Novo mecanismo, que unificará códigos e tecnologias, já deverá ser usado nas Olimpíadas em 2016, segundo previsão feita pelo Exército, que será o responsável pelo desenvolvimento do projeto
Pelo menos nove órgãos públicos vão passar a falar a mesma língua durante as Olimpíadas de 2016. O Sisnacc (Sistema Nacional de Comunicações Críticas), mecanismo que está sendo desenvolvido no país desde o ano passado, permitirá que toda a estrutura de segurança pública do país, que atuará em conjunto nos Jogos Olímpicos, use os mesmos códigos e os mesmos canais de frequência, facilitando a comunicação entre eles. Isso agilizará os entendimentos necessários para situações de emergência e que exijam ação coordenada de diferentes órgãos. Hoje, apesar de toda a tecnologia digital existente, o sistema de comunicação utilizada por esses órgãos ainda é analógica em dez estados do país.
O principal teste do novo sistema será no próximo ano, no Rio de Janeiro, durante as Olimpíadas. “Hoje, é como se fosse uma Torre de Babel. Cada um fala uma língua”, compara, em entrevista exclusiva ao Fato Online, o general Antonino dos Santos Guerra Neto, vice-chefe de Tecnologia da Informação do Departamento de Ciências e Tecnologia do Exército. “Agora, todos falarão na mesma faixa de frequência”, completa ele. Além da força e da Secretaria de Segurança Pública, estarão integrados ao sistema, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil); a SAC (Secretaria de Aviação Civil); as Polícias Federal, Militar e Civil; a Infraero; a Abin (Agência Brasileira de Inteligência); a Receita Federal; a FAB (Força Aérea Brasileira); a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), entre outros.
Segundo Santos Guerra, o sistema atual está mais sofisticado em relação ao que foi usado no Pan-americano de 2007, também no Rio, e da Copa do Mundo de 2014. O mecanismo começou a ser testado em 2013, durante a Copa das Confederações. Hoje está sendo operado de maneira experimental em 17 capitais em vários estados, como Minas Gerais, Goiás e Paraná, além do Distrito Federal. Mesmo assim, a interligação das comunicações entre os diversos órgãos públicos é pequena. A Anatel já disponibilizou uma frequência única para o Sisnacc.
Grandes eventos e grandes acidentes
A intenção é usar o sistema em tempo hábil – por isso o nome de comunicações críticas – em grandes eventos, acidentes ou em ações de segurança pública e de defesa, que exijam a presença de órgãos governamentais. Se as comunicações fossem compartilhadas em alguns casos, vários problemas poderiam ser evitados. Um deles foi durante o desastre com um avião da TAM, no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em julho de 2007. “Ninguém falava com ninguém”, diz Santos Guerra. Segundo ele, por falta de interligação entre os órgãos envolvidos no caso, houve caos no trânsito, no serviço de atendimento de saúde, do trabalho da Defesa Civil, entre outros.
Além de reduzir a vulnerabilidade nos serviços de comunicações, a intenção do Exército – que coordena o Sisnacc – foi diminuir os gastos e estabelecer uma política única para o setor. Um dos motivos é que o Brasil não produziu suas próprias tecnologias, e acabou ficando refém do mercado internacional. “Com isso, perdemos a possibilidade de termos um potencial econômico, que foi transferido para outros países”, observa o general, explicando que hoje a estrutura brasileira movimenta em torno de 1,5 milhão de rádios comunicadores.
Inviolabilidade
Santos Guerra explica que o sistema brasileiro também estava ultrapassado. “Estamos atrasados mais de 30 anos”, ressalta o vice-chefe. Ele lembrou que, em pelo menos 10 estados, os meios de comunicação dos órgãos ainda são analógicos. “Desta forma, não há segurança, não se protege a informação”, explica o general. Com isso, o sistema pode sofrer vazamentos, como aconteceu na semana passada, por exemplo, em Porto Velho. Oito pessoas foram presas por estarem fazendo interceptação dos rádios da Polícia Militar. O monitoramento era feito para verificar a existências de viaturas em locais que iriam assaltar.
O general explicou que o Sisnacc vai eliminar, ainda, grande quantidade de torres existentes pelo país. “Hoje são, pelo menos, 30 tipos de sistemas diferentes”, explica Santos Guerra. O novo esquema usará tecnologia 4G, que também impede a violação nas comunicações. Além disso, a comunicação conjunta terá maior velocidade no trafego de informações e, por serem criptografadas, reduzirá a vulnerabilidade no manejo dos dados.
Todo o controle será feito por uma central nacional e outros 12 CGRR, que são os Centros de Gerenciamento de Rede Regionais. Um deles será encarregado de monitorar todos os dispositivos.
FONTE: Fato Online