Por Caline Galvão
O almirante-de-esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, comandante da Marinha do Brasil, está visitando todos os distritos navais do País e desde a noite de quarta-feira (29) está em Ladário conhecendo as atividades da Base Naval, os navios e o Grupamento de Fuzileiros Navais. Ele concedeu entrevista coletiva nesta quinta-feira e falou sobre a importância da Marinha através das ações cívico-sociais na região, a defesa da fronteira e comentou sobre os cortes orçamentários.
Leal Ferreira disse que está cada vez maior a participação da Marinha nas ações cívico-sociais e que o Estado chega às comunidades ribeirinhas através da Marinha do Brasil e de parcerias como a recentemente firmada entre o 6º Distrito Naval e a Prefeitura de Corumbá. “Nós percebemos que essa é uma maneira de darmos uma contribuição além da defesa da pátria, isso está na lei complementar que determinou a criação do Ministério da Defesa, organizou as Forças Armadas e deixou bem claro que cabe às Forças Armadas contribuir para o desenvolvimento, e essa é a nossa contribuição”, afirmou.
Com relação à potência hidrográfica da região, o comandante destacou que a hidrovia tem um potencial econômico muito grande e que pelo fato de o Brasil ser grande produtor e estar geograficamente muito afastado do resto do mundo e de grandes consumidores mundiais como China, Estados Unidos e a Europa, é preciso uma logística muito eficiente. “Para que nosso produto chegue lá de forma competitiva, é preciso uma logística eficiente e o papel da Marinha é garantir a segurança da navegação, o balizamento, que os navios estejam seguros e possam trabalhar dentro dos padrões internacionais, possam chegar aos portos e serem aceitos. Esse é um trabalho muito grande que a gente faz, essa é a nossa contribuição. A hidrovia eficiente e ajustada vai dar competitividade ao Brasil”, disse. “O Brasil agora vai retomar o presidência Pro Tempore do comitê na tentativa de reativar ainda mais a hidrovia”, completou.
Com relação à Operação Ágata, Leal Ferreira reconheceu que não é o suficiente para resolver os problemas transfronteiriços, mas auxiliou bastante e foi importante principalmente pela integração do trabalho conjunto entre todas as Forças Armadas com os outros órgãos federais do país, como Polícia Federal, Receita Federal e Polícia Rodoviária Federal.
Restrição orçamentária e diminuição de efetivo
O comandante da Marinha do Brasil falou também sobre a situação de restrições orçamentárias que estão passando as Forças Armadas, mas afirmou que o impacto no 6º Distrito Naval não foi tão grande, prejudicando mais a Esquadra, no Rio de Janeiro. “O que tira mais dinheiro da Marinha é a Esquadra no Rio de Janeiro, são os nossos submarinos, porta-aviões, os navios da escolta, então esses foram muito mais afetados, aqui é mais fácil fazer frente ao corte de recursos”, afirmou. De acordo com ele, o comando do 6º Distrito Naval tem conseguido administrar as finanças e superar as dificuldades advindas das restrições orçamentárias. “Quando a gente vê as viagens que os navios fazem, os atendimentos médicos, a contribuição que foi feita em parceria com o município de Corumbá, nós estamos hoje nos mesmos níveis do ano passado e em alguns aspectos até superiores, a despeito dos cortes orçamentários aqui nessa área”, garantiu.
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse em entrevista coletiva realizada no dia 18 de junho em Corumbá que a situação financeira das Forças Armadas estava sendo recuperada. Com relação a essa afirmação, Leal Ferreira respondeu ao Diário Corumbaense que a Marinha está começando a ver isso na prática. “Eu tenho visto, eu tenho muita esperança”, afirmou e explicou: “O que acontece é que a gente tem um orçamento, a gente tem autorização para gastar um determinado valor desse orçamento, mas depois tem que pagar o que gasta e estava faltando muito a parte financeira. Estávamos com muitas ‘dívidas’ na praça e em relação a isso, realmente, nos últimos meses, houve uma recomposição e pelo menos a Marinha hoje já não está com muitas dívidas. Agora nós temos que tomar cuidado para não gastar mais do que aquilo que nós estamos autorizados, então isso ainda representa uma dificuldade, mas pelo menos hoje já não devo aquilo que gastei no passado”, esclareceu.
Leal Ferreira frisou ainda que, por causa da situação orçamentária, o efetivo da Marinha do Brasil irá diminuir, mas ninguém será exonerado do cargo. “A gente tem que pensar nisso, realmente. Não estamos ainda efetivamente, mas diminuindo um pouco a captação. Nenhum concurso foi cancelado, até porque a Marinha funciona bem por causa dessa renovação permanente, agora estamos reduzindo o número de vagas nos diversos concursos, por exemplo, as Escolas de Aprendizes-Marinheiros até ano passado cada escola recebia 400 marinheiros por ano, vamos passar a receber 311, em média, são quatro escolas e recebíamos 1.600, esse ano vamos receber 1.200. O Centro de Formação de Oficiais do CIAW recebia cerca de 500 oficiais, vai receber em média 300. Está havendo uma redução, até porque o mundo hoje exige melhor emprego dos recursos humanos, ninguém vai ser despedido ou cortado da Marinha, mas aqueles que naturalmente vão saindo, a substituição não será na mesma quantidade”, afirmou.
A Marinha do Brasil tem uma área na região da Codrasa, em Ladário, onde deverá ser construído o Batalhão de Fuzileiros Navais, mas o projeto será adiado, também por causa das finanças. O comandante da Marinha disse que ainda há pendências legais a serem resolvidas com relação ao terreno e como o Grupamento de Fuzileiro Navais funciona bem, o projeto de construção do Batalhão deverá ser adiado por causa dos cortes no orçamento. “O principal é ter um grupamento que já existe e está operando bem, com competência, ele tem característica especial de saber operar muito bem militarmente no Pantanal. A mudança vai nos dar mais capacidade, vai melhorar nossa capacitação para operar no Pantanal, agora, isso tem que entrar em uma lista de prioridades em relação a outros problemas que enfrentamos. Com a atual restrição orçamentária, realmente não tem como colocar o grupamento lá, mas tão logo tivermos uma folga, o grupamento vai para lá porque vai aumentar ainda mais a possibilidade que ele tem de operar na região”, afirmou Leal Ferreira a este Diário.
FONTE:Diário online