É preciso assegurar que projetos prioritários não venham a ser atingidos, sob pena de interrupção e atraso em áreas estratégicas para a evolução da indústria bélica e o desenvolvimento tecnológico nacional. Esse é o caso do jato militar de transporte KC-390, da Embraer, com capacidade de 23,6 toneladas de carga (tanques, artilharia), e que serve também para o transporte de tropas e reabastecimento em voo, que deve decolar pela primeira vez no ano que vem. É ele destinado a concorrer com os Hércules C-130 da Lockheed norte-americana, do programa do KC-390, de que tomam parte também Argentina, Colômbia, Chile, Portugal e República Tcheca, que deverão fornecer peças, e adquirir a aeronave, em um número inicialmente previsto de 60 aviões.
O Prosub (Programa de Submarinos da Marinha) também não pode ser interrompido. São quatro unidades convencionais, e uma atômica — o reator nuclear será desenvolvido aqui mesmo — mais a construção de uma base e de um estaleiro no Rio de Janeiro.
Temos, ainda, o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras), que exige também o desenvolvimento de vários equipamentos, como novos radares, unidades de artilharia e veículos aéreos não tripulados (Vants); a família de blindados leves Guarani, e o programa de defesa cibernética.
O país passou anos sem investir em defesa. O governo estabeleceu, nos últimos anos, um novo projeto para o setor, com um arcabouço mais estruturado, e criou a figura da empresa estratégica de defesa — certificando 26 delas, na semana passada. Interromper os programas que já estão em andamento traria prejuízo financeiro, técnico e estratégico para o país.
No Congresso Nacional, há deputados da base aliada e do próprio partido do governo que estão trabalhando para reverter a situação — que prevê cortes no custeio das Forças Armadas — já debilitadas em diversas áreas. A Marinha está estudando cortar um dia de trabalho da tropa para se adequar.
Enquanto isso, os golpistas de sempre — que desprezam igualmente o PT e o PSDB, e a “democracia que aí está” — comemoram, na internet, mais essa bandeira, dada pelo próprio governo, e se valem do anúncio dos cortes para provocar grupos radicais de direita — alguns deles ligados a segmentos minoritários da reserva das Forças Armadas — jogando-os, mais uma vez, contra o poder civil.
Fonte: Jornal do Brasil – Mauro Santayana