Eles conseguiram…

Por  Otávio Santana do Rêgo Barros  – General de Divisão da Reserva

O “save the date” para a festa em comemoração à nossa independência foi enviado no início do mês. Muitos compareceram, muitos não. Não importa. Todos, indistintamente, desejaram ORDEM E PROGRESSO ao aniversariante.

Como de costume, na manhã de 7 de setembro, em muitas localidades do país, em uma genuína união cívico-militar, desfilaram estabelecimentos de ensino, organizações diversas e Forças Armadas.

Aqui em Brasília, a abertura da semana da pátria contou com retretas de bandas militares, exposição de material bélico e a tradicional parada, no colorido eixo monumental da capital federal.

Homens e mulheres, envergando uniformes de gala e de combate, cara limpa para a paz ou camuflada para a guerra, renderam homenagem ao gigante verde e amarelo, cuja certidão de nascimento foi lavrada nesse mesmo dia, há duzentos e um anos, às margens do riacho Ipiranga.

Em outro grupamento, meninos e meninas, pertencentes a escolas públicas e privadas, em passo quase certo, vibravam conduzidos por mestres atentos e sorriam ao avistarem pais orgulhosos a fotografá-los.

Nas palavras de agradecimento, o aniversariante, se pudesse expressar-se, declararia sua satisfação com a deferência histórica do povo brasileiro à data, com o esforço de construção de um país próspero para seus filhos e, magnânimo, pediria que as tribos, ainda em conflito, abaixassem as armas e tomassem assento na mesa da conciliação.

Exemplo de conciliação, aliás, que ele iria buscar no espírito pacificador de Luís Alves de Lima e Silva – Duque de Caxias -, patrono do Exército brasileiro ou em Nelson Mandela que libertou a África do Sul de um cruel sistema racista baseado em violência e preconceito, unindo com rara inteligência emocional opressores e oprimidos sob um projeto de nação.

Essas figuras icônicas representam até hoje a ideia de uma genuína pacificação.

Duque de Caxias

Caxias viveu como soldado desde os cinco anos de idade. Foi porta-bandeira do batalhão da guarda imperial ainda imberbe e Duque na vitória da guerra da tríplice aliança.

A coroação como o maior soldado brasileiro de todos os tempos foi fruto de sua liderança refletida no arrojo, temperança e humildade demonstrados durante as revoltas insurrecionais com as quais o país, recém independente, teve que se bater.

Onde o império brasileiro corresse perigo lá estava a invencível espada de Caxias. Não para castigar pelo prazer de ver os derrotados curvados. Não para vingar afrontas de desviados figadais. Sempre para construir espírito de união que deveria amadurecer entre gente de mesmo sangue, tradições e ideais.

Abdicando de revisionismos históricos de moda que nascem e se evaporam conforme outra moda venha a surgir, Caxias sempre foi um homem do diálogo e a sua biografia sustenta o epíteto de “O Pacificador”.

Nelson Mandela

Mandiba – alcunha que os sul-africanos atribuíram a Mandela -, segundo seu biógrafo Richard Stengel, teve muitos professores em sua vida, mas o maior de todos foi a ignóbil prisão. Prisão que lhe ensinou autocontrole, disciplina e foco – qualidades que ele considerava essenciais à liderança -, que lhe ensinou, em consequência, como se transformar em um ser humano completo.

Na cela, na ilha de Robben, não havia espaço para um Mandela de 1,87 metro. Sequer ele podia se esticar quando estava deitado. Quando conquistou a liberdade, era óbvio que o cárcere o tinha moldado, literal e figurativamente: não havia ambiente para movimentos insignificantes ou emoções rasteiras.

Durante os 27 anos na masmorra, Mandiba ponderou não somente sobre política, mas também sobre como se comportar, como ser um condutor, como ser um transformador. E aprendeu que um líder não devia apenas liderar, devia ser visto liderando.

Caxias e Mandela foram e são inspiradores. Luzes que brilham como estrela de primeira grandeza. Nesse momento de desassossego diário do aniversariante precisaremos de lideranças semelhantes que se dispam das vaidades do poder e se afastem de rancores pretéritos para liderar pelo exemplo a nação ainda ressentida por anos de maniqueísmo ideológico.

O céu azul brilhante do 7 de setembro, emoldurado pelos ipês amarelos que florescem nesta época do ano em Brasília, gostaria de testemunhar o recomeço da caminhada do Brasil rumo a um futuro mais justo, sereno e promissor. E nós devemos crer que é possível.

Oxalá não seja mais uma crença inalcançável. Eles, Caxias e Mandela, a seu tempo e lugar, conseguiram iluminar o caminho.

FONTE: Folha de Pernambuco

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