Quanto à economia, outro assunto importante abordado na ONU pela presidente Dilma Rousseff, também precisamos adotar medidas urgentes de defesa. Não me refiro, obviamente, a um retrocesso protecionista e a medidas anacrônicas e exageradas de barreiras alfandegárias e não alfandegárias, mas sim à recuperação urgente de nossa competitividade. Tal processo começa pelo redespertar do chamado espírito empreendedor do empresariado, que precisa ter seu otimismo estimulado. Investir também significa correr riscos, mas os investidores já estão cansados de tantas incertezas e mudanças de cenários.
Não há dúvida de que os dados apresentados pela nossa presidente na ONU são admiráveis, incluindo a expressiva redução da pobreza extrema e a maior mitigação das desigualdades nos últimos 50 anos. Também é positiva a maneira como enfrentamos e resistimos à crise mundial, com medidas anticíclicas que nos garantem, ainda na presente conjuntura de baixo crescimento, uma das menores taxas de desemprego do mundo.
Porém, o modelo esgotou-se. É premente reduzir o custo da produção e a burocracia, ampliar a segurança jurídica e estabilizar o câmbio e os juros em níveis adequados, resgatando a confiança dos investidores.
É necessária uma estratégia bem definida e com métricas claras, não para cada semana mas os próximos 15 ou 20 anos, com ações coordenadas para a exploração de todo o nosso potencial. Precisamos ser mais ambiciosos e não nos resignarmos com avanços importantes, mas muito inferiores aos que poderíamos alcançar com uma postura de mais compromisso perante o fomento socioeconômico nacional. No presente ritmo, levaremos 40 anos para ascender a um grau mais elevado de progresso, e isso é inaceitável.
Com medidas práticas e estratégicas, o Brasil saltaria da posição de país de renda média, que conquistou com mérito, para o patamar de nação desenvolvida, que alcançaria com inteligência e uma dose de responsável ousadia! Ah, sim, e com capacidade de defender sua soberania eletrônica e territorial…
*José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado de São Paulo (Sindiplast-SP), é vice-presidente e diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp.