Por Michael Fabey
Enquanto os líderes da US Nvay (USN), ressuscitam o debate em torno da vulnerabilidade de seus porta-aviões, os apoiadores deste navio estão novamente divulgando o “leque” de diferentes missões que os mesmos podem executar. Michael Fabey relata esforços para manter a relevância dos Porta Aviões.
Embora os esforços da liderança da Marinha dos EUA tenham falhado no ano passado para reduzir a vida útil planejada do porta-aviões USS Harry S Truman (CVN 75) da classe Nimitz e reduzir a força de porta-aviões do país em pelo menos um navio, há poucas dúvidas de que a Marinha quer continuar nesse caminho, provavelmente com outra embarcação ainda nesta década.
É igualmente óbvio que o governo Trump e os membros do Congresso não desejam reduzir a quantidade de Porta Aviões. De fato, o objetivo declarado é aumentar a força de Porta Aviões para 12 do atual requisito legal de 11.
Para esse fim, alguns legisladores norte-americanos têm divulgado a capacidade dos Porta Aviões de realizar outras missões, particularmente, assistência humanitária e ajuda em desastres (HADR).
A maioria na comunidade de Porta Aviões prefere se concentrar na capacidade de combate dos navios para realizar ataques aéreos. No entanto, dado o pedido contínuo de reduções de força, mesmo pela liderança da USN, alguns defensores dos Porta Aviões estão vendo o maior benefício estratégico de ressaltar a capacidade de conduzir missões HADR e outras missões que podem se enquadrar em operações de emprego limitado da Força ou ações benignas (MOOTW na sigla em inglês).
O secretário interino da Marinha, Thomas Modly, deixou claras as intenções em relação à força de Porta Aviões quando falou no Centro de Avaliações Estratégicas e Orçamentárias (CSBA) em 29 de janeiro, durante o lançamento de seu relatório ‘Retomando os mares, transformando a Força de Superficie dos EUA para uma Guerra Centrada em Decisões’.
Enquanto a USN trabalha em sua nova avaliação integrada da estrutura de força, ele disse: “A grande questão no topo da lista são os Porta Aviões. Como será o futuro Porta Aviões? São meios realmente caros. ” Os porta-aviões da classe Ford serão “equipamentos incríveis”, disse Modly, mas também ressaltou que cada navio custa US $ 13 bilhões, sem incluir a ala aérea.
Mesmo um novo Porta Aviões como o USS Gerald Ford (CVN 78) é um alvo para os adversários, disse ele. “É mais vulnerável.” Além disso, investir todo esse dinheiro em uma plataforma não ajuda a USN a “obter a distribuição” que deseja para suas forças.
“Segundo o plano atual, não chegaremos a 12 Porta Aviões até 2065”, ressaltou. “Não sei o quão relevante é esse número [força de Porta Aviões]. Nós temos tempo.”
A comunidade de Porta Aviões também quer tempo para provar os novos sistemas, maior emprego de aeronaves e maior eficiência dos Porta Aviões da classe Ford, pelo menos até o quarto da classe, USS Doris Miller (CVN 81). A partir do CVN 82, disse Modly, a Marinha precisa repensar o “design” dos Porta Aviões.
A tripulação do Porta Aviões Ford concluiu o teste de compatibilidade de aeronaves (ACT) no Oceano Atlântico em 31 de janeiro, e a USN está preparando o navio para a certificação de vôo de sua ala aérea.
Falando aos repórteres a bordo do Porta Aviões durante os testes em 22 de janeiro, o comandante do navio, capitão JJ Cummings, disse que o mais importante era que o navio estava fora do estaleiro; está no mar, provando que pode lançar e recolher aeronaves e é capaz de operar como um Porta Aviões. Quanto à HADR e outras missões potenciais de MOOTW, o Porta Aviões está mais do que capacitado para a tarefa, disse ele.
“É importante. Se algo acontecer que exija nossa assistência, enviaremos nosso maior e mais importante meio para fornecer assistência. Não fomos programados para isso, mas podemos ajudar.”
