Por Guilherme Carvalho
A dissuasão nuclear britânica, eixo central da defesa do Reino Unido, enfrenta desafios complexos, fruto de limitações estruturais, logísticas e de pessoal. Um exemplo recente foi o retorno ao porto de Faslane de um dos quatro submarinos da classe “Vanguard”, após uma patrulha recorde de mais de seis meses no mar. A embarcação apresentou sinais de desgaste considerável, com o casco danificado pela ação de algas e cracas, além da deterioração de suas placas anecóicas, projetadas para fornecer as capacidades furtivas da embarcação, o que evidencia o envelhecimento da frota britânica de submarinos balísticos nucleares (SSBN).
Nesse sentido, quais os impactos dessa deterioração sobre a segurança e as ambições do país? Seriam suficientes as medidas planejadas para sua resolução?
Atualmente, o Reino Unido opera duas classes de submarinos: a “Vanguard”, com quatro SSBN, e a “Astute”, com seis submarinos nucleares de ataque (SSN). Embora essa seja a maior força submarina da Europa, ela vem se encontrando sobrecarregada. Em 2021, o HMS “Victorious” registrou 207 dias no mar, ultrapassando em muito a média de 77 dias das patrulhas americanas. Esse prolongamento reflete a pressão sobre a força submarina britânica, que tem enfrentado dificuldades para cumprir suas missões de dissuasão e vigilância, essenciais para a segurança nacional.
A escassez de submarinos operacionais e a infraestrutura ultrapassada agravam o cenário. A substituição dos submarinos “Vanguard” pela classe “Dreadnought”, prevista para os próximos anos, terá um custo estimado de US$ 39,9 bilhões, abrangendo design, construção e testes. Também serão necessários investimentos substanciais na modernização dos estaleiros britânicos, fundamentais para construção e manutenção eficientes dessas novas embarcações.
A classe “Dreadnought” introduzirá tecnologias avançadas, maior autonomia operacional e sistemas baseados em inteligência artificial, com uma tripulação de aproximadamente 130 pessoas por embarcação. Contudo, a previsão de construção de apenas quatro submarinos dessa classe nos próximos 15–20 anos muito provavelmente será insuficiente para atender às necessidades estratégicas do Reino Unido. Ademais, vale ressaltar que o país enfrenta um dilema estratégico: apesar de aspirar a uma posição de liderança global, a realidade econômica e militar atual do Reino Unido não sustenta tais ambições.
As ameaças crescentes próximas, como o conflito russo-ucraniano e a tensão nas rotas comerciais do Oriente Médio, evidenciam o Atlântico Norte como uma possível área de atenção para se garantir a segurança regional. Observa-se que há planos de investimento para combater os desgastes, mas ainda é incerto se serão suficientes.
Parece ser um caminho o foco na segurança regional, enquanto se busca superar desafios que permitam se apostar em submarinos modernos, que garantiriam a dissuasão nuclear e manteriam a relevância estratégica internacional de Londres.
FONTE: Boletim GeoCorrente