Embora o Ford possa não ter sido projetado especificamente para operações HADR, sua configuração é mais do que flexível o suficiente para acomodar essas missões, disse o contra-almirante James Downey, vice diretor de programas de Porta Aviões da USN, em 22 de janeiro, durante os testes de ACT do Porta Aviões.
“Isso mostra a capacidade abrangente da plataforma”, disse ele. “Seja lançando ou recolhendo aeronaves, lançando armas ou navegando para ajudar outros navios e outras nações, esses navios são muito adaptáveis. Grande parte do navio é projetada dessa maneira. O navio foi projetado para ser reconfigurável conforme a missão. Não precisamos entrar no estaleiro para modificar o navio.”
Durante catastrofes anteriores, os Porta Aviões da classe Nimitz foram desdobrados para operações HADR com seus próprios meios orgânicos: 60 profissionais de saúde, incluindo o cirurgião do navio e cinco equipes odontologicas; uma sala de cirurgia; três leitos para unidades de terapia intensiva; 52 camas de enfermaria; um laboratório; serviços de raio-x e serviços de anestesia.
Os estrategistas navais observaram que, em um desastre real, esses tipos de instalações podem ser inadequados, mas atenderam muito bem.
Eles também sugeriram uma nova plataforma dedicada, um tipo de navio auxiliar, para esta função, mas essa classe de embarcação não teria o alcance e a capacidade de presença direta de um Porta Aviões.
A natureza relativamente onipresente dos Porta Aviões tornou-os “natural” para essas operações, de acordo com o Contra Almirante Downey. “Tornou-se relativamente rotineiro participar das operações de HADR”, disse ele. “Se você observar as comissões, fazemos isso regularmente, tudo o que um país anfitrião precisar.”
Os países estrangeiros precisam de ajuda de Porta Aviões dos EUA. O USS Abraham Lincoln (CVN 72) participou da Operação ‘Assistência Unificada’ em dezembro de 2004, após um terremoto e tsunami no Oceano Índico. Em janeiro de 2010, o USS Carl Vinson (CVN 70) liderou uma flotilha de navios para prestar assistência após o terremoto no Haiti. No ano seguinte, o USS Ronald Reagan (CVN 76) foi o principal navio da USN para a Operação ‘Tomodachi’ no Japão depois que os terremotos e tsunami causaram destruição maciça. Em outubro de 2016, o USS George Washington (CVN 73) entrou no Caribe para ajudar a lidar com as consequências do furacão Matthew.
Especialistas prevêem que as mudanças climáticas criarão mais e piores furacões ou outras tempestades maritimas no futuro. Um navio que certamente participará das missões de HADR após esses eventos será o segundo porta-aviões da classe Ford, o USS John F Kennedy (CVN 79), que ainda está em construção no estaleiro da Huntington Ingalls Industries, na Virgínia.
Discursando no batismo do John F. Kennedy em dezembro de 2019, o senador dos EUA Mark Warner observou: “Essas cidades flutuantes representam capacidades humanitárias e de auxílio a desastres incomparáveis”.
Falando à mídia após o batismo, Warner reconheceu que os Porta Aviões projetavam o poder dos EUA, mas observou que “eles também representam a compaixão americana”.
Essa “compaixão” ou pelo menos a aparência dela, pode ser tão eficaz no novo tipo de guerra sendo travada quanto as constantes manobras de uma poderosa ala aérea, afirmam os defensores dos Porta Aviões da USN. Além disso, a capacidade dos Porta Aviões de realizar tais missões continua sendo um importante argumento para legisladores como Warner e outros que decidem se os navios valem o custo.
Análise
A liderança da USN pode levar outros 10 a 15 anos para aprovar qualquer nova configuração ou projeto de Porta Aviões.
Conforme observado em um relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso em julho de 2019, foram realizados extensos estudos sobre se a Marinha deve adquirir porta-aviões menores. Os proponentes defendem seus custos reduzidos em comparação com navios de convés de grande porte, bem como o potencial de concorrência na construção de Porta Aviões. Os opositores dizem que os navios atuais podem empregar aeronaves e conduzir missões de maneira mais econômica.
Os defensores dos navios maiores também dizem que esses navios são mais resistentes do que os navios potencialmente menores.
Fonte: Janes Navy International
Tradução e adaptação: Marcio Geneve